ONDE ESTÁ O ÒRÌṢÀ?

Nos perguntamos com frequência onde está o Ser Divino. Por vezes, fazemos este questionamento quando enfrentamos dificuldades; em outras ocasiões, quando nos deparamos com atitudes alheias, que nos surpreendem negativamente. Mas raramente tentamos reconhecer a divindade no cotidiano, nas sensações, nos sentimentos, nas experiências vividas, nos elementos da natureza que estão entorno de nós.

Nossas roupas, em geral, são feitas a base de algodão. Nos alimentamos de vegetais e animais. Nos mantemos vivos com água (um mineral). Respiramos oxigênio para sobreviver. Poucas vezes nos atentamos a perceber que o Ser Divino está presente nesses elementos: nos vegetais, nos animais, nos minerais, no ar… Ou seja, os àwọn Òrìṣà (Orixás) nos vestem, nos alimentam, são a água que nos dá vida, são ar que respiramos. Eles estão dentro de nós, entorno de nós.

Os àwọn Òrìṣà (Orixás) estão também presentes nas transformações, nas situações caóticas, que promovem mudanças necessárias e benéficas. No caos, Èṣù abre caminhos, gerando mudanças.

Quando experimentamos transformar ressentimentos em maturidade, dores em sabedoria, Yẹwà, a deusa da transformação, promove em nós “o crepúsculo”: a mutação.

Quando as rugas aparecem em nosso rosto, Oṣàlúfọ́n mostra sua presença, desenhando em nós sua sabedoria.

Enfim… Os àwọn Òrìṣà (Orixás) estão sempre em nós, entorno de nós. Estão na delicadeza dos sentimentos, na grandiosidade das coisas simples. Nos ensinam através das mais variadas expressões da natureza. Como ọparun, o bambu, que é oco por dentro. Ele é vazio de vaidades, orgulhos e pretensões. Ọparun, também dá exemplos de como devemos nos comportar diante da vida: durante as tempestades, ele é maleável. Não briga contra o vento, se curva respeitando sua força e mantendo-se íntegro. Como se não bastasse, um “simples” bambu dá exemplo de que sozinhos somos frágeis, mas que unidos, somos quase indestrutíveis.

Quantas vezes passamos por frondosas e centenárias árvores sem jamais percebemos sua beleza? Quantas vezes observamos a altivez das montanhas, que do alto observam nossos passos, silenciosas. Quantas vezes nos banhamos com água, sem notarmos os efeitos de seu frescor? Quantas vezes respiramos, sentindo a força sutil do ar?

Cultuamos os deuses da natureza. Mas onde os buscamos? Em que situações nos permitimos senti-los? Que deuses buscamos?

Por isso, ao invés de perguntarmos “Onde está o Òrìṣà?”, deveríamos indagar a nós próprios: “Por que não enxergamos o Òrìṣà?”.

Márcio de Jagun (Bàbálórìṣà, professor, advogado e autor do livro “Orí – a Cabeça como Divindade”

ori@ori.net.br

Respostas de 25

  1. Ótimo texto! Precisamos buscar mais a essência das coisas. Ser paciente, se ligar mais com os meios de expressão das divindades, ir à natureza, respirar ao ar livre e principalmente tentar analisar de forma reflexiva o porque das coisas buscando crescermos com nós mesmos e com o que somos ofertados. Confesso que falta isto em mim, porém tenho sentido essa necessidade crescente em meu interior e, dito isso, lhe trago minha situação: Pois bem, tenho 21 anos, sou estudante de enfermagem e desempregado. Bom, eu comecei a frequentar um centro de Umbanda, não iniciei, mas cheguei a participar de algumas coisas e incorporar, um dia decidi contar para minha mãe que estava entrando nesta religião, não disse que havia participado já, mas que estava indo e sendo um observador. Minha mãe foi totalmente contra e a partir começamos a ter muitos conflitos em casa e sempre que eu saiu ela questiona se estou indo ao Centro, digo que continuei indo algumas vezes as escondidas e ficado na assistência, mas estou decidido e pretendo não ir mais, mas gostaria muito e é aí que peço seus ensinamentos e vivências, o que devo fazer? Ser paciente e esperar eu possuir minha independência financeira, social e profissional tendo em vista que dependo da minha mãe (não quero ficar brigando também, é a minha mãe mesmo que eu esteja lutando por minha liberdade e contra o preconceito) ou eu posso tentar passar para ela que é algo positivo e pedir pelo menos respeito (já tentei este caminho e foi em vão, mas não sei se fiz da forma correta)? O que me diz?

