Mulheres empodeiradas.

Estamos em 2021 e ainda é de extrema importância que falemos sobre representatividade feminina nas profissões. Nesse mês de março, a Plano Consultoria está contando a história de algumas mulheres e hoje a história é sobre Ana Paula Brito, gestora de operações de nossa filial em Maricá, Rio de Janeiro.

Que você possa ouvir a própria Ana contando sobre a sua história.

Muitas Anas – tantos papéis

Quando questionada sobre quem é, Ana se define como “muitas anas”:

“A Ana gosta muito do trabalho. A Ana gosta muito de samba. A Ana gosta muito da família. A Ana é uma pessoa de muita fé e a Ana gosta muito de estudar.”

São muitos os papéis desempenhados por cada ser feminino. Já parou para pensar nisso? Como se várias mulheres se revezassem e habitassem um mesmo corpo para conseguir dar conta de algo que não é só “a vida”, mas de se fazer história na própria vida.

Por que e para o quê a Ana vive?

“A minha principal razão para viver está mais ligada ao espiritual do que a algo muito material. É uma coisa de ancestralidade, de fé mesmo. Nem sempre é assim, primeiro a gente acha que vive para a família, ou para ter algo. A meu ver, você começa a se encontrar quando começa a perceber que há algo maior, ou a gente prefere acreditar nisso. O dinheiro não dita o meu caminho”, conta de sorriso aberto.

Desafios da quarentena – Escuta

Além da complexidade de se falar sobre a representatividade feminina nas profissões, também há os aspectos relacionados a como foi diferente lidar com os desafios da quarentena entre as mulheres.

Ana conta que um dos principais desafios que a quarentena lhe ensinou no ambiente de trabalho foi a escuta:

“Tem um time que trabalha comigo e obviamente o trabalho não podia parar, pelo contrário, as demandas se tornaram maiores. Ao mesmo tempo eu tinha pessoas longe de suas famílias e com estado emocional não declaradamente abalado, mas cada um lidando como conseguia. E por mais que eu tivesse assustada, preocupada com os acontecimentos, eu tinha que me adaptar e procurar passar positividade para eles, para não deixar a peteca cair mesmo. Por diversas vezes eu precisei não ser a Ana Paula gestora, mas sentir as pessoas à minha volta, ligar fora do horário para falar sobre outros temas, para tentar amenizar o clima difícil. A escuta foi um exercício, muito bom por sinal.”

Caminhos profissionais que revelam algumas das Anas

“A Ana, apesar do sotaque é uma carioca híbrida. Sou carioca, mas fui para a Bahia com vinte anos e morei lá por dezoito anos. Sou da zona oeste do Rio. Minha mãe é empregada doméstica, tinha dificuldades para pagar meu estudo. Então eu cheguei a ir sozinha aos dezesseis anos na porta de uma escola para pedir bolsa. Por quê? Porque eu quis pedir, consegui e depois disso as coisas foram acontecendo. Arrumei um emprego em escritório e resolvi um belo dia (quando meu pai faleceu, fiquei perdida no Rio), ir embora para a Bahia. Lá fiz um concurso público, passei, me formei em Administração, fiz pós-graduação em Auditoria, fiz duas outras pós-graduações em Gestão Pública e foi crescendo, fui participando de alguns grupos nacionais, dentro da área profissional”.

Ana conta que seu caminho de especialização em gestão pública teve muito a ver com a própria história de vida, com as dificuldades de acesso, ainda que não tenha tido o conhecimento tão claro disso naquela época:

“A luta por fazer com que as coisas pudessem funcionar um pouco melhor num pequeno quadrado, veio muito disso, de uma história. Fui por esse caminho e depois enveredei para a consultoria, porque quando estava concursada, comecei a achar que estava em uma caixa pequena demais. Pensava: preciso expandir, eu sou um ser com necessidade de expansão contínua, isso faz com que eu me mova”, conta.

Representatividade feminina da mulher negra no universo profissional

Se já é complexo falar sobre representatividade feminina nas profissões, se torna ainda mais quando é observada sob a perspectiva da mulher negra.

“A representatividade feminina por si só, apesar de a gente estar ocupando muitos espaços, está muito aquém, já que somos maioria. Se eu atrelar isso à questão da mulher negra é muito mais complicado. Por diversas vezes eu tive que provar que eu sabia. Eu tenho que brigar para ter fala e tem que ser uma briga inteligente, estratégica. E brigar não é grito, é saber se colocar. É desgastante demais. Ainda vemos muito isso no ambiente corporativo. Quanto mais alta a posição, mais branca ela está, não que eu tenha problema com isso, mas você percebe uma segregação, eu já tive algumas experiências antes da Plano.”

