Dança das Iabás no Xirê (6ª Parte)

Dança das Iabás no Xirê (6ª Parte)

CONCLUSÃO: No ritual, fica evidenciada a importância dada ao corpo, e o uso espetacular que se faz dele, como forma de transmissão de mitos e tradição, quando os gestos não são mais fisiológicos, passam a integrar rituais, e entendidos como universais e arquetípicos. Desta forma, o gesto ultrapassa em muito o entendimento estético e visual.

O Orixá /Arquétipo, entendido como modelo de ser, criado de um padrão exemplar do coletivo, é uma espécie de drama sintetizado e se torna presente no corpo que se comunica através da execução de uma dança ancestral. O corpo apresenta uma dança composta de gestos e movimentações, que vêm sendo selecionados e sintetizados ao longo dos tempos; gestos que parecem ter sido selecionados para durar e tornam-se, por isso, símbolos dos mitos, explicam e informam uma identidade, ao mesmo tempo concreta e abstrata, formas trazidas do mundo mágico cerimonial, criando uma ponte com o passado. Daí a importância, para o povo de santo, a manutenção das suas tradições através da encenação pública. A dança contida no ritual torna-se mais que um meio facilitador da comunicação, torna-se a própria comunicação.

O corpo humano é, para o Iorubá, um microcosmo, um corpo que faz a sua síntese através da performance ritual do Candomblé. Este ritual coloca o corpo dançante do fiel em harmonia com as energias da natureza.

Nestas danças, os gestos dos personagens/Orixás ampliados a dimensões míticas, onde está condensado um conhecimento prático, simbólico e complexo, atinge a forma mais profunda de comunicação, estabelece uma linguagem formada por atitudes, signos, locomoções e gestos no ar, uma ação realizada em todos os níveis , que supera, em muito, a linguagem das palavras. Desta forma, acontece um retorno ao momento em que este gesto realizou-se pela primeira vez, “O rito tem eficácia por isso, participa na integridade do tempo primordial sagrado. O rito faz presente o mito”( Schechner, 1988,236).

O Candomblé arremete à sua dança, uma dimensão de espetacularidade grupal e global, o que promove a união dos participantes, nada é deixado ao acaso ou à iniciativa pessoal, a dança segue, não só a uma tradição como toda a sua evolução, que é minuciosa, acontece com e para o grupo interagir; pois é no coletivo que todos se expandem, dando alívio e bem-estar comum, além de assegurar a permanência do todo.

É a história de um corpo biológico que, ao praticar formas espetaculares de performances, revela também a história de um corpo cultural e social. Esta performance assume dimensões que dialogam e explicam este corpo, na construção de um corpo mágico.

No presente, este movimento, esta dança, mesmo sofrendo evoluções e adaptações ao longo dos tempos, concentra ainda os valores essenciais de uma tradição que corresponde a tempos imemoriais. Uma tradição que, no Brasil, começou a sedimentar-se por volta do século XVIII e início do XIX. É esta, sem dúvida, uma forma muito eficiente de manutenção, circulação e transmissão de Axé. Uma prática sedimentada há muito tempo pelo povo de santo – a dança. A dança que fixa o Orixá.

“Eparrei” Iansã, “Yéyé Ò” Oxum, “Odoya” Iemanjá, Obá Xireê,

Axé!

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