Ìkomojade, o batismo no Candomblé.

ÌKÓMOJÁDE, O BATISMO E O CANDOMBLÉ:

Muitas pessoas me perguntam se existe batismo no Candomblé. Costumo dizer que não. Porque o sentido do batizado é de origem judaico-cristã e significa purificar (lavar o corpo) do “pecado original” cometido por Adão e Eva fazendo com que aquele ser renasça para a graça divina, recebendo um novo nome.

Para o Candomblé, que é uma Religião de matriz africana e não de origem judaico-cristã, o sentido do renascimento é outro. O ritual que propicia o renascimento com um NOVO nome, seria a própria iniciação. E a iniciação não pretende livrar ninguém de nenhum pecado de Adão e Eva, mas criar um laço entre o ser e sua divindade, tornando o corpo um verdadeiro altar do Orixá.

Contudo, existia um costume entre os yorubás que consistia em dar um nome (digamos o PRIMEIRO nome) pelo qual a criança seria chamada até que na sua iniciação fosse renomeada com o orunkó. Esse ritual era conhecido como ÌKÓMOJÁDE.

O Ìkómojáde era mais complexo do que simplesmente escolher um nome para o recém-nascido. A mãe e a criança ficavam confinados em casa até que o babalawô da Comunidade fosse visitá-los para consultar o Oráculo e conhecer o odu daquele novo ser, assim como todos os interditos, e os ebós necessários para afastar os possíveis males.

Essa visita seria no sétimo dia se o bebê fosse do sexo feminino, no nono, se fosse menino e no oitavo, em caso de gêmeos (independente do sexo).

Os nomes eram escolhidos conforme um certo critério. Podiam ser determinados por força de circunstâncias do nascimento, como por exemplo: Ije (os que nascem colocando os pés pela vagina e não a cabeça), Ilori (os que nascem de mulheres que não menstruavam mais), Olúgbodi (os que nascem com seis dedos em uma só mão).

Podiam ser determinados também por questões familiares: babatundê (papai voltou).

Outra possibilidade era a escolha do nome em razão de seu odu. Por exemplo, um àbíkú (o que nasce para morrer em tenra idade), poderia ser batizado de dúrójayé (fique e goze a vida).

O ritual do Ìkómojáde era procedido da seguinte forma: a criança era segurada por uma anciã da família, enquanto o babalawô encostava na cabeça do bebê os elementos e na boca os líquidos (os que a criança não pudesse engolir eram dados à sua mãe).

Os ingrediantes eram os seguintes: água (omi), representando a vida; o ataré (pimenta da costa), para purificar o hálito e levar os pedidos mais facilmente ao Orun; a terra (ilê), simbolizando a relação do homem com o solo que o abastece e com o chão de seus antepassados; o ogbi e o orogbô (as duas sementes que simbolizam os laços de amizade e a longevidade, respectivamente); o sal (iyó), que dá sabor à vida; o mel (oyin) ou ireke (cana-de-açúcar), utilizados para atrair coisas agradáveis à sua vida; o azeite de dendê (epô pupá), tem o poder de acalmar as divindades; o ejá (peixe), que deté a placidês de nadar nas águas e vencer as correntes e as profundezas.

Depois de utilizados os elementos e recitados os ofós, todo o povo daquela comunidade dançava e cantava em homenagem ao novo membro, louvando aos seus Orixás.

Márcio de Jagun Babalorixá, escritor, professor universitário, advogado e apresentador do Programa Ori (ori@ori.net.br)

 

 

 

*******************************

Fale Conosco