Dança das Iabás no Xirê (5ª Parte)

Dança das Iabás no Xirê (5ª Parte)

A dança de Obá desenvolve-se, quase o tempo todo, com uma das mãos cobrindo a orelha, geralmente mão e ouvido esquerdo. O motivo desta atitude corporal, relaciona-se a uma das suas lendas, a mais conhecida no Brasil. O mito relata que Obá, por influência de Oxum, cortou a sua própria orelha para colocá-la em um prato oferecido a Xangô, como forma de manter o casamento que corria o risco de rompimento. Esta posição é ainda mais evidenciada por uma inclinação acentuada do corpo para o lado em que segura a orelha, desta forma o gesto de segurar a orelha fica fixado e evidenciado pela postura inclinada.

Nesta movimentação, observa-se um corpo que se move de forma inclinada, apresentando ainda giros para este mesmo lado. A ênfase da ação fica ainda mais evidenciada pela transferência do peso que fica em cima da perna correspondente à orelha tapada pela mão. A expressividade deste movimento é marcada por um tempo desacelerado e de fluxo controlado; o executante encolhe seu corpo, curvando-se côncava e lateralmente para baixo, encolhe-se no espaço para este lado.

Outra movimentação característica é se locomover para a frente, mantendo o polegar de uma das mãos encostado e à frente do indicador da outra mão. Este gestual pode ser associado ao seu lado guerreiro, presente em vários mitos deste Orixá, como se estivesse empunhando uma arma, afinal, Obá é considerada um Orixá feminino enérgico, é a rainha que ataca galopando de pé no cavalo. Sua dança, assim como o Orixá, revela uma alternância característica, através da corporalidade que, ora curva-se enganada por uma insinuação ardilosa da sua rival, ora empunha uma arma à frente do seu corpo, pronta a guerrear. Esta dinâmica corporal pode ser alterada caso haja no mesmo momento uma Oxum incorporada, segundo Verger…”os dois Orixás sempre querem brigar e é preciso apartá-los”(2000,404).

As danças de saída do Xirê têm como função preparar o corpo para a volta ao cotidiano, o movimento vai se tornando menos amplo e codificado. Observa-se que a técnica corporal utilizada objetiva a transmissão e conservação da memória do grupo, de acordo com a sociedade em que vivem. Esta prática propicia a difusão e perpetuação da sabedoria ancestral. Além da transmissão oral, existe também a técnica corporal, onde o aprendizado se dá através do procedimento prático, do concreto para o abstrato; através da observação de danças, rituais, desde criança, ou, desde a iniciação, integrado à rotina de vida da casa, onde todo este conjunto de ações e aprendizados vão moldando o fiel na sua relação com o mundo.

por Denise Mancebo Zenicola

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