Sobre a famigerada e delinquente gravura…

SOBRE A FAMIGERADA E DELINQUENTE GRAVURA…

Temos Ògún, mas será que estamos prontos para a Guerra contra os Gladiadores do Altar?

O Exército de um Deus que não ama o próximo

Fato é que os últimos acontecimentos são, no mínimo, preocupantes. Como se já não se bastassem mais de 300 anos de perseguição e de crimes de intolerância religiosa, eis que surge a novidade: um exército de jovens bem treinados pela Igreja Universal que promete dar as próprias vidas pelo “Senhor”.

Daí eu me pergunto: que senhor é este que pede a vida de seus jovens como sacrifício? E mais, até onde estes sacrifícios colocam nossa liberdade de crença em “xeque”?

Vale lembrar que o Deus hebreu do antigo testamento exigia sacrifícios de toda a sorte, incluindo o da própria vida. Porém, a filosofia de Jesus Cristo levou por terra toda a rigidez do Velho Testamento e trouxe para a modernidade o lema de “amor ao próximo como a si mesmo”.

Fato que me chama a atenção também, foi ver uma imagem do líder Bispo Macedo apresentar sua banheira de ouro maciço, como lugar onde, segundo ele, faz contato direito com o Senhor. Pensemos: Será o Senhor que se comunica com Macedo na banheira de ouro, o mesmo a quem esses jovens entregarão suas vidas?

Respeito o sacrifício religioso. Respeito até quem dê a própria vida por uma força maior. Só não posso aceitar que esse sacrifício signifique uma guerra declarada contra o meu Povo de Àṣẹ e outros movimentos sociais que, assim como nós, são constantemente atacados pela Fé Cega que assiste a Record.
O argumento de “projeto social” usado pela Igreja não nos convence, pois o passado e o presente têm nos marcado como caças de Fanáticos Evangélicos, que desde sempre tentam nos impor seus dogmas goela a baixo da maneira mais violenta possível. Seja demonizando nossa Fé em rede nacional, seja ateando fogo em terreiros, agredindo fisicamente nossos sacerdotes, ou provocando a morte dos nossos mais velhos, como aconteceu com Mãe Gilda na Bahia.

Para quem não sabe: Mãe Gilda foi a Ìyálòrìṣà baiana que faleceu após agravamento de problemas de saúde quando viu sua foto estampada no jornal da IURD que a insultava com os dizeres “charlatã”, “macumbeira”, dentre outras calúnias. Infelizmente, foi preciso que Mãe Gilda desse sua vida para que fosse instaurado o Dia de Combate à Intolerância Religiosa no Brasil, a saber, 21 de janeiro.

Ao perdemos Mãe Gilda desta maneira, preocupa-nos saber que estamos às margens da História, às margens da sociedade nitidamente racista e intolerante. O pavor maior é que este mal se repita de forma sistemática e que as vítimas deste exército religioso de aparência fascista, pleiteie uma “Guerra Santa” contra os adeptos das religiões afro-brasileiras.

Se você ainda não sabe do que estou falando, por favor, assista a esse vídeo: http://migre.me/oTlbb

Falo de Ògún no início do texto por ser impossível falar de Guerra e não falar do Guerreiro das religiões afro-brasileiras e por sabemos que não nos desampara nas lutas da vida. No entanto, é preciso dizer que para o momento, não podemos só esperar pela intervenção sagrada e pensar que tudo está nas mãos do nosso Guerreiro que se veste de Mariwo. Ele nos protege sim, mas pede que nos organizemos. Não digo como exército que matará em seu nome, mas como sociedade religiosa que luta por um ideal maior: O direito de expressão de Fé e Culto assegurados.

É lindo que as pessoas comentem: “Eles podem vir que eu tenho Ògún na porta.” e coisas do gênero, mas sugiro que além de bem cuidarmos de Ògún, nos preocupemos com a situação que transcende os portões do Ilé, do vizinho e dos meus desafetos. O problema é da comunidade e mesmo que tenhamos muito para fazer dentro de nossas casas, já passou da hora de criarmos um posicionamento efetivo dos povos de religiões afro-brasileiras e ir à luta democraticamente.

Cabe a cada um de nós, e aos movimentos sócio-religiosos, ficarmos atentos e pressionar os poderes competentes para que estejam em alerta com relação às intenções da Igreja Universal no que diz respeito à criação dos “Gladiadores do Altar”, tendo em vista que em nossa legislação, é inaceitável uma militarização para fins religiosos.

Vivemos num país laico, mesmo que em tese, e se o Estado não se posiciona, é dever da sociedade descruzar os braços, acabar com as birras de terreiro para terreiro, de nação para nação e começarmos agir, pois quando os “Gladiadores” chegarem, as primeiras coisas que vão chutar são os ìgbá de Èṣù e Ògún que cuidam dos nossos portões.
Será que o Brasil está entrando nos tempos dos possíveis assassinatos em nome do Deus que se comunica com seu servo de dentro de uma banheira de ouro maciço?

Será que retornaremos às Cruzadas quando os exércitos da Igreja executaram milhares de pessoas na Europa em nome deu um Deus que exigia toda a riqueza possível?

Será que retornaremos à Santa Inquisição na qual inocente queimavam nas chamas das grandes fogueiras por ter como animal doméstico um gato, uma coruja, ou por falar um “palavrão” ou por tecer críticas democráticas para com os dogmas da Igreja?

Em que tempo estamos entrando?

Roger Cipó em parceria com Gill Sampaio Ominirô, Professor, Antropólogo e Candomblecista.

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