Dança das Iabás no Xirê (2ª Parte)

Dança das Iabás no Xirê (2ª Parte)

As danças de entrada no Xirê têm duas funções básicas: servem como aquecimento corporal e, também, como meio facilitador para o fiel entrar em estado de transe, provocado pela repetição monótona e prolongada de movimentos simples. As danças em estado de transe ou a dança dos Orixás, no caso desta pesquisa, a dança das Iabás, manifestam-se, apresentando as peculiaridades dos seus mitos:

A dança de Iansã alterna movimentos suaves com giros em velocidade, apresenta um movimento característico das mãos, paralelas e espalmadas, para o alto e a frente do corpo, como que afastando os eguns, as almas dos mortos ou revolvendo o ar, num passo chamado quebra – pratos. Em outro passo, pode também ser sensual, provocando os Orixás masculinos, de mãos nas cadeiras ou segurando as saias mais levantadas.

Seu passo principal, o quebra-pratos, é composto de um arrastar um pé no chão seguido de um contra tempo, este movimento é repetido ora com um, ora com o outro pé. Nesta movimentação, as pernas ficam um pouco mais afastadas que o normal, o que provoca uma oscilação pendular lateral acentuada do corpo, ou seja, quando ela arrasta o pé direito no chão, seu corpo inclina-se acentuadamente para a direita e vice-versa. Este arrastar de um pé no chão, como se estivesse jogando terra para trás, pode ser associado, em sua dinâmica ao seu aspecto agrário ou do boi, pois este movimento lembra os touros, que arrastam uma das patas traseiras antes de iniciar um ataque. Iansã tem uma dança ágil, dinâmica, guerreira, através de seus movimentos é a tempestades e o vento desencadeado e contém ainda como característica, a justiça, sendo conhecida como rainha vingadora e justiceira.

A estrutura coreográfica oscila entre um fluxo de movimento ora contínuo, ora descontínuo e livre, o peso dos movimentos variam do forte ao leve com um tempo quase sempre acelerado, podendo alternar, porém, com pequenas desacelerações, ao mesclar movimentos mais suaves com giros rápidos e fortes, o que indica uma característica do seu comportamento, ora calma, ora agitada. Dança em impulsos e muda rapidamente de um a outro extremo, num piscar de olhos, de humor e de desempenho corporal, alternando movimentos retos com curvos.

A mudança corporal, em relação ao volume do corpo no espaço, adquire um aspecto tridimensional, marcada pelas rotações e giros constantes, bem como a sua evolução de forma circular no espaço. A presença da espada, somada a algumas evoluções lembram um enfrentamento, um ataque, simbolizando as lutas, na qual foi companheira de Xangô, como também o combate que travou com Ogum. Outro aspecto característico da sua dança são os giros, que, somados às mãos suspensas no ar, denotam a idéia de movimentos para todos os lados e sentidos, uma ação dinâmica tal qual um vento forte, ou melhor, um redemoinho que abrange todas as direções. Sua dança tem um ar altivo, irrequieto, um Orixá dinâmico, uma das danças que mais impressiona pela riqueza de movimentos, e surpreendentes mudanças, além do seu aspecto circular proporcionado pelos inúmeros giros em velocidade.

Esta dança apresenta movimentos fortes no espaço, amplos e em plano mais alto. Sua dança parece ser feita para expandir-se no espaço, feita para fora e para cima, enfim para o ar, embora apresente um forte enraizamento ao solo, acentuado pelo arrastar dos pés para trás e para fora.

por Denise Mancebo Zenicola

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