Poema de Ifá: A luta entre Ifá e o Ajé
“NI ÒRÚNMILÁ BÁ TI ÀSÉ ÈSÚ BONU”
– Então Òrúnmilá colocou o àsé de Èsú em sua boca.
O ser humano sempre questionou o motivo de sua estadia sobre a Terra e, principalmente, o mistério que envolve o seu futuro. A insegurança em relação ao porvir fez com que o homem tentasse, de diferentes maneiras, prever o que lhe estava reservado, precavendo-se desta forma, da má sorte, ao mesmo tempo em que assegura a efetivação de acontecimentos tidos como benéficos. Muitos são os processos utilizados nestas finalidade e, no decorrer dos séculos, diversos sistemas oraculares fora desenvolvidos e consultados com maior ou menor possibilidade de erros e acertos. Dentre os sistemas oraculares utilizados pelas pessoas na ânsia de descobrir o futuro ou contatar as deidades com a finalidade de desvendar o motivo de suas provocações, destacamos alguns como a Cartomancia, a Quiromancia, a Geomancia e a Astrologia, que por sua popularidade e contabilidade, continuam a ser muito solicitadas nos dias atuais. Quase todos os oráculos, independentemente de sua origem cultural, tendem ao aspecto religioso, sugerindo sempre uma prática ritualista de caráter muito mais místico que científico. No Brasil, o sistema divinatório mais amplamente divulgado, aceito e praticado, é o popularmente denominado “Jogo de Búzios” que tem sua origens nas religiões africanas, mas especificamente no culto de Òrúnmìlá, o Deus da Sabedoria e da Adivinhação. O presente trabalho apresenta-se como uma proposta essencialmente didática que por isto mesmo, não assegura à pessoas não iniciadas o direito de ter acesso ao oráculo. Pois como será explicado mais adiante, o Jogo de Búzios, como quase todos os demais processos adivinhatórios, tem como pré-requisito a iniciação por parte do adivinho, assim como a consagração dos objetos concernentes à prática oracular. Segundo alguns Babalawo, somente eles podem através do Jogo dos Ikins, determinar o ODÚ de qualquer pessoa. Isto é contestado em várias literaturas sobre o assunto, com muita veemência. O que podemos afirmar, é que qualquer pessoa habilitada a consultar o Oráculo, pode através dos búzios, “sacar” o ODÚ pessoal de quem quer que seja, sem que para isto o interessado tenha que ser submetido a qualquer tipo de iniciação e que este tipo de procedimento é indispensável para todos os iniciados e iniciandos. O princípio do ÀSÉ está presente em todos os elementos naturais animados e inanimados e é oferecido ao homem através do seu ÒRÍ pelo ÈSÚ. Èsú é também o portador dos sacrifícios e oferendas, OJISÉ-EBÓ – carregador de ebó. O ebó é o ato pelo qual o homem devolve a natureza parte daquilo que recebeu e pleiteia novas benesses. O ebó renova o Àsé pessoal, presente nos assentamentos do ofertante, ou seja, nos objetos rituais nos quais se fixaram os seus compromissos com seu ÒRÍSÀ (dono do ÒRÍ). Esú conduz o ebó ao destinatário, o ÒRÍSÁ, que, interdependente do Òri do próprio homem, recebe a oferta, reforça e acrescenta o ÀSÉ, que outra vez é trazido pelo Èsú para permitir ao ofertante a mudança da realidade e do destino desejado. Dar-receber, e, síntese de acrescentar é a ação de ÈSÚ OJISÉ-EBÓ, integrando dialeticamente o homem ao mundo exterior. É o ato que reintegra o indivíduo na harmonia cósmica pela absorção e restituição de energia, princípio mesmo a existência humana. A posse do ÒRÍ pelo ÒRÍSÁ não se confunde com a despersonalização total e posse mediúnica dos terreiros espíritas de “macumba”. Os “encantados” (Iyawô e Eleguns = mulheres e homens iniciados na roda de encantados), não se despem da sua personalidade, mas acrescentam ao seu ÒRÍ, as forças vitais da natureza e de sua comunidade sintetizadas em seu Òrísá. Não se tornam uma entidade alienígena, superior, divina ou santa. O Òrísá manifestado não precisa falar comer ou beber para se expressar. A sua dança característica o identifica e expressa a energia de sua presença. Na concepção Yoruba, o humano possui 3 elementos associados que olhe permitem atuar como ser vivo: ARA / EGBÉ – corpo material; EMI – a respiração (energia vital que anima o EGBÉ) e o ÒRÍ – a mente ou a cabeça (o mais importante, dotado originariamente de uma herança ancestral). “Nenhum desses elementos, entretanto, quando dissociados, possui personalidade própria, e tanto o EMI como o ÒRÍ não correspondem à idéia cristã ou espiritualista de alma”. O EMI, separado do EGBÉ permanece como energia pura, podendo animar qualquer outro ser. O ÒRÍ, como vimos, porta a esperança ancestral sintetizada e implícita nos 4 elementos: OMI (água), IBI ou ARÔ ou ILÊ (terra), INÁ ou GBINÁ (fogo) e AFEFÉ (ar). Estes elementos que permitem a fixação do Orisá no Orí, de acordo com sua identificação ou tendência, como, por