Resolvi voltar aos textos.

Desde a última vez que me propus escrever lá se vão alguns anos de silêncio. Mas o silêncio foi fundamental, pois aprendi a ouvir mais que falar e, agora, acho que estou pronto para voltar às teclas.

Tenho percebido tantas pessoas se dizendo “de candomblé” mas quem no fundo, mau conhecem suas próprias raízes religiosas, não conhecem seus mais velhos, suas Casas Matrizes. Mas teimam em se denominar ou se intitular os “donos da verdade”, os Reis do candomblé. Fico pensando oque levou estas pessoas a isso…

Tenho visto pessoas perdidas, desgarradas, sozinhas, sem rumo e sem orientação. E do outro lado daquele imenso balcão, de mármore frio, que se transformou boa parte da nossa religião, os tais “Reis”, prontos para ensinar ebós mirabolantes, curas infalíveis e rezas novas. Os reis estão esquecendo ( na minha opinião eles nunca tiveram) a humildade do silêncio, de permanecerem mudos diante da presença do Orixa. Os Reis falam demais por não terem nada dizer.

Tenho percebido que as pessoas a cada dia querem o milagre do fácil, do rápido, seguro e barato. Querem do Orixa aquilo que Ele não tem para dar. Orixa não conhece hora, não tem tempo, não mede nosso esforço pelo tamanho ou peso ou sexo da galinha ou galo ou cabrito. Orixas dá aquilo que precisamos ter no exato tempo que podemos ter, e isso se deve a nossa própria capacidade e sabedoria de pedir estritamente aquilo que é de nossa competência receber.

Na maior parte das vezes as pessoas vão ao jogo com uma lista de desejos a serem realizados. Outros vão com listas de iniciações prontas. Outros vão com inúmeras dúvidas. E poucos vão como uma folha em branco, dispostos a serem preenchidos pelos ensinamentos daquele que o atende, que lhe abre o jogo e o coração.

Como sempre repito, imolar um animal é fácil. Difícil é obedecer as determinações do jogo, seguir as orientações do Orixa, da Casa de Axé ou modificar o seu interior. E é exatamente este ponto que traduz o “verdadeiro” “sacrifício” e, isso, poucos querem compreender ou tem capacidade de fazer/compreender. E, enquanto isso, aqueles Reis citados anteriormente, continuam a vender uma religião que eu nunca vi, não conheço, não compactuo, não reconheço.

Mas no fundo sei que muitos a querem desesperadamente. Solução fácil para os problemas das almas atormentadas daqueles que buscam o que nem mesmo sabem o que é. Mas buscam, por que todos ao seu redor vivem lhe dizendo que conseguiram a tal da felicidade. E estes buscadores daquilo que julgam ser felicidade, continuam na sua jornada, de Casa em Casa, de Rei em Rei.

Precisamos mudar as lógicas, silenciar os Reis, calar as vendas de milagres, falar alto sobre a simplicidade da religião e da busca pelo possível, pelo seu merecimento, pelo amor descompromissado do Orixa por nós. Precisamos falar mais de fraternidade, de ajuda, de carinho, de amor ao irmão de Axé e de simplicidade na vida.

Não, não voltei melancólico, muito menos, triste. Pelo contrário. Da mesma forma que sempre falei com tranquilidade e sinceridade a todos que me leram até agora. Este é um momento de amadurecimento religioso que me deixa muito aberto para falar destes assuntos  de corpo e alma escancarados, pleno.

Tenho visto muitos decretando o fim da nossa religião, a falência das nossas tradições, o afastamentos dos nossos orixas. Não concordo, tenho fé em orixa e nas pessoas de bem. Tenho visto modificações espantosas nas pessoas, nos comportamentos, nos temperamentos. Só não vejo mudança nas tradições e nos orixas, esses, continuam os mesmos, a espera de nós. Mas precisamos primeiro nos encontrar conosco. Axé e felicidade meus queridos. Tomeje, sou do Ogun.

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