Ilê Axé Opô Afonjá celebra 40 anos do matriarcado de Mãe Stella de Oxóssi O terreiro também comemorou os 80 anos da Sociedade Cruz Santa, sua instituição mantenedora

Quatro décadas à frente de um dos terreiros mais importantes do Brasil, doutora honóris causa da Universidade Estadual da Bahia (Uneb) e integrante da Academia de Letras da Bahia, na cadeira de Castro Alves. Esse é o currículo de Maria Stella de Azevedo Santos, 91 anos, conhecida como Mãe Stella de Oxóssi. Seu terreiro decidiu juntar a comemoração de seu matriarcado com a fundação da Sociedade Cruz Santa do Ilê Axé Opô Afonjá, a entidade civil mantenedora do terreiro. Uma programação especial foi pensada para esta terça-feira (8) na sede do terreiro, em São Gonçalo do Retiro.

Pela manhã, a professora Vanda Machado fez uma conferência apresentando a história da mãe-de-santo e de seu matriarcado. “Foi uma fala de gratidão, estou aqui há 30 anos. Quis falar de coisas bonitas, agradecer pelo axé, determinação e a formação passada por Mãe Stella”, comenta Machado, que é filha-de santo do terreiro. “Ela produziu um legado de amor”, completa.

À tarde, organizações do terreiro como a Escola Municipal Eugênia Anna dos Santos, o Museu e Biblioteca Afonjá e a Tecelagem Alaká fizeram apresentações culturais. Depois, o sociólogo Muniz Sodré, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), realizou uma conferência sobre a importância de um terreiro de candomblé.

“Em face de uma sociedade global em que as instituições vivem um momento de desagregação, o terreiro é uma reserva ética”, afirma Sodré, um dos obás do Opô Afonjá, espécie de conselheiros da casa. “Existe aqui uma estabilidade institucional, vinda do culto aos orixás e da preservação do axé, que é o poder de fazer”, completa.

Sociedade
A Sociedade Cruz Santa do Ilê Axé Opô Afonjá foi aberta em 8 de novembro de 1936, por Mãe Aninha, a fundadora do terreiro – que data de 1910. Foi uma maneira de registrar ao terreiro no cartório, após resistência dos funcionários. A sociedade tem ainda outra função, como conta seu presidente, Ribamar Daniel.

“A sociedade é a entidade civil mantenedora do terreiro. É dirigida por homens. Tem também a finalidade de nunca deixar o terreiro se fechar por possíveis problemas de sucessão. É como se fosse a guardiã do terreiro”, explica Ribamar, Obá Odofim da casa.

Parceria
A celebração marcou ainda o início de uma parceria de cinco anos com a Uneb, através da Assessoria de Projetos Interinstitucionais para a Difusão da Cultura (Apidic). “É o primeiro acordo formal entre a Uneb e o Ilê Axé Opô Afonjá. Inicialmente vamos catalogar, sistematizar e divulgar a documentação da Sociedade Cruz Santa. Também vamos ajudar a organizar a Biblioteca Afonjá”, conta Gildeci Leite, coordenador da Apidic.

“Entendemos nossa participção enquanto coadjuvantes. Se formos pensar em idade, a ‘Universidade Afonjá’ existe há 106 anos. A Uneb, há 36. Aqui também é um lugar de produção e difusão do conhecimento”, salienta Leite.

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