    1. Ítalo, seja bem vindo ao blog. A mãe tem sempre o desejo para os filhos e devemos sempre respeitar o sentimento dela. Mas intolerância é outro assunto, ai é complicado porque na maioria das vezes esta intolerância é de fundo religioso, pessoas que são de outra denominação religião, em geral evangélicos, e que são intolerantes e ponto final. Outro aspecto é o preconceito sexual que algumas pessoas tem em relação as religiões de matrizes africanas. Há um temor de que as pessoas entrem para estas religiões e se tornem homossexuais. Em geral não é nada diferente disso. Em poucos casos o preconceito vem pela falta de conhecimento da religião.
      Ítalo identifique qual é o caso da sua mãe, por que ela é intolerante com a religião? Não discuta, não entre em conflito. Se vc ainda é dependente financeiramente dela, vc deve se submeter sim. Mas o meu conselho é que vc tente identificar a causa do problema entende? Grande asé e felicidades pra vc. É uma pena que em 2017 ainda tenhamos pessoas que não possam seguir seu coração e professar sua fé. Que Ogun te abençoe sempre. Baba Tomeje

  2. Olá, muito obrigado pelo apoio e todos os desejos.
    Realmente o senhor possui muito conhecimento e não digo isso por ter duvidado, mas cada vez mais isso se confirma. Sou muito grato e apoio demais o seu trabalho!

    Concordo em relação a mãe sempre ter o melhor sentimento para o filho, mas nem sempre é o ideal e nesse assunto não acho ideal, mas até que entendo ela de certa forma. Esse conflito com minha mãe vem desde o ano passado, mas depois de muita análise interior e análise exterior (reparando os sinais da natureza, logo dos meus guias e sinais deles mais claros), percebi que estaria dando murro em ponta de faça e o maior prejudicado seria eu, claro minha mãe também, mas só que de forma sentimental, já eu, seria de forma física, sentimental, material, social enfim…

    1. Aproveitando o ensejo.

      É muito triste isso Italo.

      Eu estou perdendo um pai e uma mão por causa do candomblé. Minha mulher também está se distanciando; E olhe que nem abian eu sou. Apenas defendo o candomblé com garras e dentes. Sou dependente financeiro até hoje e isso piora ainda mais a situação.

      Entretanto, dizem os magistas, que existe um período probatório que é comum você ser testado de todas as maneiras. Inclusive afetando nos relacionamentos com as pessoas que amamos.

      O maior conflito que eu passo no momento é que devemos honrar pai e mãe. Respeitar os ancestrais. Mas eles estão rodeados de preconceitos, medos, ódio e não estão vendo com clareza. Estão utilizando cabrestos. E você fica entre respeitar a vontade da pessoa que vc ama(por dever/obrigação/amor) ou seguir o seu caminho. É algo horrível.

      Por isso eu sinto um pouco da sua dor Italo e por este motivo quero te dar um abraço.

