MONOTEÍSTA OU POLITEISTA?
Monoteísmo é palavra derivada do grego. Monos, quer dizer único e Théos, deus. Portanto uma religião monoteísta teria a crença em um único deus.
Já o politeísmo, conceito também oriundo do grego, pressupõe o culto a vários deuses.
Segundo o conceito judaico-cristão, o deus único é onipresente, onipotente e onisciente, enquanto as religiões politeístas são consideradas pagãs.
Embora o Candomblé em seu rito louve inúmeras divindades, as quais reconhece como regentes da natureza, das emoções e sentimentos, ele se fundamenta na estrutura de um Deus Supremo: Olodumare (Olódùmarè).
Olodumare teria criado o universo através de seu próprio desdobramento quântico, assim como criou os primeiros Orixás e Eborás. Em uma espécie de gênese de Si mesmo.
A natureza ímpar de Olodunmare é assim revelada em um itan:
“Eo mó Iya”
K’enyin o ma tun sure puró mó;
Eo mo Baba
K’enyin o ma tun sure s’eke mó;
Eo mó Iya, eo mó Baba
OLODUNMARE
Eyi l’o d’IFA fun Tela-iriko
T’o só wipe on nre ‘ki
OLODUNMARE…”
“Você não conhece a Mãe”.
Pare com sua impetuosa mentira;
Você não conhece o Pai
Pare com sua impetuosa mentira;
Você não conhece a Mãe, você não conhece o Pai de OLODUNMARE
Com base no dito provérbio de Ifá acima, Tela-Iroko propôs o nome de Olodumare: “O Senhor de Todas as Coisas”, ou e uma tradução livre: “Eu sou Aquele que é” . Também é conhecido como Olofin (O Supremo Sobre todos Nós), ou Olorun (O Senhor do Céu).
O Deus Supremo do Candomblé é um espírito perfeito e infinito.
Olodumare criou nosso Planeta e o Universo, e incumbiu Obatalá de criar os seres.
O Povo yoruba reconhecia a existência de um Deus Supremo, uma inteligência superior a influenciar no mundo e em nossas existências. Uma força capaz de ordenar o cosmo para que haja ordem e não o caos.
Os nagôs acreditavam que a Criação não foi um mero acaso, mas que havia uma espécie de impulso superior promovendo as coisas: a força e a vontade do Ente Superior, Olodumare.
Os Orixás entram no contexto não como similares, nem como equiparados a Olodumare, mas como forças auxiliares, responsáveis pelo equilíbrio de parte da Criação: os elementos da natureza, as emoções e sentimentos humanos.
O surgimento dos Orixás guarda certas semelhanças como a origem dos santos e deuses de outras religiões. São também ancestres, que se destacaram por grandes feitos, qualidades ou virtudes, tornando-se verdadeiros mitos inesquecíveis e cultuáveis.
Guardadas as devidas proporções, o Catolicismo que crê em um Deus único, mas reverencia e cultua os Santos, que apadrinham certas virtudes e necessidades, ajudando os Homens em suas aflições.
A mesma dinâmica se repete no Hinduísmo (que mesmo crendo na unicidade de Brahma, estende seu ritual às chamadas divindades menores.
Também o Islamismo (que apesar da supremacia de Alá), se devota aos chamados homens-santos.
Toda a Humanidade sempre reconheceu e até mesmo precisou de intermediários entre os Seres e o Supremo, tenha Ele o nome que tiver.
Por toda a África o conceito de deus único é o mesmo. Variam somente seus títulos e lendas, conforme a cultura de cada povo.
Para os Bantu, é Zambi ou Zambiapongo. Para os Fon, é Mawu e assim por diante.
A classificação das religiões como politeístas, ou monoteístas, era fruto de um preconceito de origem judaico-cristã. Em determinada época, servia como um indicador do “atraso” espiritual e intelectual daqueles que cultuassem os deuses não reconhecidos pela Igreja Católica.
A riqueza do Candomblé e dos Cultos de Matrizes Africanas não precisa ser considerada como poli ou monoteísta para crescer em similaridade com nenhuma religião, a fim de ser melhor reconhecido.
Márcio de Jagun
Babalorixá, escritor, professor universitário, advogado e apresentador do Programa Ori (ori@ori.net.br)
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