Mãe Valnizia de Ayrá escreverá artigos para A TARDE.

 

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Mãe Valnizia de Ayrá escreverá artigos para A TARDE.

 

 

A partir do próximo dia 17, a ialorixá Valnízia Pereira de Oliveira passa a assinar, mensalmente, artigos nas páginas de Opinião de A TARDE. Dessa forma fica mantido o espaço para a abordagem de questões diversas sob o ponto de vista do candomblé, que, desde maio de 2011, eram apresentadas nos artigos de mãe Maria Stella de Azevedo Santos, ialorixá do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá.

“Será uma experiência nova e que dá continuidade à história iniciada nesse espaço por mãe Stella, uma pessoa muito experiente e sábia. Em nossa religião temos por base o respeito aos mais velhos por entender que isso significa também avanço em mais sabedoria”, diz mãe Valnízia.

De acordo com ela, escrever é uma forma de manter o diálogo entre as artes de aprender e ensinar. “Quando a gente escreve, coloca o que está pensando para a opinião de outras pessoas. Então escrever é aprender e ensinar. Eu, por exemplo, aprendi muito com os textos de mãe Stella”, completa mãe Valnízia.

Mãe Stella deixou a publicação regular dos seus artigos em A TARDE, que eram veiculados quinzenalmente, sempre às quartas-feiras. O último foi há 15 dias.

A decisão de interromper a colaboração foi por conta de suas muitas atividades religiosas e coordenação de projetos, como o denominado “Encontro Colorido da Encantada Espiritualidade Baiana”. O projeto mantém uma biblioteca móvel audiovisual denominada “Animoteca” e especializada em diversidade religiosa.

O projeto foi sendo construído a partir de reflexões realizadas por mãe Stella também nos artigos publicados em A TARDE.

Trajetória

Líder do Terreiro do Cobre, localizado no Engenho Velho da Federação e que tem Xangô como patrono, mãe Valnízia, 55 anos, foi iniciada no candomblé no terreiro da Casa Branca para o orixá Ayrá. Ela é autora dos livros Resistência e Fé, publicado em 2009, e Aprendo Ensinando, de 2011.

Há 26 anos mãe Valnízia dirige o Cobre, fundado no fim do século XIX pela africana Margarida de Xangô, que iniciou a linhagem sacerdotal da família.

Mãe Valnízia é bisneta de Flaviana Bianchi, chamada por intelectuais como Jorge Amado e Édison Carneiro de “Flaviana, a grande”.

Consagrada a Oxum, mãe Flaviana é uma das personagens do livro Cidade das mulheres, escrito pela antropóloga americana Ruth Landes, publicado em 1947, e que é um dos clássicos da etnografia sobre o candomblé baiano.

Boas-vindas

Usando a palavra “difícil” para definir sua decisão de deixar de contribuir regularmente com os artigos em  A TARDE, mãe Stella explicou em texto, publicado dia 19, que está deixando essa atividade por conta de seus outros compromissos.

“Tomar decisões é sempre muito difícil, principalmente quando esta decisão implica deixar uma atividade que nos dá prazer e alegria. Foi o que aconteceu comigo quando precisei deixar de escrever artigos para este conceituado jornal. Foi no treinamento do desapego, que todo sacerdote precisa fazer, que encontrei a força que precisava”, diz.

A ialorixá do Ilê Axé Opô Afonjá diz que ficou tranquila quando soube que a ialorixá Valnízia Pereira vai escrever artigos para a seção de Opinião de A TARDE.

“A tranquilidade veio quando fiquei sabendo que o espaço do jornal que era utilizado por mim passará a receber, agora, os conhecimentos de outra líder religiosa. Que a ialorixá Valnízia Pereira tenha muita alegria ao empreender esta nova jornada e conte, como sei que sempre contou, com as bênçãos dos orixás”, acrescentou.

 

 

Fonte: Jornal A Tarde.

 

4 comentários

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  1. ọ́dún titun – ano novo

    De acordo com o complexo Cultural e Religioso Yorùbá, cada pessoa escolhe sua própria cabeça (orí), bem como seu destino (odù), antes de nascer.

    Além disso, acredita-se que descendemos de nosso Òrìṣà, por isso o Candomblé é considerado uma Religião de culto ancestral.

