Tudo, absolutamente tudo no Candomblé tem um significado

Texto gentilmente cedido por Pedro Xavier, Abian Pedro de Yemonjá.

Tudo, absolutamente tudo no Candomblé tem um significado. Seja prático e/ou simbólico, mas tem. Digo isso, depois de mais de quinze anos vivendo e estudando minha religião.

Algumas pessoas fazem um Candomblé do Harry Potter. Acreditam que misturando dois ingredientes enquanto falam meia dúzia de palavras difíceis elas terão uma poção mágica ou algum tipo de feitiço como o Expelliarmus ou Avada Kedavra…

Para mim, a grande mágica do Candomblé está em entender a Filosofia dos Orixás, em saber à que mito está relacionado cada ritual e o significado de cada um deles.

Eu não espero ver surgir do assentamento um Aladin que me conceda três desejos…

Aprendi com meu pai que não adianta acender uma vela e me sentar ao lado dela. Eu acendo a vela e vou à luta. Rezo e peço ao meu Orixá que me torne forte e hábil para enfrentar aquela situação.

E por que essa reflexão agora?
Por que tenho visto cada vez mais pessoas sentadas ao lado da vela. Filhos-de-santo do Harry Potter esperando surgir um Aladin do igbá.

Sem conhecer a história da Ekodidé, ela não será mais que uma pena vermelha presa na sua testa. Sem entender a razão para rasparmos nossa cabeça durante a iniciação, não haverá diferença entre o momento religioso e a máquina zero. Sem saber o motivo de respeitarmos a sexta-feira, não haverá por que respeitá-la.

Não se intitule do Candomblé sem conhecer, respeitar e praticar o Candomblé, com sua filosofia, liturgia e conceitos!

Não adianta ser feito, pular nome, tomar sete anos e continuar esperando o Aladin, sem saber contar a um mais novo o porquê de Exú comer farinha e Oxalá usar não gostar de dendê.

Não sou iniciado não, mas bato no peito e digo com muito orgulho que minha compreensão da vida a partir do Candomblé e minha contribuição como abian é muito maior que a contribuição e compreensão de muitos ebomis a quem eu tomo a benção, mas que não sabem a diferença entre um obi e um orobô.

E aqueles que se valem do “é assim mesmo e pronto”, ou aqueles que vivem a espera do tal gênio da lâmpada, aconselho tomarem o próximo trem pra Hogwarts na plataforma Nove e Três Quartos da Estação King’s Cross, em Londres.

Ah, e o Aladin não mora em Hogwarts? A Bença!

 

Pedro Xavier, 07/01/2015.

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