A cidade de ketu.

KETU:

As terras de Ketu ficavam em um planalto de terra dura e avermelhada, constituída de laterita, debruçando a leste em um pequeno barranco.

Embora seja considerado um dos mais antigos povoamentos yorubás, não há registros históricos precisos sobre a fundação de Ketu. Ao contrário, existem inúmeras versões diferentes a esse respeito. Três delas merecem ser citadas.

As mais recentes pesquisas conferem a honra ao rei Edé, 6º sucessor de Isa-Ipasan (o chicote de deus), nome de um príncipe da lendária cidade de Ilê Ifé, que havia se exilado espontaneamente devido a disputas pelo trono e migrado 200km a oeste, levando consigo mulheres, filhos, servidores e centenas de famílias.

O rei Edé, teria partido da cidade de Aro a oeste, em direção às terras fons. Conduzido por seu parente, o caçador Alalumon, foi levado a um local alto, à sombra de um grande pé de Iroko, onde Alalumon costumava pendurar sua bolsa de caça, quando parava para repousar e se alimentar.

Foi ali, nas proximidades da sombra daquele Iroko, que Edé e as 120 famílias que o seguiram, dariam início ao famoso Reino de Ketu.

Essa é a versão tradicionalmente contada em Ketu sobre a mítica fundação da cidade. Contudo, os ketuenses consideram como primeiro Alaketu o príncipe Isa-Ipasan, ancestral de Edé – como forma de frisar a descendência da dinastia de Ifé.

Esse famoso Iroko sobreviveu até o século XX. Apenas sucumbiu de velhice em 1922. Mas ainda hoje é conhecido no bairro de Massafè como o “Iroko de Alalumon”.

Há também a teoria de que o Reino de Ketu teria sido fundado por Obassin, filho de Odudua,. Obassin, irmão de Ogun, teria lutado contra os igbôs e depois marchado com seu grupo até o local onde se fixou, estabelecendo assim a cidade de Ketu.

Outros historiadores defendem a tese de que Ketu foi povoado por moradores de Oyó. Estes, pressionados por várias guerras locais, entre os séculos X e XIII, teriam migrado a oeste e criado a nova cidade.

Daí a justificativa para que durante certo período o Reino de Ketu pagasse tributos a Oyó.

O Povo ewé, tradicionalmente refere-se a Ketu como Amedzofe (“a origem da humanidade”), ou ainda como Mawufe (“casa do Ser Supremo”).

O nome da cidade teria sido escolhido de forma alegórica por uma reunião do conselho formado pelos oloyés (os do alto escalão). Os oloyés eram escolhidos diretamente pelo rei, dentre os membros das mais importantes famílias do reino.

Nas proximidades de onde fora erguida a porta fortificada de Idena, na entrada do povoado, morava um corcunda. Então alguém promoveu o desafio: Quem endireita a corcunda? Quem destrói a cidade? (“Ké tu kéé? Ké fo lu?”). E para concretizar o desafio decidiram sacrificar o corcunda e enterrá-lo em frente à porta da cidade.

O reino foi batizado assim de “Ketu” e o seu rei de Alaketu (o feiticeiro de Ketu).

Ketu ganhou fama e riqueza ao se transformar em importante entreposto comercial das terras yorubás.

O Reino chegou a ter ceca de 30 mil habitantes, divididos em 15 bairros:  Idena, Massafè, Ijabo, Iradigban, Isako, Ijiba, Odi, Aro, Osè, Aguidigbo, Dagbanji, Iguiolu, Idajè, Asubi e Ita-Oba (capital).

Cada bairro possuía sua própria milícia, comandada por um balogun (iba l´Ogun – chefe de guerra). O contingente dessas milícias variava entre cem e quinhentos homens.

Os soldados além de manejar seus facões e demais armas brancas, já utilizavam espingardas e canhões de origem européia, adquiridas junto a comerciantes de Badagri, Lagos e Porto Novo.

Sá, o décimo rei de Ketu, após Edé o mais famosos Alaketu, motivado pelos constantes ataques dos fons, resolveu aumentar a proteção da cidade, mandando construir muros, fossos e reforçando o portal de entrada, a famosa porta de Idena.

Dizem que Sá traçou pessoalmente os muros em torno da cidade, formando uma elipse um pouco irregular. O comprimento total tinha 3.300m, com 4 m de altura. A parte maior media 1.100 m e a menor 965 m. Os muros resguardavam uma área de 85 hectares. Os fossos tinham entre 3 e 4 m de profundidade e mediam de 5 a 8 m de largura.

A lenda conta que o rei Sá era mágico e por isso havia designado dois gigantes para construir a muralha: Ajibodu e Oluwodu. Ambos dormiam de dia e só trabalhariam à noite. Por isso ninguém os via.

Para materializar a história, foi desenhada a marca de uma enorme mão na parte interna do muro, próximo à entrada do portal.

O mítico portal de entrada da cidade de Ketu foi chamado de Akaba Idéré (a porta de Iderê – cidade natal do seu construtor); depois apelidada de Odi-Ona (o caminho está fechado) e finalmente imortalizada como Akaba Idena (a porta de Idena).

Dizem que o arquiteto que a construiu, consagrou o portal com rituais e sacrifícios, conferindo à mesma, poderes sobrenaturais.

Até mesmo nos dias de hoje, tradicionalmente são imolados carneiros ou cabritos em louvor ao espírito guardião da Porta de Idena. No passado, em épocas de guerras, bois e até humanos eram imolados ao portal.

Em 1886, quando Ketu foi tomada pelo rei Glele, o portal foi arrancado do lugar de origem e levado como troféu para o Abomé.

Os antigos contam que chegando no reino usurpador, o portal teria se erguido sozinho, mostrando o descontentamento do espírito do Portal.

O Portal de Idena foi reparado e ainda hoje é reverenciado em Ketu.

A Cidade de Ketu chegou a ser a capital dos yorubás, em 1.500.

A luta pela terras cultiváveis e pelo controle do comércio na região, levou a vários confrontos entre os ketus com os fons de Abomé.

A partir de 1880, no reinado de Osun Ojeku, o Reino de Ketu foi tomado duas vezes pelos daomeanos e começaria a ser devastado. Milhares de cidadãos de Ketu seriam então aprisionados e vendidos como escravos, praticamente extinguindo sua história, sua cultura e sua religião nas terras africanas. A tradição de Ketu mudaria seu endereço para o Brasil…

Em 1886, Ketu foi totalmente conquistado pelo Daomé, passando a ser regido por Agidigbo Hungbo. Sete anos depois (1893), a França toma a Cidade e a torna um protetorado.

No ano de 1963, já no século XX, o Estado de Ketu é extinto, enquanto o reinado era de Alamu Adéwori Adégibité, o 48º Alaketu.

O antigo Reino de Ketu foi cortado ao meio no período do colonialismo europeu na África. Parte ficou dentro do território da República do Benin e a outra parte dentro da Nigéria.

A tradição concentrou-se em maior número na área de Mèko, no lado nigeriano. Nesta localidade, ainda existe o Alàketú, que exerce funções simbólicas e é respeitado como símbolo cultural.

Atualmente Ketu é um pequeno vilarejo, com cerca de 10 Km2, que acomoda uma população média de 22.300 pessoas.

 

Referências

↑ Law, R 1977, The Oyo Empire, Clarendon Press, Oxford, p.141
Parrinder, E.G. The Story of Ketu: An ancient Yoruba kingdom. Ibadan, Nigeria , Ibadan University Press, 1956.
wikipédia
[ edit ] Sources

Rio, 14/3/12

Márcio de Jagun

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