Crack, a droga que está destruindo a sociedade, parte 3

Cuidados e Tratamento

Existem diversas abordagens para quem deseja se recuperar da dependência do crack. Não há  um tratamento único, que seja apropriado para todos os casos. Técnicas e sistemas podem ser combinados sempre que necessário, de acordo com tipo de ambiente, intervenção e serviço mais adequado para cada problema ou necessidade do paciente. Buscar a modalidade que melhor se encaixa em cada caso contribui para o sucesso na recuperação e para o retorno a uma vida produtiva na família, no trabalho e na sociedade.

Confira abaixo uma explicação detalhada sobre os sistemas e as técnicas de tratamento mais comuns no Brasil.

Cuidado
Sistema Único de Saúde (SUS)
Unidades básicas de saúde ou centros de saúde (SUS)

Oferecem atendimento médico, e/ou de outros profissionais que farão uma primeira avaliação do usuário para que ele inicie o tratamento na própria unidade ou seja encaminhado para o serviço especializado

Centros de Atenção Psicossocial (Caps)

Serviço especializado de atenção aos usuários que oferece atendimento médico psiquiátrico, psicológico e de outros profissionais, distribuição de medicação e apoio para as famílias.

Consultório na Rua

Oferecem acolhimento, apoio e encaminhamento para pessoas que moram ou se encontram em situação de rua e estão distanciados das unidades de serviços de saúde. O atendimento aos dependentes químicos ocorre um ambulatório móvel por equipe formada por médicos, psiquiatras, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos e pedagogos.

Programa de Redução de Danos

Ações preventivas e de acolhimento, como avaliação, atendimento e encaminhamento para rede de saúde e de assistência social.

O crack é uma droga que causa dependência com muita rapidez. Para o usuário se recuperar, a ajuda precisa vir na mesma velocidade. O primeiro passo é buscar ajuda de profissionais especializados e iniciar o tratamento. No Brasil existem instituições que prestam atendimento tanto para a família quanto para o dependente.

O vídeo a seguir mostra a importância dos familiares na recuperação de um usuário de crack, e como um ambiente acolhedor, e pessoas dispostas a entender e a ouvir podem fazer a diferença no tratamento.

Redução de danos

Equipe do Consultório na Rua de São Bernardo do Campo atende usuários de drogas em situação de vulnerabilidade social Crédito da imagem: Ministério da Saúde

Nem sempre é possível alcançar, de imediato, a abstinência do uso da droga e muitas pessoas continuarão a usá-la, mesmo depois de um processo de tratamento. Nesse sentido, é preciso encontrar alternativas capazes de reduzir os prejuízos associados a este consumo.

Incentivar o dependente de crack a cuidar de si, sem que a condição para isso seja a interrupção total do uso da droga, é a estratégia central das ações de Redução de Danos à saúde do usuário. Ao reduzirem os problemas associados com o uso de drogas no âmbito social, econômico e de saúde, estas estratégias beneficiam o usuário, seus familiares e a própria comunidade.

Segundo Tarcísio Andrade, psiquiatra e professor adjunto da Faculdade de Medicina da Bahia, as práticas de Redução de Danos são baseadas em princípios de pragmatismo e compreensão da diversidade. As ações são pragmáticas porque tratam como imprescindível a oferta de atendimento para todas as pessoas nos serviços de saúde, inclusive para aqueles que não querem ou não conseguem interromper o uso do crack. O esforço é pela preservação da vida. Do mesmo modo, as estratégias de redução de danos se caracterizam pela tolerância, pois evitam o julgamento moral sobre os comportamentos relacionados ao uso do crack e às práticas sexuais, assim como intervenções autoritárias e preconceituosas.

Oferecer estes serviços de abordagem, muitas vezes na própria rua e nos contextos de uso da droga, também pode evitar a exposição a outras situações de risco e aproximar o usuário das instituições de saúde, abrindo a possibilidade de que ele venha pedir ajuda quando necessário. Além disso, permite que o serviço de saúde possa acompanhá-lo de forma mais próxima.

Iniciativas práticas

De acordo com o psiquiatra Marcelo Cruz, coordenador do Programa de Estudos e Assistência ao Uso Indevido de Drogas (Projad) e professor do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, as ações para redução dos riscos de contaminação por doenças entre usuários de drogas injetáveis e também durante a prática sexual marcaram o início das estratégias de Redução de Danos no País. Com o sucesso dessas ações, elas passaram a ser usadas também na prevenção de outras práticas de risco, tais como os problemas com drogas não injetáveis, como é o caso do crack nos dias de hoje. Ainda segundo o psiquiatra, a estratégia de redução de danos para usuários de crack prevê a distribuição de preservativos, a disponibilização de informações sobre os riscos de contaminação pelo compartilhamento de cachimbos e sobre os cuidados para a prática de sexo mais seguro. Assim, a atividade de abordagem dos usuários nos locais de uso da droga não é um fim em si, mas um serviço oferecido junto a muitos outros, com o objetivo geral de preservação da saúde.

Nesse processo de Redução Danos, ações preventivas, como a substituição de cachimbos improvisados por outros de melhor qualidade, evitam a contaminação do usuário por bactérias. “Oferecer cachimbos que não superaquecem ajuda a reduzir lesões bucais e infecções secundárias”, afirma Francisco Inácio Bastos, psiquiatra e doutor em saúde pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Afastar o usuário dos locais de consumo e venda da droga também ajuda a minimizar os riscos. “É imprescindível recorrer à ajuda profissional para tentar diminuir a compulsão pelo uso da droga e para que o usuário tenha também outras formas de estímulo, seja com medicamentos ou através de outras ações”, diz Bastos. Também é importante tentar regularizar a alimentação e o sono, o que reduz o risco de anemia e desnutrição e impede o agravamento de doenças físicas e mentais. “Todo comprometimento orgânico-nutricional é grave. Algumas pessoas, em decorrência do uso de substâncias psicoativas, deixam de se alimentar adequadamente. Particularmente na infância, isso impossibilita a absorção de vitaminas e pode causar danos ao sistema nervoso, às vezes irreversíveis”, afirma Antonio Nery Filho, professor e psiquiatra do Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas (CETAD) da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Atenção psicossocial

Além das medidas práticas e paliativas, é importante valorizar e estimular a vivência das habilidades e potencialidades do usuário. “O usuário de crack é uma pessoa insegura que busca, através da droga, suprir esta angústia de pensar que não é capaz”, diz a psicóloga Raquel Barros, da ONG Lua Nova de Sorocaba (SP). Ajudar o dependente a reconstruir vínculos com a família e a sociedade também ajuda a diminuir os prejuízos do consumo do crack. “A droga só tem sentido na vida de um usuário a partir do momento em que ele não consegue estabelecer relações que o façam sentir-se como uma pessoa importante”, diz a psicóloga.

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