É tanta dor Que nem sei quantificar.

 

É tanta dor
Que nem sei quantificar.
Preto matando preto
Em nome do branco capital.
Capital que comprou a alma de negros.
Capital que expulsou a família de seu berço original.
Dinheiro sangrento
Dinheiro maldito
Dinheiro sem alma.
E o nosso direito de viver?
Capital que demarcou a precária vida
E sentencia a nossa morte.
Morrer a pauladas.
Depois da Morte quase morrida na própria terra Natal.
Acharam no Brasil o colo da mãe.
Acharam?
Se perderam na dor
E do desprezo encontraram pauladas.
Até quando nossos caminhos negros serão traçados pelo branco capital?
Que dor eu sinto na alma
Cada paulada eu senti no meu couro preto.
Pois pele já não tenho mais.
Minha pele foi arrancada de mim
Quando chorando vi meu irmão africano morrendo.
Estou em estado de  choro e horror.
Queria acariciar a mãe que agora chora.
Queria um pedacinho daquela dor real.
Não sei se eu aguentaria o pedacinho da dor da mãe que chora o filho morto a pauladas.
Não sei também da dor das  mães dos algozes.
Será que elas choraram também?
Eu choro com elas.
Choro com todas as mães envolvidas .
Choro com a mãe maior
A nossa mãe África
Que viu irmãos nascidos do Ventre comum se matando em defesa do capital.
Do mesmo capital originário da modernidade desbravadora.
Que estuprou a nossa mãe
Que pegou seus filhos, os nossos irmãos.
E os transformara em mercadoria.
Cada paulada
São moedas caídas no bolso do capitalista.
Eu, que só sabia chorar, agora quero avançar sobre meus algozes.
Quero olhar nos olhos dos irmãos pretos violentos e mostrar que não somos inimigos.
Somos iguais.
Mas por hoje eu só quero chorar.
Amanhã eu vou lutar.
Mas hoje eu só quero chorar.
Eu preciso chorar.
Amanhã eu lutarei.

Jefferson Dantas

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