O HUNKỌ: Texto Pai Marcio de Jagum

O HUNKỌ:

“Hunkọ”  é uma palavra fon correspondente à expressão yorubá “Ilè Àṣẹ”, que significa quarto sagrado de iniciação, no idioma ewe-fon. É o nome dado ao aposento destinado ao recolhimento daqueles que serão iniciados no Candomblé, ou àqueles já iniciados que cumprirão suas Obrigações periódicas.

Portanto, só podem ingressar neste pavimento, aqueles que já passaram pelo orô (segredo).

Na maioria das Casas de Tradição, mesmo os iniciados não podem participar de Obrigações alheias realizadas dentro do Hunkó. Apenas terão este direito, os que já possuem razoável tempo de iniciação (geralmente a partir da realização da Obrigação de 5 anos).

Normalmente o Hunkó é construído em anexo ao Salão (espaço para as cerimônias públicas), de forma a facilitar o acesso e os cuidados aos recolhidos, bem como favorecer o ingresso e a saída dos Orixás ao salão nos dias de festas.

A disposição física do Hunkó assemelha-se a um quarto simples, com janelas pequenas que sirvam para a ventilação do ambiente, mas que não permitam o contato dos que estão recolhidos com o exterior e vice versa.

No passado os Hunkós não dispunham de banheiro, mas na atualidade este conceito já foi superado.

O propósito deste quarto é servir ao desapego mais completo possível do neófito à vida externa, ao luxo, às preocupações, ao sexo, à violência, à vaidade, aos vícios e ao individualismo. Por isso o Hunkó deve constituir um ambiente higiênico; porém simples, desprovido de pisos requintados, cores fortes e de elementos como ventiladores, ar condicionados, rádios, televisões, computadores, revistas, jornais, livros, telefones, cigarros, bebidas, etc. Nem mesmo é permitido que qualquer pessoa ingresse calçada.

O Hunkó é um espaço sagrado de entrosamento entre o Homem, seu Orí e seu Orixá. Durante o período de recolhimento, os neófitos não saem do Hunkó, assim como somente os responsáveis pela criação do mesmo adentram no quarto.

Essa ambiência especial, não é sem propósito. Ela permite o despertar da sensibilidade mais profunda do Ser Humano. Faz com que todos compreendam o valor do bem estar externo, e também a capacidade que todos temos de viver sem ele. Nos ajuda a valorizar a importância da solidariedade, da dependência e a responsabilidade que a independência nos faculta. Permite que nos vejamos e nos percebamos como somos realmente somos, sem os artifícios da vaidade: sem perfumes, sem belas roupas, nem penteados…

No Hunkó, durante o período de recolhimento, aprendemos a ter paciência e controle conosco, com os outros, com nossos anseios, com nossa fome, com nossos desejos.

O recolhimento é uma oportunidade única que se tem de reflexão pura, sincera, pessoal, desprovida de artifícios que desviem nossa atenção e que possam servir de fuga para esta reciclagem. Em que outra oportunidade terá o Homem 21 dias para pensar em sua existência? Para avaliar seus feitos, suas omissões, seus anseios? Seus amores? Seus ódios? Seus medos?

Este exercício espetacular nos aproxima de nós mesmos, da nossa verdadeira essência, da nossa natureza e da natureza que há em nós. E ao nos aproximarmos da natureza, encontramos nosso Orixá. Daí nasce o Omo Orixá, deste mergulho renasce o Homem.

Por isso o Hunkó representa o útero. Ali entram os abiãns (os que nascem com dúvidas) para serem iniciados na Religião e tornarem-se iyawôs (noivas, noviças do Orixá).

A iniciação no Candomblé, que se passa dentro do espaço sagrado do Hunkó, propõe o renascimento, o privilégio de reiniciar a vida no curso da própria existência, corrigindo erros, refazendo planos, conciliando sentimentos, valorizando amores, despertando novas concepções e sobretudo, perpetuando o culto aos Orixás.

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Márcio de Jagun

11/5/13

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