A mulher no candomblé

A MULHER NA HIERARQUIA DO CANDOMBLÉ NA CONTEMPORANEIDADE.

Yá Dolores Lima – cetrab

Sexo e Gênero numa abordagem Psicológica.

Os seres humanos são reflexivos e criadores de cultura constituem-se em sociedade e, toda sociedade possui um sistema de gênero: um conjunto de rearranjos através dos quais a sociedade transforma aspectos biológicos em produto da atividade humana. Este sistema incluirá vários componentes, entre outros, a divisão sexual do trabalho e definições sociais para os gêneros e os mundos sociais que estes conformam. A visão de gênero como construção cultural e histórica implica tratar com categorias simbólicas, cujas características principais são dar prioridade à interpretação construída em uma dialética entre o dado concreto e o esquema explicativo; na centralidade dos símbolos e dos diversos fatores que podem influir em sua leitura, como por exemplo, o lugar e o momento, se é uma leitura individual ou coletiva. Através da capacidade humana de criar e manipular símbolos, o sistema simbólico vem a ser condição e conseqüência da interação social. O conceito de gênero constituído culturalmente deve ser debruçado, pois abre uma brecha no conhecimento sobre mulher e homem. Para além das diferenças individuais, é importante salientar as intervenções sociais que tem como objetivo fundamental à erradicação de situações e condições geradoras de desigualdades. A questão da hierarquia de gênero Descreve uma situação na qual o poder e o controle social sobre o trabalho os recursos e os produtos são associados à masculinidade. Até recentemente, o patriarcado era prevalecente na hierarquia de gênero na civilização ocidental. Hoje, todavia, a forma é modificada. O poder social agora é identificado como atributos considerados como masculinos. Pessoas do sexo masculino ou feminino podem desempenhar papéis, através dos quais o poder pode ser exercitado, mas eles permanecem como papéis masculinos. Em virtude de serem simbolicamente masculinos, a discriminação contra a mulher gerada por estes papéis recebe reforço ideológico. Num contexto de acomodação da mulher pode-se supor que o ideal é que cada um cumpra o seu papel. Variação de gênero nas culturas As diferenças entre sociedades onde o gênero é central à produção econômica e aquelas onde é secundário refletem nas diferenças em todas as estruturas de autoridade. Em algumas sociedades, chamadas de “primitivas” ” eu diria tradicionais ” a propriedade é considerada comum a todos participantes daquela sociedade as quais em geral se consideram parentes. Embora a autoridade social possa variar, podendo ser igualitária ou estratificada, o que tem em comum é a ausência de separação entre o público e o privado. Subordinação e forma expressas Envolve dependência sistemática, sendo o grupo subordinado ativo ou não em tarefas produtivas Uma das teorias sobre a hierarquia de gênero fala do homem caçador. De acordo com esta visão, a cerca de dois milhões de anos atrás, nossos ancestrais tinham sua subsistência garantida pela caça. Os homens eram encarregados da caça e as mulheres dependiam dos homens para conseguir carne. Simbolicamente esta teoria persistiria ainda hoje. Homens continuam a serem incentivados a desenvolver sua agressividade com vistas à garantia deste papel e as mulheres incentivadas a submeterem-se a este jogo. O candomblé e suas relações de gênero É fato que os quilombos, por exemplo, eram chefiados por homens mas, as mulheres sempre exerceram o papel de relevância nestas comunidades. Mesmo em África, o papel de comerciante é da mulher. A construção do universo consensual do candomblé passa pelo contexto histórico do povo africano na diáspora brasileira fazendo rearranjos de sua cultura e de sua estrutura social. Surge como uma forma de manutenção da cultura de matriz africana e se deflagra como um dos pontos de resistência e, neste contexto histórico as mulheres encontravam-se em ambiente mais propício que os homens para cumprir este papel. Dos seus lugares de atuação; na casa grande, ao lado da sinhá, cuidavam de criar espaços para as manifestações culturais-religiosas de seu povo. Nem discriminada nem privilegiada. Os condicionantes históricos colocaram a mulher num espaço de poder em que ela soube e sabe partilhar com os homens. Na contemporaneidade, o sentido de preservação e o cuidado com a manutenção da relação de paz entre os membros da sociedade/comunidade egbé é fator condicionante para harmonização da atmosfera de convivência e como elemento propiciador da religação do ser com seu ancestre. Com vistas a preservar aspectos sociais internos, no egbé, ações externas são tomadas pelas mulheres a exemplo da sua participação no Seminário Nacional de Mulheres Negras – São Paulo ” 28, 29 e 30 de Maio de 2004.

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