Mãe Stella faz bela reflexão sobre religião. Texto enviado pela amiga/leitora MSC

mae Stela

MSC fique sempre a vontade para nos enviar material, axé e seja bem vinda ao mundo dos blogueiros. Axé, Tomeje.

Mãe Stella faz bela reflexão sobre religião. Foto: Margarida Neide/Ag. A TARDE/ 29.11.2012 Maria Stella de Azevedo Santos.

 

Mais uma polêmica para que possamos refletir e dar um passo rumo a um estágio evolutivo elevado que ajude a construir uma sociedade harmônica e equilibrada. O noticiário televisivo deu a seguinte manchete: “Juiz não reconhece manifestações afro-brasileiras como religiões. A decisão gerou polêmica e surpreendeu líderes do candomblé e da umbanda e o Ministério Público Federal.” Sou uma líder do candomblé e confesso que eu não fiquei nem um pouco surpreendida. Venho de um tempo em que a referida religião era perseguida pela polícia, em virtude de na época o Brasil ter uma religião oficial – o catolicismo.

A atitude do juiz precisa ser compreendida, porém jamais pode ser aceita. Optei por não dizer seu nome, pois o nome de uma pessoa é tão sagrado que não deve ser pronunciado quando o dono dele comete atos impensados e infelizes. Um belo e significativo ensinamento da Ordem Rosa Cruz diz: “Eu te compreendo, mas em nome do verdadeiro amor não posso aceitar.” Podemos compreender uma atitude que tem por base o preconceito, que é fruto da ignorância sobre o tema que o juiz ousou julgar.

O ignorante é assim mesmo: é insolente, “grosseiro nos gestos, nas palavras ou nas ações.” Não fiquei surpresa, fiquei indignada. Senti repulsa, não pelo cidadão em si, mas pelo seu ato vergonhoso. Quanto a meu irmão que praticou tal ato, verdadeiramente, senti pena e, consequentemente, desejo de ajudá-lo. Afinal, ele é meu irmão, somos filhos de uma única energia, que para o candomblé é chamada de Olorum – o Deus Supremo, que vive no céu (no orum), o qual se expandiu e Dele fez surgir todos os seres vivos que habitam a Terra. Essa é uma explicação que dou para ajudar meu irmão a entender que as religiões de matriz africana têm, sim, um texto base no qual se baseiam para realizar seus rituais, mas principalmente para ajudar seus adeptos a se tornarem cidadãos “assentados” no bem e na verdade. Esse texto base nos ensina que não basta sentir pena.

O Código de Ifá, conjunto de ensinamentos no qual se baseia o candomblé, ensina a seus adeptos que a ignorância precisa ser perdoada, compreendida, mas nunca aceita, e que cabe àquele que conhece os mistérios, instruir aqueles que não os conhecem. Obedecendo, portanto, às orientações dadas pelos seres superiores, esclareço a meu irmão alguns detalhes do candomblé sobre o qual ele demonstra não ter o conhecimento necessário para realizar um julgamento. A religião trazida para o Brasil por um povo possuidor de dignidade e generosidade inigualáveis tem um texto base, o qual é inclusive codificado através de códigos matemáticos. Não podemos, nem devemos esquecer-nos que um texto, em seu sentido amplo, é um conjunto de palavras expressas de maneira oral ou escrita, que pode ser longo ou breve, antigo ou moderno.

Preciso pacientemente repetir que o texto base do candomblé é o Código de Ifá, pois um educador é educado para ser paciente. E nós, sacerdotes de qualquer religião, somos educadores de almas. Explicando ainda mais um pouco, o Código de Ifá é um sistema longo e antigo, considerado axiomático por revelar verdades universalmente dignas e válidas, ditas de maneira simples para expressar a complexa realidade da vida. Também pacientemente repito que o candomblé possui um Deus Supremo, sendo os orixás divindades que servem como intermediárias entre Olorum e os humanos. Quanto à hierarquia, este é um dos grandes e fortes pilares dessa religião milenar, tanto no que se refere ao mundo das divindades quanto à comunidade dos “terreiros”.

No mundo sagrado se tem: Olorum, orixás funfun (descendente direto do hálito do Deus Supremo), orixás vinculados ao ar, água, fogo e terra, seres humanos, animais, vegetais e minerais. Nas comunidades do candomblé a hierarquia está em tudo: nos cargos (iyalorixá, iyakekere egbomi, yaô, abian); no respeito à idade de nascimento do corpo (os “nossos mais velhos”) e à idade de nascimento, na Terra, da essência divina de cada um. Encerrarei este texto com um provérbio contido no Código de ifá: “O tempo pode ser longo, mas uma mentira não cai em esquecimento.”

Maria Stella de Azevedo Santos é Iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá.

Quinzenalmente, ela escreve para o jornal A TARDE, sempre às quartas-feiras.

Tags: Associação de Proteção aos Umbandistas e Candomblecistas do Brasil – RJ, Ilê Axé Opô Afonjá, Mãe Stella de Oxóssi, orixás –

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9 comentários

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  1. Obrigada, Tomeje. Assim que eu tiver mais materiais, postarei. Axé, axé…!

  2. No mais, sou suspeita para falar sobre Mãe Stella, ela tem sido um exemplo nas minhas buscas e descobertas sobre a religião. Sua sabedoria e simplicidade têm me feito refletir sobre muitas questões. Aliás, o sr. também tem contribuído bastante com isso. Te agradeço muito, Tomeje. Gostaria que tivéssemos tantas outras pessoas tão engajadas com a religião e com o ensinamento da mesma como o sr. e Mãe Stella. Serei eternamente grata aos senhores. Asè!

    1. Axé MSC, e nós gostaríamos de ter tantas outras como vc para nos ajudar nesta caminhada. Nas mãos de Yá Stella vc estará amparada e segura, axé e dê um beijo nela por mim. Axé, Tomeje.

  3. Fico feliz por isso, Tomeje. Mas digo ao sr. uma coisa: esse meu “espírito inquieto” já me trouxe alguns probleminhas. Rsrs. Mas penso que estes vieram de pessoas que não queriam ou não sabiam o que, de fato, faziam envolvidas na religião. Eu digo ao sr., não quero ser uma abian, quem sabe um dia uma egbomi, rebelde, etc, mas quero conhecer a minha religião e, a partir disto, poder defendê-la com conhecimento de causa. Logo, estarei aqui para ajudar no que eu puder. No mais, assim que eu tiver a oportunidade de estar com Mãe Stella, darei o beijo do sr. Rsrs. Asè!!!!

    1. MSC, e se vc me mandar um texto seu? Fale de como vc está vendo este momento de agitação/defesa da nossa religião. O que vc acha da proposta? Axé, Tomeje.

  4. Bom dia, Tomeje, a sua bênção. Só digo ao sr. que eu adorei a ideia. Assim que estiver pronto, enviarei. E muito obrigada pela oportunidade de nos dar voz, isso é maravilhoso. Asè!!!!

  5. Sim, Tomeje.

    1. enviado, Tomeje

  6. Bom dia, Tomeje. Texto enviado, ok? Boa semana. Asé!!!!

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