Marmoteiros?!!!!

Eu não sou cuscuz, pra morrer abafado! Assim falava uma mais velha que tive o prazer de conhecer. Com ela era assim, quando e onde fosse necessário, ela falava as “verdades” dela. Sou bem diferente disso, penso, pondero, olho em volta e vejo se posso de fato falar o que penso naquele dia e lugar e hora. Não! Definitivamente não! Nem pense que sou bonzinho ou melhor que ninguém, te proibo de pensar isso de mim. Sou, sim, medroso de maltratar alguém. Mas o que vi disso tudo ao longo de tanto tempo é que as pessoas gostam mesmo é de quem fala o que pensa na hora e no tempo que lhes agrada. Eu, ainda, vou aprender a ser assim!

Tenho visto muitos de nós colocarem vídeos horripilantes na net para discutir se aquilo é certo ou errado. E haja opinião formada, xingamento, abuso, brincadeira de mau gosto e avacalhações a respeito dos tais vídeos. Mas, olha….! como estas supostas casas vivem cheias…….!!!!! abarrotadas de seguidores, de pessoas que gostam daquilo que eles tem para oferecer. Se é maluquice ou não, se estão certos ou errados eu não sei, nem quero saber. Mas será que ficar dando publicidade a estas pessoas nos ajuda?

Muitos mais velhos, que se dizem tradicionais, vão nestas casas e se esbaldam, riem, participam das rodas e até se recebem de coisas por lá (às escondidas). Será que eu, um reles mais novo, é que terei o dever moral e religioso de apontar o dedo para dizer que é ou que deixa de ser ? Tento fazer o meu, tento dar o melhor da minha Casa aos meus filhos e amigos, tento ser o melhor possível de acordo com as minhas possibilidades e conhecimentos. Só isso me basta e só isso deveria bastar aos demais. É o que penso.

Se estes que nos desfiguram se importassem, se eles conhecessem a religião, se tivessem sido bem criados, se tivessem alguma moral religiosa vindo dos seus Pais e Mães,,,,, eu não estaria aqui escrevendo. Não teríamos motivos para dar publicidade e ficar debatendo sobre o certo e/ou errado. Então….. de quem é de fato a culpa? Só deles? Não, de forma alguma. Nossos mais velhos tem grande parte de culpa nisso. Ficamos pelos facebook’s da vida reclamando do conforto das nossas poltronas. Isso vai nos levar a que, mesmo? Fofocas e disse me disse? Tô fora. Tenho muita coisa pra cuidar, tenho que ser eu mesmo o tempo todo e não me sobra tempo para discutir quem quer ser outra coisa. Se eles, os marmoteiros, e seus discipulos estão felizes assim, peço que Deus acerte a conta deles no tempo devido. Mas não me acho no dever ou direito de falar mais nada.

Tomeje, 15/04/2016

Respostas de 6

  1. Prezado Tomeje, até concordo com sua opinião, com algumas ressalvas. Ainda ouvindo dizer de minha Iyá, uma boa parte de minha vida que cada casa é um pequeno reino e que nesse reino o seu rei ou rainha tem voz imperativa…. Entretanto, sempre discordei dela (dizia isso inclusive, sempre levando uns belos beliscões) que temos que preservar nossa religião como um todo e, nesse ponto, acho que a nossa religião devia ter sim uma maior vigilância. Existem realmente diferenças de cultos mas, por outro lado, existem situações em que temos uma concordância total. Apenas para citar um exemplo: Você imagina um Ayrá ou Osalá numa sala vestidos de negro? Pois é…. Em qualquer lugar e qualquer raiz que uma casa tenha, fatos como este são sim consenso. Eu tomo exemplos com o que tem acontecido com as igrejas eletrônicas, que não tem o menor controle e onde cada um faz o que quer, abre suas igrejas quando e onde lhes convém. Nossa religião é muito diferente disso? Não deviam existir regras para todos os sacerdotes? Quando nada, se essas regras fossem difíceis devido a singularidade de cada Asé….. Ao menos uma descendência daquele Sacerdote não deveria ser conhecida? Apenas para exemplificar, mais uma vez, tomo como a casa que me iniciei no ano de 1986 e estou até hoje. Minha Iyá é falecida, minha Iyákekere também…. Mas se você, ou qualquer pessoa forem em minha casa perguntando por mim, confirmaram que fui iniciado e que adquiri uma quantidade mínima de conhecimento, para poder cuidar de pessoas. Isso não seria um bom começo para a moralização de nossa religião? Você não fica triste quando sabe por clientes que foram roubados e enganados em sua fé por pessoas que se diziam Babalorisás ou Iyálorisás sem serem? Infelizmente nossa religião é tida como a grande maioria dominante como um folclore (uma coisa de pretos pobres e sem cultura) e não como a religião importante que é…. Conheci muitos casos de pessoas que ficaram doidas por se cuidar com pais e mães de santo de origem duvidosa, que estão tentando mostrar um conhecimento que jamais partiu de seus antigos, os que os iniciaram, se é que isso aconteceu. Eu queria uma maior reflexão a respeito de nossa religião Sabe irmão? Queria muito propor um grande debate a respeito do que vem sendo feito para trazer nosso credo religioso com um pouco mais de credibilidade e não ao que temos visto hoje em dia. Assim, será que não devíamos nos unir em torno de um bem comum? Até que ponto se torna tão errado apontarmos os erros gritantes dentro daquilo que achamos coerente? Por outro lado, nem sempre o nosso correto é o correto pra todos…… De qualquer maneira, suas palavras sempre são boas até mesmo para que possamos comparar. Eu acho que, ainda mais em nosso lindo Candomblé, jamais sabemos muito… Estamos sempre aprendendo, não somente no Candomblé como na vida, de maneira geral….

