Brasil mostra tua cara!

Brasil mostra tua cara!

A mídia muitas vezes em certa medida discriminatória com relação ao discurso e sincretismo das religiões de matriz africana são frequentemente medidos e registrados como “culto ao maligno” e “malandragem” que enfraquece a perspectiva filosófica da religião que é o encontro da Matriz Africana com a Brasileira, infelizmente cenas de novelas, filmes, literatura e produtos televisivos que trazem superficialidades em seu discurso e que, portanto, corroboram com um imaginário de preconceito. Em comparação com outros aspectos da cultura negra e que nasceram juntas dentro da senzala, como as músicas e a culinária temperada com traços africanos, a religião ainda habita em algum espaço obscuro na sociedade, não atingindo camadas onde outras expressões já conseguiram atingir.

A ilusão de que não existe mais nenhum tipo de racismo no Brasil é facilmente desmascarada com o mundo capitalista que vivemos. A falsa hegemonia do samba, que chega a ascensão depois de criminalizado e da culinária, grande sensação no mundo pelos temperos brasileiros, mascarou uma posição vivida no país. Posição essa que usa de apropriação das culturas minoritárias, tomando sua voz e seus modos de expressarem para que haja a maior possibilidade de retirar, desta minoria, a exaltações de seus resultados positivos que receberiam naturalmente com objetivos alcançados. A retirada da voz das minorias é histórica vinda da falsa superioridade branca e apagar outros traços culturais acabou se tornando a forma cruel de imposição de seus pensamentos. A escravidão, a imposição de sua religião, as teorias racistas do século XIX, são exemplos que nos mostram que nunca se pensou de forma humanitária nas minorias em território tupiniquim e o resultado de tal condução é encontramos do povo negro na base da pirâmide estrutural, com os menores índices educacionais e ocupando as maiores parcelas da pobreza. Se desde o começo não se respeitou a cultura de cada povo, não seria diferente agora. Dar voz ao povo negro seria ascender a camada mais pobre para evidência, e isso nunca foi permitido no Brasil. Assim, tomar do menor tudo aquilo que possa ser lucrativo, mascarado de um falso espaço, foi a forma encontrada para que a elite branca continue se perpetuando.

A falta desconhecimento da história também é uma forma de esconder de onde nasce cada história. As políticas de embranquecimento da pele no Brasil do século XIX também serviu para apagar a memória de toda contribuição dos negros. É comum vermos pessoas exclamando surpresas com o sofrimento dos escravizados ao verem romances na televisão, como telenovelas. Não retratam a verdadeira barbárie sofrida por esse povo. Logo, é fácil a quem interessa, dizer que a “brasilidade” venceu. A diversidade, o plural, o povo que mais se misturou, que construiu com o país com trabalho de mãos calejadas, a ele pertence toda a cultura. O samba veio da África. Alimentos como a banana e a mandioca foram trazidos da África para que os negros se adaptassem melhor ao país. E isso não é ensinado na escola básica. Não são mostradas as principais contribuições culturais do povo negro, indígena e o caminho é aberto e livre para a apropriação de pontos que possam ser interessantes a elite intelectual.

Vale ressaltar que Lélia Gonzalez é das vozes que desconstrói mito da democracia racial, denunciando o sistema escravista-patriarcal brasileiro que não se constituiu sobre base harmônicas, mas por meio da violência racial e sexual que reproduz desde a colonização na sociedade brasileira. Décadas depois Sueli Carneiro fala do “estupro colonial “da mulher negra pelo homem branco como bases para a fundação do falso mito da cordialidade e da democracia racial brasileira.

Eliz França

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