O ILÉ IBỌ AKÚ: Texto de Pai Marcio de Jagum

O ILÉ IBỌ AKÚ:

 

A Casa da Morada da Morte, ou a Casa de Adoração dos Mortos, é um local reservado nos Terreiros de Candomblé.

É importante diferenciar o Ilé Ibọ Akú, quarto existente nos Terreiros Lesé Oriṣa – onde são assentados e cultuados os Esás, dos quartos e dos assentamentos do culto Egúngún, dos Terreiros Lesé Igbalé.

Os esá são os espíritos dos ancestrais daquela comunidade; enquanto os eguns são espíritos dos parentes diretos de determinados clãs, ou famílias.

Os esá são espíritos daqueles que em vida exerceram importante influência naquele egbé. São antigos fundadores daquele Axé, ou patriarcas da Religião, ou ainda oloyês que exerceram funções relevantes naquele Terreiro.

A disposição geográfica do Ilé Ibọ é geralmente em local afastado e de pouco acesso. Lá só entram as pessoas autorizadas diretamente pelo esá, ou pelo sacerdote.

O quarto que constitui o Ilé Ibọ Akú é pequeno. Pode ser de alvenaria, madeira, ou sopapo, coberto com sapê, ou mesmo com telhas. Não possui janelas e sua porta em geral é cortada na horizontal, para demonstrar que a vida ali foi extinta.

O piso do Ilé Ibó até pode ser cimentado, mas o local onde o assentamento pousa, deve ser direto sobre a terra. A mesma terra onde o antepassado pisou enquanto vivo. A mesma terra que o recebeu de volta quando morreu. A terra é a única mãe que se abre para receber seus filhos de volta.

O propósito de cultuar os esás no Ilé Ibọ Akú, é manter viva a tradição, diretamente vigiada pelos ancestrais. O culto aos esás não permite que as tradições sejam pervertidas, pois se enquanto vivos os ancestrais lutaram por ela, agora após a morte, permanecem como seus guardiões e como suas grandes referências.

O assentamento dos esás é simples, como simples é a morte. Resguardadas as variações de cada Casa, é pacífica a utilização de pratos, alguidares e lama. A mesma lama fundamental à vida, agora representa a morte, dando sentido à continuidade do ciclo das encarnações (atunwá).

Também é comum a ornamentação interna do Ilé Ibọ com tiras de panos dobrados na vertical, símbolos dos antepassados. O mesmo símbolo usado pelas matriarcas do Candomblé em seus ombros (os panos da costa).

Sempre que novos adeptos forem iniciados naquele Terreiro, deverão ser apresentados ao esá, próximo à porta do Ilé Ibọ Akú. Esta é uma prática de respeito aos mais velhos. Um pedido de licença aos fundadores e antigos guardiões do Axé. É também um gesto de agradecimento, pois se ali estão, devem reconhecimento aos que existiram antes.

O Candomblé é uma Religião de culto aos ancestrais. Assim, os Oriṣas são os antepassados divinizados, enquanto os esá são os ancestrais que, embora não divinos, merecem respeito, reverência e gratidão. Não é possível evoluir sem entender o passado. Não é possível esperar o futuro sem aprendermos a agradecer o presente. O Homem pisa no destino, com a herança dos seus ancestrais.

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Rio de Janeiro, 03/713.

Márcio de Jagun.

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