Ana acredita que há muito o que fazer e que o caminho é pela educação:

“É com luta, eu não vou ceder. Eu faço parte de alguns movimentos de combate ao racismo e à desigualdade na minha vida particular. Nas minhas palestras eu falo, eu tenho todas as características que infelizmente a sociedade tem preconceito, preconceito velado, porque quando ele é declarado, você consegue se defender, mas velado não. Eu sou mulher negra, de origem pobre a ainda sou de uma religião de matrizes africanas. Mas com o tempo, você vai amadurecendo e sabe que a doença está no outro, ele não pode me agredir. Desde que ele não me agrida, ele pode continuar se incomodando com a minha presença e eu sigo o meu caminho.”

Mas ela expõe o contexto de que nem todas as pessoas são assim:

“Eu não quero mais falar para os meus que eles são vítimas da sociedade, já que tem todo um fator histórico agregado a isso. Mas eu preciso dizer a eles: vocês precisam se levantar. Vocês não têm que ficar no quadrado que foi imposto. E o caminho é a educação. É difícil? É! Você vai ter que trabalhar o dia inteiro, estudar a noite, chegar chorando porque não conseguiu fazer tudo, mas é o caminho que tem, porque qualquer outro caminho que tentarem vender não vai dar o resultado esperado. É o caminho que trilhei e é o caminho que eu tento passar para as pessoas”, acredita.

Ana conta que tem participado de alguns movimentos e conversado com alguns acadêmicos, sobre não achar justo que as universidades públicas, que são as universidades que as empresas mais valorizam no currículo, só tenham aula durante o dia.

“Isso não oportuniza que a classe trabalhadora sequer cogite estudar. Não estou falando nem em questão de cota. Estou usando o meu exemplo. Fui tentar fazer um mestrado agora e não tem como, porque as aulas são durante o dia, em horário variado, o que não faz sentido. Então as universidades têm várias teses falando de desigualdade e combate ao racismo, mas uma bandeira tão simples poderia ser trabalhada, ter horário à noite, isso é trabalhar a isonomia.”

Ana conta sobre a sua experiência em Maricá:

“Quando surgiu o convite para eu vir para cá, eu não conhecia as pessoas. Tive que montar a equipe do zero. Não sabia o cenário que iria encontrar, mas foi uma ótima decisão. Estou aqui desde 2018. É um trabalho denso e que num primeiro momento pede para conquistar a confiança do cliente, para que entenda que pode contar comigo, para que eu possa ter acesso. Depois de uns seis meses, aconteceu, de maneira que a gente tem grande demanda. É um ambiente bem desafiador, mas eu gosto”, conta.

Principais desafios da representatividade feminina nas profissões

Para Ana, se a mulher quiser se destacar profissionalmente, de um modo geral, deverá enfrentar alguns desafios, como:

“Falo não apenas sobre o que tenha necessariamente ocorrido comigo. Mas a mulher, no geral, enfrenta o machismo, porque a mulher tem que ser doce, mas quando ela é doce o tempo inteiro, ela é tratada como incompetente. Se ela é um pouco mais dura, ela é histérica. Eu falo termos que eu já ouvi, isso quando não dizem que estamos de TPM. Então é uma questão mais social, de racismo, de preconceito de gênero, que muitas vezes o homem nem enxerga. E eu não tenho problema nenhum em fazer qualquer pessoa abrir os olhos. Porque se eu perceber que estão me tratando de alguma forma diferente, seja porque sou mulher, porque sou negra, ou qualquer razão, vou educadamente dizer à pessoa que estou com essa impressão e de que não estou gostando”, declara.

Além dessas questões, Ana também fala sobre outras como assédio, de um modo geral, no ambiente corporativo.

Poder da ancestralidade e privilégio branco

“E ao mesmo tempo, pelo fator histórico, eu não posso condenar as pessoas brancas em lugar de privilégio. Eu desejo que as pessoas compreendam esse privilégio e que não se incomodem com o crescimento de outra classe. Eu não posso ser agressiva com as pessoas, não foram elas que chicotearam os meus ancestrais, elas só precisam entender que o negro e a mulher negra principalmente, não é inferior, porque ela não teve oportunidade de estudo. Minha mãe estudou até a quarta série, mas foi a pessoa que mais me ensinou a trabalhar. Então se eu faço hoje mestrado, o orgulho dela é esse.”

Ana acredita que o valor que dá ao trabalho, seja ele intelectual ou braçal, está intimamente ligado à mãe, que trabalhava dia e noite para colocar o alimento na mesa.

Mulheres que inspiraram Ana em sua jornada

“Inevitavelmente minha mãe, que é uma pessoa que me ensinou o que é dignidade, ser correta. Tirando a minha mãe, as mulheres da minha história ancestral”, finaliza.

A história dela te inspirou? Quais mulheres te inspiram?

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