Lendas de Obaluaye

 

Meus irmãos de religião, nosso objetivo é trazer informações a cerca de diversos assuntos.

Não podemos aqui falar de um único Axé. Não seria ético afirmar que se trata de material de um ou de outro Axé ou querer apontar um único caminho, presumivelmente correto.

Podem haver diferenças entre o exposto aqui e aquilo que é feito/dito ou praticado no seu Axé. Por isso indico que procure se certificar destas informações na sua Casa com seus mais velhos.

O diferente não é errado, só diferente. Axé, Tomeje.

Lendas de Obaluaye

Xapanã ganha o segredo da peste na partilha dos poderes

Olodumare, um dia decidiu distribuir seus bens.
Disse aos seus filhos que se reunissem e que eles mesmos repartissem entre si as riquezas do mundo. Ogum, Exu, Orixá Ocô, Xangô, Xapanã e os outros orixás deveriam dividir os poderes e mistérios sobre as coisas na Terra.

Num dia em que Xapanã estava ausente, os demais se reuniram e fizeram a partilha, dividindo todos os poderes entre eles, não deixando nada de valor pra Xapanâ. Um ficou com o trovão, o outro recebeu as matas, outro quis os metais, outro ganhou o mar. Escolheram o ouro, o raio, o arco-íris; levaram a chuva, os campos cultivados, os rios.

Tudo foi distribuído entre eles, cada coisa com seus segredos, cada riqueza com o seu mistério. A única coisa que sobrou sem dono, desprezada, foi a peste. Ao voltar, nada encontrou Xapanã para si, a não ser a peste, que ninguém quisera.

Xapanã guardou a peste para si, mas não se conformou com o golpe dos irmãos. Foi procurar Orunmilá, que lhe ensinou a fazer sacrifícios, para que seu enjeitado poder fosse maior que o do outros. Xapanã fez sacrifícios e aguardou.

Um dia, uma doença muito contagiosa começou a espalhar-se pelo mundo. Era a varíola. O povo, desesperado, fazia sacrifícios para todos o orixás, mas nenhum deles podia ajudar. A varíola não poupava ninguém, era uma mortandade. Cidades, vilas e povoados ficavam vazios, já não havia espaço nos cemitérios para tantos mortos. O povo foi consultar Orunmilá para saber o que fazer. Ele explicou que a epidemia acontecia porque Xapanã estava revoltado, por ter sido passado para trás pelos irmãos. Orunmilá mandou fazer oferendas para Xapanã. Só Xapanã poderia ajudá-los a conter a varíola, pois só ele tinha o poder sobre as pestes, só ele sabia os segredos das doenças.

Tinha sido essa sua única herança. Todos pediram proteção a Xapanã e sacrifícios foram realizados em sua homenagem. Aepidemia foi vencida.
Xapanã então era respeitado por todos. Seu poder era infinito, o maior de todos os poderes.

Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001

 

Obaluaê conquista Daomé

Um dia Obaluaê saiu com seus guerreiros, ia em direção à terra dos mahis, no Daomé. Obaluaê era conhecido como um guerreiro sanguinário, atingindo a todos com as pestes, quando estes se opunham a seus desejos.

Os habitantes do lugar, quando souberam de sua chegada, foram em busca de ajuda de um adivinho, ele recomendou que fizessem oferendas, com muita pipoca, inhame pilado, dendê e todas as comidas de que o guerreiro gostasse, pipocas acalmam Obaluaê, disse que seria aconselhável que todos se prostrassem diante dele, assim o fizeram.

“Totô hum! Totô hum! Atotô! Atotô!”

“Respeito! Silêncio!”

Obaluaê, satisfeito com a sujeição daquele povo, os poupou declamou que a partir daquele dia viveria naquele reino, assim o fez e em pouco tempo o país tornou-se próspero e rico.

Obaluaê recebeu nas terras mahis o nome de Sapatá, mesmo assim era preferível chamá-lo de Ainon, senhor das Terras, ou Jeholu, senhor das pérolas.

Esses diferentes nomes foram adotados por famílias importantes, mas infelizmente provocaram desentendimentos entre elas e os reis do Daomé. Muitas vezes as famílias de Sapatá foram expulsas do reino e, em represália, muitos reis daomeanos morreram de varíola.

Tanta discórdia provocou seu nome, que hoje ninguém sabe mais qual o melhor nome para se chamar Obaluaê

 

Omulu ganha pérolas de Iemanjá

Omulu foi salvo por Iemanjá quando sua mãe, Nanã Burucu, ao vê-lo doente, coberto de chagas, purulento, abandonou-o numa gruta perto da praia.

Iemanjá recolheu Omulu e o lavou com a água do mar, o sal da água secou sua feridas, Omulu tornou-se um homem vigoroso, mas ainda carregava as cicatrizes, as marcas feias da varíola.

Iemanjá confeccionou para ele uma roupa toda de ráfia, e com ela ele escondia as marcas de suas doenças, ele era um homem poderoso, andava pelas aldeias e por onde passava deixava um rastro ora de cura, ora de saúde, ora de doença, Mas continuava sendo um homem pobre.

Iemanjá não se conformava com a pobreza do filho adotivo, Ela pensou:

“Se eu dei a ele a cura, a saúde, não posso deixar que seja sempre um homem pobre”. Ficou imaginando quais riquezas, poderia da a ele.

Iemanjá era a dona da pesca, tinha os peixes, os polvos, os caramujos, as conchas, os corais, tudo aquilo que dava vida ao oceano pertencia a sua mãe, Olocum, e ela dera tudo a Iemanjá.

Iemanjá resolveu então ver suas jóias tinha algumas, mas enfeitava-se mesmo era com algas, ela enfeitava-se com água do mar, vestia-se de espuma, ela adorava-se com o reflexo de Oxu, a Lua.

Mas Iemanjá tinha uma grande riqueza e essa riqueza eram as pérolas, que as ostras fabricavam para ela. Iemanjá, muito contente com sua lembrança, chamou Omulu e lhe disse:

“De hoje em diante, és tu quem cuidas das pérolas do mar. Serás assim chamado de Jeholu, o Senhor das Pérolas”.

Por isso as pérolas pertencem a Omulu, por baixo de sua roupa de ráfia, enfeitando seu corpo marcado de chagas, Omulu ostenta colares e mais colares de pérola, belíssimos colares.

Notas bibliográficas
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001

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