    Portanto, temos que nossa cabeça e nosso destino, são frutos do livre arbítrio e a regência do nosso Òrìṣà resulta da ascendência de cada um.

    Assim, podemos concluir, de pronto, que um Òrìṣà que seja regente de um ano inteiro para todas as pessoas e um destino específico que se imponha para todo o mundo, soam como uma grande contradição aos princípios Yorùbàs.

    Contudo, filosoficamente, podemos admitir que no campo das escolhas anteriores ao nascimento, esteja incluída a comunidade na qual aquele indivíduo irá nascer e desenvolver sua jornada.

    E considerando a forte ligação cultural, espiritual e social que as comunidades yorùbá possuíam, há que se compreender que cada ẹgbẹ́ (comunidade) tivesse preocupações com a colheita, com as guerras, com as chuvas e demais fatores de âmbito coletivo que pudessem influir nas harmonia e na prosperidade daquele grupo.

    Por isso, o olúwo, o olhador daquela comunidade, fazia no 6º dia do novo ano (ou em situações de grave crise e emergência), uma consulta ao Àgbikuà Ifá, um Oráculo específico através do qual respondem os 16 principais Odù de uma única vez. Assim, o Olhador encontraria o Odù que influenciaria aquela comunidade durante o ano novo.

    Não era uma especulação fútil, uma curiosidade irresponsável, nem muito menos oportunidade de exibicionismo do sacerdote. Mas uma forma de prevenir o bem comum daquele grupo social. Nota-se aqui uma clara distinção entre odù pessoal e odù coletivo.

    Por odù pessoal, pode se entender o destino escolhido subjetivamente e que será trilhado pelo Homem conforme a condução de seu próprio Orí. Já o odù coletivo, pode ser compreendido como influência, tendência, possibilidade, ou como destino de um povo, resultante das decisões coletivas.

    No transpassar da Cultura Yorùbá para o Brasil, criou-se o Candomblé e este solidificou-se com a constituição de Terreiros tradicionais que reproduziram, reeditaram e adaptaram os costumes e práticas africanas à nova realidade.

    Neste aspecto, cada Terreiro “matriz”, ou cada “raiz” da qual originaram diversas Casas abertas por descendentes daquele Àṣe principal, passaram a aguardar que as matriarcas e patriarcas fizessem a consulta ao Oráculo para saberem qual o odù que influenciaria nos interesses daquele grupo sócio religioso durante o ano novo.

    Vale dizer que nesta consulta, é também considerado o Òrìṣà patrono daquela raiz e a influência que ele exercerá sobre seus adeptos e seguidores.

    Com esse senso de preservação e união, muitos Terreiros tradicionais ao longo dos anos, conseguiram sobreviver a ataques, perseguições e dificuldades de toda ordem. Inclusive celebrando alianças políticas importantes e realizando rituais necessários para evitar e suplantar momentos difíceis.

    Tudo isso, é bem diferente da curiosidade provocativa da mídia e da irresponsabilidade de certos sacerdotes que se lançam aos jornais, TVs e revistas profetizando o óbvio, movidos exclusivamente pela vaidade, sem qualquer noção do que dizem.

    • Marcos em 31 de dezembro de 2014 às 16:54
    • Responder

    Pelo que entendi, não há um Orixa regente de um ano para todas as pessoas!! Determinadas comunidades podem ter um Orixa regente dependendo de sua cultura, certo?
    Eu, por exemplo, posso ter um Orixa, que não seja o meu pai de cabeça, regendo o meu ano?
    Abraço e um ótimo 2015!!

    • Marcos em 31 de dezembro de 2014 às 17:09
    • Responder

    Aos poucos vou entendendo posições tomadas por determinados sacerdotes(isas) da Bahia, que eu, como membro de determinada religião que se julgam donos de toda verdade, considerava uma atitude interesseira e infantil, quando na verdade era uma questão de sobrevivência e muito inteligente!!
    Fiquei na dúvida em relação a minha colocação sobre a regência de um ano, é Orixa ou Odu??
    Parabéns pelas palavras, o sr. é um verdadeiro Mestre!!

    1. Marcos, este texto é de autoria do meu Pai Marcio de Jagun. Agradeço em seu nome as palavras carinhosas. Obrigado, axé, Tomeje.

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