A Síndrome do “No meu tempo…”

A Síndrome do “No meu Tempo…”

“No meu tempo, era assim…”

“No meu tempo, Yawo era assim…”

“No meu tempo, Orixá não fazia assim…”

“No meu tempo, Ogan era assim…”

“No meu tempo, isso… No meu tempo aquilo… No meu tempo, no meu tempo, no meu tempo…”

Chega de “No meu tempo”, né?

To pra conhecer alguém que nunca tenha ouvido a expressão “no meu tempo”, antecedendo uma certeza absoluta para dizer que, “em algum tempo”, o candomblé era de verdade.  A expressão é tão presente no candomblé que, desde cedo, a gente vai aprender a lógica saudosista de só esperar uma brecha de um contemporâneo, ou mais novo, só para sentir o gosto de dizer: “no meu tempo”.

Eu até entendo quando os Agbás, indignados, contam os bons feitos de outrora, e expressam suas decepções contemporâneas. Entendo sim, e faço coro para dizer que há hoje uma certa banalização da cultura religiosa, que muito me assusta, mas que é de responsabilidade nossa lutar pela preservação e conscientização sobre a importância do bem cuidar, para que os cultos se perpetuem. A partir disso, é que me encontro amparado no alerta de Mãe Stella do Opo Afonjá que chama atenção de todxs – do mais velho ao mais novo – e diz: “Meu Tempo é Agora”.

Sim! É agora e não podemos mais perder tempo com saudosas ilusões. Sabemos sim que há muito o que se acertar – e não falo das questões ritualísticas individuais de cada casa. Falo, principalmente da consciência de cuidado e responsabilidade com a cultura religiosa. Falta mesmo seriedade na condução e educação de nossas comunidades, e talvez, é desses lugares de irresponsabilidades que surgem espaços para excessos e tanta displicência que, infelizmente, vemos todos os dias.

Mahatma Gandhi, líder pacifista Hindu, nos ensina que “devemos ser a mudança que queremos no mundo”, por isso, penso eu que só falar que “no meu tempo” o mundo era melhor, não ajuda muito a mudar aquilo que não nos agrada, né? Precisamos participar da mudança, de forma que aconteça, primeiro em nós mesmo, depois nos dispomos a colaborar com as transformações do outro. Talvez, perdemos muito tempo choramingando, ou mesmo para inferiorizar as verdades presentes, cuspindo aos quatro ventos o quão melhor era o passado. Nessa de “meu tempo é agora”, acabamos mesmo por perder a noção de que tempo estamos e qual é o tempo que queremos, para o amanhã.

O que vai ser do amanhã? Não sei – já disse que muito me preocupo, mas penso que, pelo menos agora, já é hora de acabarmos com a síndrome do “no meu tempo”, parar tornarmos parte da solução. Sim. Creio que o remédio para tal doença, seja mesmo o “Meu tempo é Agora”. Precisamos acordar para a coletividade e entendermos de vez que “sou parte desse tempo”, porque vivo, respiro e moro nesse tempo. Os erros e acertos desse tempo, nos pertencem, tão quão as glórias passadas em um outro tempo que também teve lá seus desacertos também.

Então, o que estamos esperando para fazer desse tempo, um tempo melhor para nós e para as divindades?  Pois, em Passado, Presente e Futuro, o Tempo sempre será um Orixá importante para o tempo de vida de cada um.

 

Fontes:

https://www.facebook.com/olhardeumcipo?fref=ts

http://olhardeumcipo.blogspot.com.br/2015/09/a-sindrome-do-no-meu-tempo.html

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