Hùngbónò Jorge de Yemọja.

Material retirado do facebook do se. Carlos Wolkartt.

Postado em 13/02/2021.

 

Hùngbónò Jorge de Yemọja (Sr. Jorge Pereira da Silva). Nasceu em 11 de novembro de 1932 no bairro de Cascadura, zona norte do Rio de Janeiro. Foi criado por seus pais biológicos até os sete anos de idade, quando teve que ir morar numa pequena casa à Rua Souto, também em Cascadura, sob os cuidados de uma senhora chamada Dona Cabocla. Para conseguir se sustentar e ajudar nas despesas da nova casa, começou a trabalhar numa padaria nos horários que lhe restavam fora da escola.

Dona Cabocla frequentava um terreiro de Candomblé da nação Kétu, e foi através dela que o pequeno Jorge conheceu a religião. Como ele mesmo disse numa entrevista concedida ao jornal Iluaiê, em outubro de 1990: “Foi através dela que adquiri todo o conhecimento que tenho sobre o ritual Kétu”. No entanto, Dona Cabocla observou que o Santo dele tinha que ser tratado em outra nação. Já adolescente, ela o levou até o terreiro de Tata Fomutinho, da nação Jeje Maxi, à época localizado na Estrada do Portela, em Madureira. Mais tarde, este terreiro seria transferido para São João de Meriti. Tata Fomutinho já era um sacerdote muito conhecido no Rio de Janeiro, sobretudo por ter sido o primeiro homem iniciado como vódùnsì no Xwé Seja Hùnde (Roça do Ventura), em Cachoeira, Bahia.

Na entrevista supracitada, Hùngbónò Jorge disse que, no jogo de búzios de Tata Fomutinho, “Yemọja manifestou sua vontade de ser feita naquela Casa, e nada nos restava senão cumprir suas determinações”. Dessa forma, foi iniciado em 13 de outubro de 1950. Com sua feitura, ele ficaria conhecido como o primeiro homem iniciado para Yemọja no Rio de Janeiro e o único entre os filhos de Tata Fomutinho. O Hùn nyĭ (orúkọ) de seu Vódùn é Ìyá Petesi.

Anos mais tarde, fundou seu próprio terreiro com o nome de Xwé Seja Tesi. Depois de passar por alguns lugares, o Acè foi instalado definitivamente na Rua Major Ribeiro Pinheiro, nº 67, em Praça Seca, também zona norte do Rio de Janeiro. O local se tornou uma das maiores células do Jeje Maxi em terras fluminenses, servindo como referência a diversas Casas que surgiram posteriormente.

Muitas pessoas procuravam Hùngbónò Jorge para jogar búzios, e seu jogo ficou conhecido como um dos melhores do Rio de Janeiro. O grande conhecimento que possuía sobre o Candomblé foi uma das características que fizeram com que seu nome ficasse marcado na história. Poucos de seus contemporâneos conseguiram alcançar tamanha sabedoria, que não se limitava apenas à sua nação. “Posso dizer que muito do conhecimento que tenho foi adquirido através de pesquisas, estudos e contatos constantes com pessoas de Cachoeira, principalmente com Gaiaku e Doné Runhó”, disse ele na entrevista ao jornal Iluaiê. Em seu terreiro, procurou conservar integralmente todas as práticas e costumes do Jeje Maxi que aprendeu no decorrer dos anos. Na mesma entrevista, ele disse:

“Infelizmente, no Rio de Janeiro, dos meus irmãos-de-Santo que abriram Casa, poucos foram os que procuraram aprender sobre nossa nação. Em Cachoeira e no Bogum, onde se encontram os principais focos de resistência da cultura Jeje, o ritual é mantido nos mesmos moldes de purismo com que foi trazido há centenas de anos… A vaidade intelectual de cada um cria uma barreira que dificulta e torna quase impossível a reunião deste saber esparso, reunião esta que possibilitaria o fortalecimento pleno de nossa religião. Um outro fator preponderante é a falta de uma liderança a nível sacerdotal. Ninguém quer admitir publicamente, embora conscientemente reconheça, a autoridade hierárquica deste ou daquele sacerdote. Infelizmente, esta postura provoca a divisão e consequente enfraquecimento de nossa religião.”

Hùngbónò Jorge faleceu em 28 de fevereiro de 1991, com 40 anos de Santo e 59 anos de idade. No encerramento da entrevista ao jornal Iluaiê, ele disse: “É necessário, para a preservação de nossa religião, que seus adeptos adquiram uma consciência de religiosidade pura e que deixem de lado a vaidade pessoal. Cultuamos Vódùn, Òrìṣà ou Nkisi, e a individualidade de cada um não pode e nem deve ser mais importante que as divindades de nossa fé”.

Fique aqui registrada esta singela homenagem a um dos grandes sacerdotes do Candomblé, que soube preservar, com empenho e dedicação, tudo o que lhe foi confiado.

[A autoria e data da foto são desconhecidas.]

# Publicado por Carlos Wolkartt em 13 de fevereiro de 2021, às 11h40. Gratidão a Mejito Marcos pela sugestão e colaboração.

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