Èsù, resistência negra na diáspora!

Èsù, resistência negra na diáspora!

Venho propor caros leitores, um olhar a partir do que chamarei de Epistemologia de Èsù, recorrendo ao signo de Èsù como um rompimento com as epistemologias eurocêntricas. Ele é o próprio movimento da resistência negra na diáspora, signo que rompe com a razão e abre para outras possibilidades de leitura do real, do sensível.

Èsù é um Órísá do candomblé e a figura mais controversa do panteão africano. Seria o responsável pelo início de tudo, a potência, o movimento, o contraditório, o duplo, o múltiplo, o brincalhão, que faz acontecer pelo avesso, constrói ao desfazer, arruma tudo gerando o caos. Èsù não permite certezas porque nunca pode ser alcançado. Quando se pensa tê-lo alcançado, que se chegou a algum lugar, ele inverte o caminho e o fim passa a ser o começo, que não é só um caminho, mas uma encruzilhada de quatro caminhos multiplicados por milhares de outras possibilidades. Para Èsù, não existe certo ou errado, mas caminhos que podem levar a diversos lugares, ou conduzir ao mesmo local por vias diferentes, como nos permitir atravessando as Encruzilhadas a produzir pensamentos fora do eurocentrismo.

Ademais, refletir Èsù como uma visão epistemológica possibilita a produção de um conhecimento não eurocentrado, e nos levando a um olhar talvez desinstitucionalizado. É um recurso para a produção de saber não somente nos espaços formais, como propõem os estudos descoloniais, que apontam no sentido de pensar outras epistemologias, já que a universalização do saber que sustenta as universidades tem suas bases em epistemologias eurocêntricas. Dessa forma, Èsù pode nos proporcionar não só a possibilidade de um rompimento com a normatividade acadêmica, mas também epistemológica, autorizando-nos a pensar formas de produção de conhecimento que passem não só por uma produção intelectual, mas que penetrem em nossos corpos e nossas vidas.

Já que este grande Órísá Èsù é movimento, reconhecer sua transposição possível para uma encruzilhada epistemológica, onde as epistemologias se cruzam. Seria, portanto, nesse espaço híbrido, no vazio gerado pelo colonialismo, pela sobreposição das epistemes, que Èsù se instala e ejacula novas possibilidades de leitura do real, para além da razão iluminista. Como potência criativa, subversiva, multifacetada, multiplicidade e diáspora, Èsù, É Resistência!

Independentemente do gênero, Èsú impera na encruzilhada, nos caminhos que se cruzam, mas jamais se trancam. Nem tudo é diluído, há materialidade, pois é a terra o asfalto da encruzilhada, a criação do outro terceiro mundista a partir de um olhar etnocêntrico do ocidental, remetendo-nos a importância de pensar as epistemologias e as sua consequência.

De todos os Órísá, Èsù é o mais próximo dos humanos, já que cabe a ele ser o mensageiro entre o Orun,e o  Aiyê.  Por isso, ele é aquele que fala todas as línguas, que come tudo que a boca come. Além disso, cria, mistura, inverte e subverte também a palavra, possibilitando a produção de novos conhecimentos,

Pensar numa Epistemologia de Èsù seria, portanto, arriscar-se na encruzilhada, mas também gerar resistência, promover a potência. Seria tomar Èsù como o “próprio símbolo do ‘quilombismo’ criado por nosso grande intelectual Abdias Nascimento a capacidade das consequências da colonialidade. Ao invocar Ésù, ao pensar a cultura negra a partir de Èsù, o teremos um olhar ampliador, que não busca necessariamente unidade, mas respeito na diversidade. Èsù seria dar uma volta e captar o que ali é potência, movimento, impulso para a ação e empoderamento

Eliz França

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