Mulheres lindas e guerreiras
Valnizia Pereira Bianch
Ialorixá do Terreiro do Cobre
No último domingo comemoramos o Dia Internacional da Mulher, embora, para mim, essa data seja diária. Quero, portanto, falar de mulheres como minha bisavó Flaviana Bianch. Ela veio da África ainda pequena com a mãe, Margarida de Xangô, que instalou na Barroquinha o Terreiro do Cobre. Lá ele funcionou até que Flaviana, há 127 anos, o trouxe para o Engenho Velho da Federação, onde permanece até hoje.
Foram guerreiras, como a minha mãe Moura ou Maura – seu nome de batismo. Ela teve 13 filhos e criou a metade deles sem o companheiro e nosso pai, pois ele morreu quando eu tinha 11 meses. Para ganhar dinheiro, minha mãe carregou água, trabalhou como lavadeira, doméstica e fazia bolachinhas de goma e sequilhos para vender e poder completar a renda.
Desse grupo de batalhadoras fazem parte Mãe Tatá, ialorixá do Terreiro do Engenho Velho Casa Branca, conhecida pelo amor, carinho, respeito e dedicação aos orixás e à comunidade; a linda e saudosa Iyá Nitinha de Oxum, que ajudou muito o candomblé, deixando centenas de filhos iniciados; Mãe Stella de Oxóssi, ialorixá do Ilê Axé Opô Afonjá, que, com sua experiência e inteligência, enriquece a nossa tradição religiosa.
Vale também destacar: Lélia Gonzáles, que tanto lutou pelos movimentos negro e de direitos humanos; Vilma Reis, socióloga, que trabalha pela formação de mulheres jovens; Yeda Pessoa de Castro, sempre empenhada na construção de uma sociedade melhor; a professora Makota Valdina Pinto, educadora de tantos jovens do Engenho Velho da Federação e adjacências, que batalha pela valorização do candomblé de nação angola-banto; Alaíde do Feijão, que criou seus filhos vendendo sua deliciosa feijoada; professora Ana Célia da Silva, incansável militante do movimento negro; Ivone Lara e Clementina de Jesus, que com suas vozes lindas, fortes e únicas encantam os nossos ouvidos.
Quero homenagear ainda Olga Mettig, por sua luta pela valorização do magistério; santa Irmã Dulce, religiosa da Igreja Católica que dedicou a vida ao amparo dos mais pobres e doentes; Ana Alice Costa, fundadora do Neim-Ufba e militante pelos direitos das mulheres; Amabília Almeida, única mulher do grupo de parlamentares que redigiu a Constituição do nosso estado; e Lídice da Mata, primeira mulher a assumir a prefeitura de Salvador e ser eleita senadora pela Bahia.
Gostaria de citar outras, mas o texto tem limite. Portanto, a partir das citadas, parabenizo todas, em especial as mulheres do Engenho Velho Casa Branca, que são minhas irmãs, mãe e tias de santo, e as do Terreiro do Cobre, minhas lindas filhas. Peço a Deus que continue a fazer surgir mulheres como essas e que a sociedade reconheça os seus valores e dê o espaço que elas merecem. Imagino estar incluída nesse grupo de guerreiras, mas não posso ter a pretensão de falar sobre mim. Como acho que sou um ser humano do bem, vou deixar para que outros falem (risos). Que Deus abençoe essas mulheres e suas famílias, pois só Ele pode tomar conta dos filhos daquelas que, para trabalhar e estudar, precisam deixar suas crianças tomando conta umas das outras, em creches ou até sozinhas, à mercê dos perigos da vida.
Fonte: Jornal A Tarde
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