ZOMADONU:

ZOMADONU:

Na cidade daomeana de Abomé, são cultuados os chamados Tohosu, conhecidos como “reis das águas”. Essas divindades são adoradas pela família imperial da região.

Zomadonu era um príncipe anormal, nascido filho do rei Akaba (que reinou no Daomé entre os anos de 1680 e 1708) e da rainha Kuande.

Sempre que um Tohosu vem à Terra, encarna no corpo de uma criança portadora de graves anomalias físicas, consideradas mesmo como monstruosidades.

A presença de um Tohosu entre os humanos era compreendida como descontentamento dos deuses, uma espécie de aviso para que a ordem se restabelecesse.

Segundo Verger, era costume, à época, que as crianças nascidas com este tipo de anomalias fossem jogadas no rio, sendo devolvidas ao reino dos Tohosu, onde depois eram imolados animais para apaziguar sua ira.

Segundo a lenda, a rainha Kuande, quando estava grávida de Zomadonu, teve uma gravidez muito penosa e agitada. Conta-se que algumas vezes a barriga, já grande, deslocava-se para as costas, para o peito e às vezes desaparecia só se mostrando novamente dois ou três dias depois.

Apavorada com isso, a parteira real que acompanhava a gestação da rainha, fugiu abandonando o reino.

Quando Zomadonu nasceu, tinha seis olhos (sendo 2 na testa, dois atrás da cabeça e dois no peito); já tinha dentes, barba e cabelo, sendo capaz de andar e de falar imediatamente após o parto. Zomadonu teria nascido ainda com um quisto cebáceo nas nádegas tão grande, que se arrastava no chão enquanto ele andava.

Em um dia, o quisto cresceu tanto que Zomadonu entrara dentro dele e saíra rolando. No outro, Zomadonu transformara-se em uma ave enorme que pescava peixes no riacho e cantava. Noutra ocasião, voltava a ter a forma humana, mas sumira do reino sem deixar rastros.

Alguns pescadores diziam ouvir a grande ave beirando o rio cantar e dizer que era Zomadonu, filho de Akaba. Seu pai, ordenou que procurassem Zomadonu por todas as partes, mas ninguém encontrava o príncipe defeituoso.

Cada rei do Daomé cultuava ao menos um Tohosu e para cada qual foram erigidos Templos. Contam-se hoje cerca de 26 Tohosu, sendo Zomadonu o mais velho deles.

No Daomé, somente após o culto aos Tohosu, é que são realizadas as cerimônias aos demais voduns, como Lisá, Mawu, Hevioso, Sapata, etc. Isto, porque a dinastia dos reis de Abomé fazia questão de realçar a soberania dos seus ancestrais divinizados, sobre os demais cultos que foram introduzidos em seu reino.

No bairro de Lego, em Abomé, existe um Templo específico para adoração de Zomadonu. Mas em outros locais de culto da cidade, pode ser vistas pinturas de uma grande ave conhecida como Gonofo, considerada uma das metamorfoses de Zomadonu.

No Brasil o culto a Zomadonu ficou restrito à Casa das Minas, em São Luis do Maranhão, de tradição Jêje-Mina. Lá, o vodun Zomadonu é reverenciado no primeiro dia do ano, ao pé de uma grande cajazeira. Nesta arvora sagrada, não se sobe, não se cortam os galhos, não se tiram as cascas e não se comem os frutos, à exceção daqueles que caem no chão.

Naquele Terreiro, Zomadonu é considerado protetor das primeiras donés, as matriarcas da dinastia Jêje-Mina em nosso país.

Márcio de Jagun

Babalorixá, escritor, professor universitário, advogado e apresentador do Programa Ori (ori@ori.net.br)

 

 

 

 

 

 

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