Mas então! Afinal, porque ainda insistimos em celebrar o candomblé como a nossa religião?

Mas afinal…. Porque ainda insistimos em celebrar o candomblé como a nossa religião?

É um festival de loucuras. Assistimos, atônitos, uma invasão de modismos, seja nas vestimentas, cada vez mais fantasiosas, ou no comportamento das pessoas na sala. É! De fato, um festival de loucuras. Mas… pensando bem, quem é que quer a minha opinião? Quem me pediu pra ver isso? Quem me pediu opinião mesmo????? Ninguém! O que a maioria quer é o ebó certeiro, aquele que cura, que faz acontecer, que resolve o problema emperrado, que faz o milagre acontecer. Quem o faz ou como o faz, não importa. As pessoas seguiram cegamente aquele que fizer mais milagres com menor custo. As loucuras? Finge-se que não existem ou que não estão vendo.

!!!!! Já vi de tudo nesta minha vida. Já vi pessoas dançando candomblé com carteira de cigarro na mão, com celular na mão, mascando chiclete, dando acenos para a “plateia”, com roupas colantes ou decotadas ou gritantemente coloridas. Já vi/ouvi candomblé cantado “certo” e “errado”. Já ouvi cantarem para meu Pai Ogun “A coroa de ouro é mariwo” no lugar do tradicional “akoro ajo e mariwo”. Já vi pessoas convictas que “estavam” manifestando/incorporado de uma ancestralidade/orixá. Já pinturas corporais, no mínimo, estranhas. Já vi orixá acenando com o dedão pra dizer que está de acordo.

Acho que fui aos lugares errados, viu?

Mas também já vi muita beleza em Casas de tradição que primam pela simplicidade, manutenção da sua cultura e seriedade. E olha que eu não sou de ir todo fim de semana em um candomblé diferente. Sou de ir a poucos lugares. Hoje, tenho ido a pouquíssimos candomblés. Quanto mais vejo, menos compreendo, quanto mais ouço mais me convenço que estou errado de tudo que aprendi. Uma me diz que é Djejdje pura. Mas desde quando isso é possível? Estas duas raízes se entrelaçam desde sempre. Como ser puro em alguma coisa nesta nossa cultura plural e miscigenada ainda em terras africanas? Talvez seja um alerta para não ouvir mais, para não ver mais…….!

Agora, acho que fui aos lugares certos e esbarrei com pessoas erradas, viu?

Mas então! Afinal, porque ainda insistimos em celebrar o candomblé como a nossa religião? Existe hoje um avanço de seitas eletrônicas que oferecem uma imensidão de milagres. Pastores, bispos, ungidores de todo tipo e para toda sorte de necessidade. Oferecem todo tipo de resolução vinda diretamente dos céus, de Deus, para aliviar seus males instantaneamente. Só precisam da sua fé e da sua carteira. Isso a cada dia me lembra mais as ditas casas/palácios/impérios e castelos de “fulanos e beltranos” ou, ainda, aqueles que se intitulam “fulano do diabo”, “beltrano de pomba-gira” e outros nomes que esqueceram (se é que um dia tiveram) sua origem de orixá e assumiram o personagem que lhes rende dinheiro e fama. Isso me lembra os pastores eletrônicos prontos para o bote no bolso alheio.

Há também a outra via, aquela que seguem os que “se desiludiram com religião” e agora seguem confiantes e solitários na estrada. Eu penso e repenso e não vejo mundo sem Deus ou Deus sem mundo, é uma relação complexa de amor e ódio, de crime e castigo, Romeu e Julieta. Ao mesmo tempo que a religião te frustra, te aniquila e te deixa frágil, ela te ampara, te fortalece, te anima e te eleva. Deus precisa de mim (coração em festa rsrsrs), se Deus não existisse seria preciso inventá-lo como disse o filósofo René Descartes.

Então, porque ainda insistir no candomblé? Sei que minhas ideias a esta altura do texto estão confusas, cheias de caminhos diferentes. Sinto muito, minha cabeça não para! E eu quero, e preciso, achar uma resposta para acordar todo dia e pedir um bom dia a Deus e crer que serei atendido “porque tento ser bom”. No meio de tudo isso eu creio, eu quero crer em algo.

Nosso Deus está dentro de cada um de nós, Ele não vive num altar, não vem do céu, nem do além. Ele vive em nós 24 horas do dia. A nossa ancestralidade grita forte todo dia, nos acelera em busca de algo quem nem nós sabemos o que é. Mas temos certeza absoluta, esta coisa incerta, escondida, inquieta, está lá. No horizonte. E é o candomblé que faz ir a diante, buscar isso que ao mesmo tempo é um futuro e é o meu ancestral. Uma luz, não aquela dos livros de auto ajuda, mas uma luz, simples luz que me clareia os pensamentos, volto a afirmar que esta luz que busco nada a tem a ver com iluminação/elevação, mas pensamentos iluminados para que assim, iluminados, possamos questionar e duvidar de tudo, de nós e do próprio Deus. Se nosso Deus está em cada um de nós 24 horas do dia, eu posso mesmo crer nesse Ser e apartá-lo de mim sem danos para Ele e/ou para mim? Divido!

Mas então! Afinal, porque ainda insistimos em celebrar o candomblé como a nossa religião? Grito aos meus ouvidos todos os dias que penso, e eu penso todos os dias, e por isso grito todos os dias. Mas então! Afinal, porque ainda insistimos em celebrar o candomblé como a nossa religião? Não sei o por que, estou na busca dessa resposta, só sei das perguntas que me faço todo santo dia quando me levanto e peço a benção a Deus, agradeço pelo dia e sigo em frente olhando a tal luz no horizonte. Mas eu vou continuar em frente, mesmo sem saber nada, sem entender por que cantam “errado” ou “certo”, se vestem de forma inadequada ou mascam chiclete, ou usam celulares nas rodas. Seguirei em frente confiando que mesmo estes são, também, filhos deste “Deus 24horas” disposto a ajudar e guiar. E novamente vou acordar e dormir com a mesma pergunta.

Mas então! Afinal, porque ainda insistimos em celebrar o candomblé como a nossa religião?

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