exemplo: Sangò – INA; Omolú – ILE; Osun – OMI e Osalá – AFEFÉ. Pela iniciação se dá a recriação do Ser na integração definitiva do EGBÉ e EMI com Orí, através da “feitura da cabeça”. É ainda o SEU, no BARA, que sintetiza dialeticamente as entidades ligadas ao funcionamento fisiológico do indivíduo: ANUN (GEGE) / ENU (boca), AGBENDÚ / INU (estômago), EYA (sexo) e WIWI / IFÓHUN / ORÓ (fala). O Ser adquire sua personalidade definitiva com o BARA, com a síntese do EBGÉ com o EMI e o ÒRÍ. Na sua morte, pelo ritual do ASESE, libera-se o ÒRÍSÁ (o dono da cabeça e o ÈSÚ individual), também no ÒRÍ se acumula o ÀSÉ. O ÒRÚN não existe sem AIYE e ambos dependem do desenvolvimento do ÒRÍ. A evolução do ÒRÍ é um trabalho constante de seu portador, o homem, desde a escolha do ÒRÍSÁ certo, pela leitura de seu ODU pessoal obtido pelo Babalawo ou Iyalòrìsá no jogo de búzios ou pelo ÒPÈLÉ IFÁ. Desde seu conhecimento de seu ODÚ pessoal, o homem inicia seu BARA, passa a cumprir sua obrigações” com seu ORIXÁ e, assim, desenvolve e revitaliza o seu ÒRÍ. É este ÒRÍ que possibilita homem a formar e a mudar o seu destino e transformar a própria natureza ao seu redor. Para os Yoruba, o homem que, em sua constante evolução dialética, desenvolve em vida o ÒRÍ pela magia do ÀSÉ e recria na morte pela contradição implícita do ARAORUN (que surge do próprio òrí); o eterno princípio. Dessa forma, identifica no amor humano o maior dos ÀSÉ, o grande princípio. O conhecimento do ODU pessoal é, como ficou claro, de suma importância para que se encontre o perfeito equilíbrio na vida, seguindo as orientações contidas no relato do seu ODU, o ser humano poderá prosseguir em sua vida com total segurança, evitando os percalços ocasionados pela quebra de tabus, que nos levam a situações inusitadas e indesejáveis de desconforto e infelicidade. É muito raro encontrarmos pessoas que sejam de ODU MEJI e a possibilidade matemática de que isso possa ocorrer é muito remota. Todos tem o direito de orientar suas vidas, buscar o equilíbrio e a segurança que o conhecimento das mensagens contidas nos seus ODU pessoais podem proporcionar e isto só é possível através da consulta ao Oráculo de Ifá, devendo serem desprezadas todas e quaisquer técnicas baseadas em cálculos matemáticos, feitos, quer seja a partir da data de nascimento da pessoa, quer seja pela numerologia de seu nome. O Oráculo Divinatório de Ifá é praticado há muitos e muitos séculos, sendo originário do coração da África Negra, desde uma época em que as pessoas sequer conheciam o calendário, não sabiam as datas dos seus nascimentos, não liam, não escreviam e não dominavam a Aritmética.
A Numerologia é uma ciência completa e eficiente, mas de origem absolutamente diversa do Oráculo de Ifá, ao qual é estranha.
Sabemos que os algarismos correspondem à potências e energias que atuam efetivamente sobre o destino do homem, mas isto nada tem a ver com o Ifá. Se os cálculos matemáticos funcionassem dentro do nosso sistema oracular, a coisa seria simplificada de tal forma, que poderíamos jogar fora os búzios, opele, aiyo e os ikins e substituí-los por calculadoras ou computadores que, com o simples acionar de algumas teclas, nos daria as respostas desejadas.
Esto orfao de pai e mae e pressiso de ajuda
Cícero de Ayrá, bom dia e obrigado pela visita. O candomblé reproduz, ou deveria reproduzir, exatamente o conceito de família trazido pelos nossos mais velhos vindo da Africa. Não existem órfãos numa comunidade onde todos são responsáveis por todos. Não confunda o conceito de família religiosa do candomblé com outros conceitos de outras religiões. Se vc perdeu seu pai ou mãe, procure seu avô(ó), ou um tio, ou mesmo um irmão mais velho e eles terão a obrigação de cuidar de vc e te orientar. É assim que funciona nas comunidades de terreiro que reproduzem o conceito de família extensa vinda da África, toda comunidade é uma só família. Axé, espero que eu tenha te ajudado, Tomeje.
Tenho várias dúvidas a respeito do Culto a IFA. Entre elas está a questão: O indivíduo pode ser babalaô e ao mesmo tempo pertencer a outro orixá diferente de ORUMILÁ ? Outra dúvida é a respeito dos búzios: um babalaô aceita o jogo de búzios como um método divinatório seguro? sem que implique em uma maldição?
As dúvidas são grandes, porém tenho certeza que com calma tudo dá certo. Certo que serei atendido em minhas perguntas, antecipo meus agradecimentos
Anderson, seja bem vindo. Eu tenho algum conhecimento sobre o tema sim, mas prefiro que vc consulte um Babalawo para tirar suas dúvidas e para isso vc pode procurar no blog ocandomble.wordpress o sr Da ilha, ele com certeza vai poder te ajudar nisso com mais propriedade. Se não conseguir contto volte para discutirmos, ok? Axé, Tomeje.