Benim: Suas histórias e lendas.

BENIM:

Era o povo edo que ocupava a região a oeste do rio Níger. Eram vizinhos dos ibos e dos iorubás.

Escavações arqueológicas na atual cidade do Benim, revelaram que no passado, ali havia inúmeros povoados, separados por muros de terra socada, como se fossem favos de mel. Isto porque as aldeias foram se juntando em busca de apoio militar mútuo contra os inimigos, mas mantendo sua autonomia política e sua própria estrutura social.

O Benim era um desses pequenos vilarejos. Mas com o passar do tempo, pelos idos de 1400, o reino do Benim se impôs sobre os outros, seja por alianças ou por conquistas, chegando ao total aproximado de 6.500km2

Começava a dinastia dos ogiso de Benim: os “reis do céu”. Houve 31 ogiso. O primeiro foi  Igodo, pai de Ere. E o último, teria sido Ouodo. O pior de todos os ogiso. Foi deposto do cargo e banido do Benim, devido a sua má administração e crueldade.

A sucessão foi tumultuada e os edos resolveram recorrer a Odudua, o oni de Ifé, para que este indicasse o ogiso do Benim. E este, determinou seu neto Oraniã para o Benim.

Oranian instalou-se fora da cidade e casou-se com Erunuide, com quem teve um filho por nome Eueca.

Oraniã desgostou-se do lugar, devido às constantes brigas tribais. Resolveu partir de volta a Ifé, deixando como sucessor seu filho Eueca, sob os cuidados de seu amigo Ogiefa, que seria tutor do novo rei.

Eueca manteve a tradição de sempre buscar em Ifé a chancela de apoio aos reis do Benim. Antes de Eueca morrer, ordenou que seus restos mortais fossem levados para Ifé. Segundo a lenda, era enviada a cabeça do rei morto e de Ifé vinha uma cabeça de bronze.

Após a nomeação do novo rei, os benins remetiam o nome a Ifé, para que de lá fossem encaminhados adereços ao novo ogiso, legitimando assim seu reinado. Essa tradição perdurrou até o século XIX (1888).

Apesar de Oraniã ser um iorubá, irmão dos reis de Owo, Oyó, Savé e Ketu, entre outros tantos estados, ali no Benim a estrutura das monarquias divinas desses reinos do iorubo desenvolveu-se diferente. Euaca era um edo e não um iorubá.

A atividade agrícola no Benim sempre foi fraca. A terra não tinha muita fertilidade. Cultivava-se apenas o básico para subsisência: inhames, noz de cola, feijões, algodão e melão.

Já o comércio, foi o grande estopim do crescimento  beniniano. Sua localização era prvivilegiada. os mercadores de peixe seco e sal, passavam por ali sua rota, direcionando-se para as savanas ao norte. Já do interior para o litoral, vinham os vendedores de legumes e animais.

Cruzando a cidade, de leste a oeste, havia também a rota dos que atravessavam as florestas, o cerrado e as lagoas (entre os rios Volta e  Níger), trazendo e levando tecidos, contas, cobre, geralmente de origem no Congo.

Por isso o Benim solidificou-se como um grande empório comercial de produtos variados, dos mais raros, ao mais cotidianos. E o rei do Benim monopolizava o comércio com os estrangeiros.

O comércio era tão intenso, que foram até criadas moedas para facilitar as transações: barras e arames de cobre, cauris, barras de ferro em forma de arco.

Tudo se encontrava no Benim: índigo para tinturas, seguis  fabricados em Ifé, as contas de coralina proveninetes do Benué, os tecidos da Ibolândia…

Devido ao comércio, o Benim se expandiu não só em riquezas, mas também em território. Os filhos do rei e dos grandes comerciantes, acabaram migrando para outras cidades, devido aos negócios e acabaram fundando colônias distantes.

A expansão militar do Benim ocorreu sempre em função da busca do controle das rotas comerciais e de locais estratégicos, como Onitsha, Aboh (nas terras ibôs), Eko (no iorubo), os portos fluviais dos igalas e os embarcadouros marítimos dos ijós.

Essa expansão ajudou a consolidar o reino do Benim e a fortalecer o rei em seus poderes divinos e sobreanos.

Contudo, nem sempre esse processo se mostrou fácil. Guerras de reconquista e rivalidades também abalaram a estrutura do poder no Benim.

Após 25 anos de reinado de Oem, filho de Oguola, descobriu-se que ele estava paralítico das pernas. Tal fato era inaceitável, pois acreditava-se que um rei doente refletiria suas mazelas ao povo abalando sua prosperidade.

Quando sua doença foi descoberta, um dos chefes mandou matar o obá, provocando uma grande revolta em todo o reino.

Os filhos de Oem (Orobiru e Egbeca). Orobiru assumiu o reino, mas sua sucessão foi tutultuada. Antes de sua morte, seus filhos Ogum (o herdeiro e primogênito) e Uvaifiocum foram banidos.

Reza a lenda que Ogum enviou o irmão mais novo à cidade para saber se o povo o queria. Mas Uvafiocum teria mentido dizendo que não sabia do paradeiro do irmão. Sendo assim empossado rei.

Ao saber do fato, Ogum revoltou-se e marchou contra o traidor e o matou. Deu-se então um banho de sangue com a morte de todos os apoiadores do usurpador. Grande parte da cidade foi queimada e saqueada.

Ogum, o novo obá do Benim, adota o nome de Euare e provoca inúmeras modificações políticas no reino. Ogum era um rei centralizador, que pouco ouvia o conselho.

Obsecado por aniquilar e identificar seus opositores, Ogum obriga seus apoiadores, chefes e respectivos herdeiros a fazerem escarificações no corpo, a fim de identificá-los diferenciando-os dos estrangeiros e dos escravos.

Ogum mandou construir a famosa muralha em torno da capital, com 11.600m de circunferência, ladeada por um fosso que contava cerca de 17 m do seu fundo até o topo do muro.

Quando Ogum Euare morre, o Benim já conta cerca de 385km de leste a oeste e sua capital já seria a maior cidade do Golfo do Guiné.

Pelo final de 1500, o holandês Dierick Ruyters, descreve a rua central da capital do Benim, como sendo sete ou oito vezes mais larga do que a avenida Warmoes, uma das principais de Amsterdã.

A partir do século XVII, pelos idos de 1600, os portugueses criaram entrepostos no litoral do Benim, especificamente para venda dos negros como escravos, principalmente para o Brasil e para o Caribe. Era a chamada Costa dos Escravos.

No final do século XIX, a França adere à capanha anti escravagista e entra em guerra com os reinos africanos. Em 1892 os franceses subjugam o reinado Fon e o transformam em colônia, denominada Daomé.

A atual República do Benim, é fruto da união de algumas colônias francesas, como Daomé e Porto Novo (ambos fons). Sua área hoje é de 112.620 Km2, extendendo-se a norte pelo rio Níger e ao sul com o Oceano Atlântico. É um dos menores países da África. Faz fronteira com o Togo e com a Nigéria. Sua atual capital é Cotonou.

A independência do Benim só foi alcançada em 1º de agosto de 1960. Em 1975, no período marxista, o Daomé foi rebatizado como República popular do Benim.

A democracia apenas foi instituída em 2006, quando foram convocadas eleições presidenciais livres e justas. Atualmente, a República do Benim é considerada como modelo de democracia no continente africano.

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