Dança das Iabás no Xirê (4ª Parte)

Dança das Iabás no Xirê (4ª Parte)

A dança de Iemanjá, segundo Augras, imita o movimento das ondas do mar, fala da fluidez, de distribuição de cuidados e bens aos seus filhos, de germinação constantemente renovada (1983, 167). Quando se manifesta, Iemanjá ri às gargalhadas ou geme, como estivesse chorando, executando giros grandes como as ondas e o vaivém do mar. Banha-se nas águas, e simula mergulhar para pegar alimentos e conchas para seus filhos. Um movimento, também característico da sua dança, é colocar as mãos na testa e na nuca alternadamente, evidenciando desta forma que ela é a Iyá Ori, a mãe da cabeça. Outro movimento é estender as mãos em posição que lembram estar implorando, ou melhor, esmolando por caridade e amor.

Sua dança é mais suave, embora tenha bastante vivacidade e pode manter os braços dobrados, na linha da cintura, afastando e unindo os punhos ao mesmo tempo, afastando para trás e para frente os braços, com uma pequena oscilação que apresenta moderada rotação de ombros em movimento circular. Na dança de Iemanjá, não existem movimentos grandes, ampliados, ou mesmo em alta velocidade, possivelmente como reflexo das características do Orixá; o gestual das mãos lembra estar acariciando a água, e empurrando-a para trás do seu corpo, elemento do qual faz parte. Seu deslocamento é suave, ligeiramente contido, como se flutuasse ou caminhasse dentro da água, a dinâmica dos movimentos fica mais centrada ao eixo vertical do corpo, tudo acontece ao seu redor.

O corpo, ligeiramente curvado para frente, como se carregasse um peso, se move organizado e organizando movimentos que lembram sempre estar acariciando ou embalando uma criança ou as ondas do mar. Seu tórax não se projeta no ar, uma vez que a sua dança é mais voltada para dentro, mais interiorizada que as demais estudadas nesta pesquisa. Esta dança mantém um mesmo grau de expressividade coreográfica, pontuada pelo aspecto sutil e delicado dos movimentos. Seus movimentos mantêm o que podemos chamar de pequeno alcance, uma vez que o seu gestual é mais contido, mantendo os braços sempre próximos ao corpo, mais especificamente à linha da cintura.

Esta dança pode passar de um movimento a outro sem alterar significativamente a gestualidade ou a característica de um movimento em relação ao outro, existe um continuum de fluidez corporal, que integra um gesto ao outro nos momentos da passagem de um para o outro, numa dança que ocorre quase que inteiramente sem alteração no tempo ou ritmo, não acelera nem desacelera.

por Denise Mancebo Zenicola

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