O PAPA E O CANDOMBLÉ

O PAPA E O CANDOMBLÉ:

Recentemente temos assistido surpresos ao novo Papa Francisco dar inúmeras demonstrações de mudança no comportamento tradicional de um Pontífice.

O Papa Francisco abriu mão do crucifixo de ouro, dos sapatos de pelica vermelhos, da limusine oficial, quebrou o protocolo e abraçou fiéis, sugeriu que líderes governamentais de nações pobres abrissem mão das viagens para assistir seu entronamento, doando os valores correspondentes aos miseráveis de seus países. Tudo isso em menos de uma semana, desde que seu nome foi escolhido no conclave.

E o que tem Francisco com o Candomblé? Tudo! Embora o líder da Igreja Católica não tenha qualquer influência direta sobre o Candomblé, não há dúvidas de que seu exemplo está repercutindo em todo o país.

Daí surge a reflexão: se ele pôde trazer ares novos para a Igreja Católica apenas com sua mudança de comportamento, o que nós, sacerdotes de Candomblé, podemos fazer para melhorar também nossa Religião a partir das nossas posturas?

Todos nós sabemos o que o Candomblé não quer mais! Todos nós sabemos do que a Religião precisa! Não precisamos de congressos para identificar isso. Precisamos de congressos, talvez, para implementar isso! Para colocarmos em prática os meios de mudança!

Só que essas mudanças, a exemplo do que demonstrou o Papa Francisco, não serão implementadas de baixo pra cima.

Assim também será conosco, no Candomblé. Somos nós, os sacerdotes, que devemos assumir as rédeas da Religião e promovermos as mudanças. Não as mudanças rituais, mas as mudanças de hábito. Somos nós que devemos nos comportar melhor dentro das nossas Casas de Santo. Respeitando os visitantes, tratando-os bem, com fraternidade e não com “carões”. Somos nós que devemos respeitar nossos Orixás, não oferecendo iniciações precipitadas e descabidas em troca de um carro novo. Somos nós que precisamos parar de vender a Religião através de ebós como se eles pudessem trazer de volta a mulher amada e matar o inimigo.

O exemplo de Francisco é bem vindo nesse sentido. Enquanto perdemos tempo falando mal uns dos outros, poderíamos, ou melhor, deveríamos, mudar nosso próprio comportamento. Com isso, ensinaríamos também aos nossos filhos, que são nossos reflexos, a promover uma Religião melhor.

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Rio de Janeiro, 20 de março de 2013.

Márcio de Jagun

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