      1. Muito obrigado pelo apoio, RCG. Me fez bem, de verdade. Muito obrigado!

        Fico triste pelos problemas que está passando, espero que em algum momento você consiga se sobre por a eles e que não afete seus laços de forma profunda, torço de coração. Ver que você se quer é um abian é mais triste ainda, poxa até sua mulher. Continue fiel as suas crenças, mas evite conflitos seja paciente, um dia não precisaremos mais lutar contra esses cabrestos, pois teremos nossa independência vamos lá! Haha

        Passamos por uma situação parecida, é uma droga saber que isso é mais comum do que parece. Infelizmente as coisas que disse são verdades, realmente são pessoas que possuem cabrestos, não os culpo, mas é complicado, entramos nessas questões de lutar ou abaixar a cabeça. Sei que algumas situações são mais complexas do que parece, como meu caso e penso que o seu também, mas acredito que a época em que nossos pais nasceram contribuam para esses cabrestos enfim, vai mais além do que podemos discutir.
        Não consigo ter a visão de fazê-los entender (muito difícil), mas tento agir pelo lado do respeito, um pai de santo me disse para questionar minha forma de agir, ele disse: “não adianta você entender tudo da religião e tentar passar isso para eles, eles não querem saber pois já possuem suas crenças, tente agir pelo outro lado, vire amigo dos seus pais e tente que ao menos respeitem, mostre para eles que te faz bem acender sua velinha e mostre resultados, seja um bom filho, um bom parceiro enfim seja uma boa pessoa que eles possam ver diferente”, é o que tenho tentando fazer desde então.

        Sinto que sou bastante espirituoso e isso me traz paz, tenho fé de que um dia as coisas se acalmaram, então vamos por este caminho. Gostaria de ser capaz de mudar sua situação, mas vamos nos fortalecendo. Obrigado pelo apoio, gostaria de lhe abraçar também, estou contigo!

    2. Ítalo, atendendo ao seu pedido retirei um trecho do seu comentário.
      É muito difícil lidar com situações como esta por que envolvem sentimentos magoados e traumas profundos. Mas ainda assim, ninguém pode caminhar a estrada do outro. Sua mãe te deu a vida para que vc e vc a viva da forma como acha certo. Não brigue com ela, mas deixe claro que um dia vc será independente e vai viver aquilo que melhor lhe convier. Mas por hora não entre em conflitos, respeite a opinião dela. Mas deixe claro os limites de cada um. o seu e o dela. Espero que ela mude de ideia e lhe dê apoio nas tuas decisões. Grande axé e felicidades e que Yemonjá lhe proteja sempre. Baba Tomeje.

      1. Muito obrigado, Tomeje.
        Gostei das idéias e concordo com o senhor. Tentarei agir como disse e com o maior cuidado possível. Muito obrigado por todo seu apoio, sou muito grato por este trabalho que decidiu empenhar, este blog é rico de informação e percebi que são informações perdidas hoje em dia. Muito obrigado, desejo que obtenha ainda mais sabedoria e mantenha isso, o senhor é demais!

  3. Tomeje, o senhor saberia me dizer como posso aprender a língua yoruba se possível pela internet? Se não der, onde poderia? Moro no Rio de Janeiro, zona norte.

    1. Se eu não estou equivocado, Márcio de Jagun, o pai de Tomeje, é a pessoa que você deve procurar. Vamos esperar por Tomeje.

      Yoruba eu já sonhei falando e cantando. Mas achei um pouco difícil. Tem palavras que mudam o significado por um simples acento. Mesma palavra com um acento agudo um significado. Com um acento e uma crase outro. Sem acento outro. Rapaz, isso me fez desistir antes de começar. HAHA! Mas eu só tive acesso ao Dicionário Yorubá (Nagô) Português de Eduardo Fonseca Jr.

