A roupa não faz a beleza de um Orisà.

A roupa não faz a beleza de um Orisà.

A roupa de determinadas comunidades candomblecistas e umbandistas é uma forma de comunicação, contando sua expressão histórica e também um grande guardião de memórias. Como se a indumentária fizesse uma ligação entre corpo e sagrado, através de africanidades e estéticas, os adeptos da religião vestem suas Divindades como um dispositivo de armazenar informações históricas da identidade da comunidade.
Um fato muito importante de ressaltar que os trajes usados pelas mulheres negras, chamadas de mulheres de ganho, onde suas vestimentas eram compostas de saias rodadas, bata, pano da costa, turbantes, colares de miçangas, joias e chinelas, que costumavam vender alimentos de origem do continente africano, artigos como sabão, pano da costa, palha, colares de miçangas e outros objetos de beleza de uso cotidiano, no qual hoje esses elementos compõem a indumentária das religiões de matriz africanas. Mas o que seria essas mulheres de ganho, eram mulheres negras livres ou escravizadas que tinham de dividir parte dos lucros com seus senhores. E tal contexto social da escravidão só poderia acontecer nos meios urbanos, pois a realidade e consequentemente as vestimentas dos negros que viviam no ambiente rural, eram diferentes.

A vestimenta da umbanda e principalmente do candomblé tem como referências e essências de escravos trazidos para o Brasil de diversos lugares do Continente Africano. Seus adornos de asé utilizados pelos devotos e as suas Divindades, possuem dimensões de estéticas e litúrgicas. Essas peças eram usadas por mulheres escravizadas ou alforriadas, que além de servir como enfeites, carregavam significado de proteção, demarcava hierarquia e a identidade de cada povo.

Muitos desses enfeites e roupas eram produzidas por mãos negras que teciam boa parte das vestimentas nós séculos passados, hoje em alguns Ilé Asé encontramos indumentárias feitas pelos próprios adeptos, que cuidam das vestimentas pessoais e de suas Divindades cultuadas com muito orgulho e sabedoria, como forma de devoção e valorização, pois algumas pessoas da comunidade acreditam que aquela primeira roupa vestida pelo seu Órísá estão ancoradas de memórias e histórias.

Em entrevista com o Sarcedote Tomeje líder do Ilé Asè L’Onan localizado em São Gonçalo, o líder religioso informa que não se rende a modernidade e fala com muito orgulho e carinho que o seu Órísá Ògún usa a mesma roupa de 15 anos atrás e reproduz o mesmo bailar com todo asé. Ele informa que a vestimenta não faz o Órísá e que os mais simples são mais sofisticados.

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