O dia mais feliz da minha vida

Hoje é o dia mais lindo da minha vida. Foram tanto anos de espera – encontros e desencontros, mas o grande amor da minha vida abrolhara! Disse-me que há muito tempo me observava e que era capaz de adivinhar até mesmo os meus pensamentos, devido a tanto tempo de observação. Ele tinha olhos grandes que brilhavam tal qual a lua cheia. Tinha uma pele negra, macia e úmida. Um perfume à base de folhas frescas inebriante. Eu logo me apaixonei! Quis tocá-lo, beijá-lo, mas fora em vão tais desejos. Ele me disse que para tudo na vida existia um tempo determinado e que o não respeitar deste tempo era imaturidade e falta de sabedoria. Eu que sempre quis as coisas ao meu modo, ao meu jeito, dessa vez me vi refém de um tempo que era indiferente aos meus caprichos. Um tempo esnobe e independente que não negociava com humanos.

Todos os dias, o meu amor vinha me visitar:
Às vezes chegava embalado num vento diferente,
Às vezes vinha pelos caminhos do mar,
Às vezes abeirava-se no romper da trovoada,
Às vezes vinha abrindo caminhos nas matas,
Às vezes me acenava lá da encruzilhada, dizia que acabara de chegar;

Eu achava muito lindo, quando ele chegava trazendo a chuva ou o arco íris. Meu amor era engraçado, às vezes vinha acompanhado de muitos pássaros; mas eu gostava mesmo quando ele me visitava em sonhos, porque daí me levava para conhecer outros mundos e nesses lugares o tempo era outro.

Muitas coisas mudaram desde então

Eu me esforçava para controlar a ansiedade e rapidamente aprendi a dar valor ao tempo de cada coisa. Hoje eu já conseguia parar para ver o desabrochar das rosas, já tinha paciência para ver a abelha fazendo o mel ou o joão-de-barro fazer a sua casa. Ao perceber tais mudanças, o meu amor pediu-me em casamento. Muito religioso, disse-me que Deus acabara de dar o aval para a nossa união. Fiquei feliz! Mas já não tinha espaço para ansiedade em meu interior. Na verdade, hoje, compreendia o quão importante fora todo este tempo, pois a cada visita do meu amor, Ele me ensinava sobre a nobreza dos bons sentimentos, sobre a beleza em ter um bom caráter e de cultuar bons princípios. Pude perceber que o egoísmo, o medo, o ciúme, o orgulho eram demasiadamente pesados e desnecessários na vida de qualquer pessoa.

O meu amor pediu para que eu ficasse calma, que já tinha cuidado e preparado tudo. Encaminhou-me para casa da mãe dele. Não era sua mãe carnal, mas de criação e, o mesmo, tinha enorme carinho por ela.

A casa era simples e por ser simples, era linda demais. O chão era de terra e tinham árvores por todo lugar. Uma casa toda branca que ficava ainda mais iluminada quando a noite caia e o brilho das estrelas desenhavam sombras sobre as paredes.

A mãe do meu amor era uma senhora negra, gordinha e dona de um sorriso encantador. A casa era bastante movimentada, muitos filhos, netos e cada qual tinha uma função. Senti-me em casa. A mãe me acomodou num quartinho simples e todos os dias falava verdades da vida para mim. Contava-me histórias do meu amor: como ele era, o que ele gostava de comer, o que ele admirava nas pessoas, me contava às coisas que poderia deixa-lo triste e disse-me para ficar calma, que Ele estava muito apaixonado por mim, que na verdade me amava e que iríamos ser muito felizes. Foram dias de muito aprendizado. Eu saia pouco do quarto; era muito paparicada. Ali eu comia, ali cantavam para mim, ali eu dormia, ali eu sonhava, ali eu me emocionava e chorava muito. Não entendia o porquê estava tão emotiva, acredito que era pela proximidade da cerimônia. Só achava estranho que desde que eu entrei na casa da mãe do meu amor, Ele nunca mais me visitou. Perguntava para as pessoas e eles não explicavam direito. A mãe falou que ele estava sempre lá, mas que estava resolvendo as coisas do cerimonial e muitas vezes quando aparecia no quarto para falar comigo, eu estava dormindo. Era bem interessante mesmo. De manhã bem cedinho, a mãe e outras filhas, pediam ago! E entravam no quarto, me davam banho, cantavam para mim (eu fui muito bem tratada), e curiosamente quando elas cantavam eu sentia um sono repentino e dormia; acho que o meu amor deveria ter ido me visitar num desses momentos pela manhã que eu estava dormindo.

Bom, eis que o dia chegou! Nossa, estava tão emocionada, tão bem cuidada, tão feliz. Estava curiosa para saber o modelo do meu vestido, a ornamentação do salão, os docinhos, a comida que seria oferecida e principalmente como estaria lindo o meu noivo. Eu só conhecia a joia que fora me dada pela mãe e que desde sempre esteve em meu pescoço, era linda, diferente. Mas eu aceitei deixar tudo nas mãos da família do meu amor, confiava neles. Estava tão apaixonada que nem liguei em ter que cortar os cabelos para a cerimônia, pois era tradição secular da família do meu amor.

Uma das netas da mãe do meu amor, me fuxicou que a casa estava linda e muito enfeitada. Pediu para que eu guardasse esse segredo, para que a mãe não brigasse com ela. Tive um dia de princesa. Eram várias pessoas no quarto cuidando de mim. E eu com um sono absurdo. Volta e meia eu apagava, um cochilo fora de hora que me irritava às vezes, mas estava feliz demais para me aborrecer. O banho, apesar de frio, foi o mais gostoso que já tomei em minha vida. A mãe preparou um banho especial com folhas e outras coisas que não me fora permitido saber.

A noite caiu!
Eu estava linda! Fresquinha como o mais delicado algodão. Perfumada como a mais pura alfazema.
A minha maquiagem fora feita com uma espécie de pó branco que parecia talco de bebê.
A porta do quarto se abriu,
Eu me assustei!
A mãe entrou com trajes lindos.
E com ela, algumas filhas e netas.
Elas começaram a cantar e a olhar para mim,
Neste momento fogos iluminaram o céu,
Eu adormeci… Mas tudo entendi:
Hoje eu noivava com a minha harmonia e com o meu equilíbrio interior,
Hoje uma nova página estava sendo escrita em minha vida,
Hoje eu noivei com o meu òrìsà,
Tornei-me Iyawo.

Texto: Ifadeyin Fakolade – Barravento

 

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