      Italo. Eu vou lhe ser sincero. Se eu morasse aí no Rio de Janeiro já estaria na porta de Tomeje a muiiiito tempo. E olhe que eu moro na Bahia. Eu tou quase viajando para lá na verdade! 😀

      1. RCG obrigado pelo carinho, sinceramente. Se vc morar perto de Salvador, visite a minha Casa Matriz, O Axé Oxumare. Quem sabe não nos encontramos por lá rsrsrsrsrsrs

        1. Eu estou devendo uma visita mesmo! Fui na busca de um bom jogo mais o valor cobrado estava além da minha capacidade. HAHA! Aí pensei em ir em alguma festa. Só que eu sonhei que eu estava em uma igreja e nesta igreja tinha várias pessoas de branco. Quando perguntei a uma que estava ao meu lado ela respondeu que eu estava no Gantois e que todo mundo que tava ali era filho de santo. Eu disse que ele estava enganado porque eu não era. Ele sorriu e disse que se eu não fosse eu não estaria ali.

          Então decidi que deveria dar um pulo lá no Gantois. Mas fiquei doente no dia que felei que ia e quando melhorei tive um problema na família grave. Mas se for de nos encontrarmos, nos encontraremos!

          Abraço!

          1. Em agosto lá pelo dia 20, tem a festa de Oxumare, farei de tudo pra estar lá. Dá uma chegada lá; Aséô.

    2. Ìtalo o meu Pai ministra cursos na UERJ, entre no site ori.ori.net.br e veja lá como se inscrever nos cursos. Se não conseguir o contato me retorne e eu eu te coloco em contato com ele. Baba Tomeje.

    3. Obrigado gente, vou dar uma olhada.
      Haha quem sabe um dia eu vou conhece-lo kk

      Parece difícil mesmo, mas vamos tentar haha

        1. Obrigado Tomeje.
          Então eu tentei entrar neste site que o senhor me indicou e não funcionou aí tentei digitar ori.net.br e deu certo, mas não consegui me informar e pareceu estar desatualizado, não tenho certeza.

          1. Tente então na UERJ meu irmão, dê um pulinho lá vale muito fazer este curso. Não por ser do meu Sacerdote, mas é bom mesmo. Asé, Baba Tomeje.

          2. Vou tentar tirar um dia e passar lá para me informar. Muito obrigado, Tomeje, confio em ti.

          3. Italo, muito obrigado pelo carinho. Quando vc for na aula do meu Pai, diga é leitor do blog. Não tem desconto nenhum, mas ele fica todo feliz kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk. Asé e felicidades. Baba Tomeje

  4. Boa Noite
    Tomeje encontrei seu blog por acaso e achei interessante. Queria saber se Você conhece uma qualidade de Oya chamada Liri! Fiquei sabendo que é uma das igbale. Tens conhecimento? Estou no aguardo. Obrigado!

    1. Cherie, seja bem vindo ao blog, obrigado pela visita e pelo carinho. Eu nunca ouvi e nunca li este nome em nenhuma das diversas listas de pesquisadores da religião. Cherie por acaso vc é o Ogan de Ayrá da Casa da Yá Gisele? Ou foi só uma coincidência de nomes?? Axé e felicidades, Baba Tomeje.

    1. Cherie, então vamos em frente. Sobre Egunita. Eu tenho um livro de 1972, (Dicionário Africano de Umbanda) do escritor e sacerdote José Ribeiro, onde num determinado trecho ela fala o seguinte sobre ele mesmo” Filho do orixa Yansã, cuja digina é Oyá “Egun-Nitá”….. seu orunkó é “Oyacy ny afobá ilá ti egun-nitá”. Daí a razão do nome de seu Ile denominar-se “Terreiro de Yansã Egun-nitá”.
      Portanto o nome Egunita está relacionado ao nome do famoso terreiro do famoso sacerdote e não a uma qualidade de Oyá.
      Isso também ocorre com o nome Oxum miwá, digina de uma das sacerdotisas do Axé OPo Afonjá (Mãe Senhora). A digina desta senhora era Oxum Miwá e não a qualidade de sua Oxum. Mas devido ser uma mulher famosa em seu tempo, algumas pessoas confundiram a sua digina com qualidade de Oxum e temos hoje várias pessoas “feitas” de Oxum miwa e de Oyá egunitá.
      Grande axé meu irmão, Baba Tomeje.

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