    1. David de Ayrá, temos quase a mesma idade de iniciação, eu sou 1987. Portanto, sua benção meu mais velho. Aprendi muito na religião, nada que seja de uso mágico, mas de vida. Aprendi a aguardar o mais velho falar, aprendi, na construção da minha Casa de Axé, Ile Asé Omi LOnan, que no dia 23/05 completou mais um ano de vida, que o tempo é o senhor da vida num asé. Minhas árvores não crescerão mais rápido só por que eu gostaria de vê-las, hoje, em pleno florescimento. Aprendi a respeitar o tempo das coisas. Quando coloquei o tema no meu texto foi de propósito, eu já não sei se os marmoteiros são eles que vende magia ou nós que queremos falar de candomblé enquanto religião. Lendo outro dia um texto de sociologia eu encontrei uma explicação linda sobre a diferença entre religião e magia. Religião necessita de tempo, dogmas, liturgias, ritos, hierarquias e disciplinas. Traduzido, leva muito tempo para alcançar qualquer objetivo pelo caminho da religião. A magia é o uso de poções e encantamentos que tentam revolver em pequeno espaço de tempo qualquer problema da vida. Eu fico sempre com a religião. Vim de uma Casa tradicional e, hoje, por motivos alheios a minha vontade, estou num outro axé (muito feliz e convicto), mas sempre tive grandes referências de religiosos que cuidaram de mim e me educaram. Hoje sinto flata disso, não vejo mais educação de axé, busca pela religião. Vejo apenas balconistas a espera de vítimas. Vamos conversar mais meu irmão. Axé, Tomeje

  2. Que nosso pai Ayrá te abençoe meu irmão e sua bênção também. Suas colocações são bem direcionadas, com certeza. Eu ainda penso que deveria existir um outro conceito quanto a nossa religião sabe irmão? Quanto a educação de Asé, eu acho que seria um excelente caminho para que tudo se acertasse… Mas, e o que faremos com o que está estragado? Sabemos que quando uma banca de frutas tem uma ou duas frutas estragadas, deixando junto delas as ruins todas correm o sério risco de se deteriorar mais depressa. Então, como tiramos essas “frutas podres” de nosso convívio”. Difícil com a visão que existe hoje em dia relacionada a nossa religião onde ouvimos e lemos comumente que “cada um é rei em seu barracão”…. Pior ainda são as colocações atribuídas a condição financeira do pai ou mãe de santo…. Como se ter uma boa condição financeira quisesse dar a entender que ele é sabedor da religião ou mesmo tem Asé. Essa mistura de dinheiro e poder com asé me preocupa demais sabe irmão? Eu fui criado como antigamente todos foram dentro da religião, mas acho mesmo, sinceramente, que não temos como separar educação de Asé com educação de casa, que recebemos da família. Aprendi que atos simples, por exemplo quando toca num Siré pra determinado Orisá, a sequência de ir a Mãe ou Pai de santo deveria ser respeitada. Apenas para usar de exemplo: Minha Iyá é de Osun….. Quando toca para esse orisá, cada filho deve ir ao pai ou mãe, como nosso caso, para tomar a bênção. Isso, em nossa casa, sempre teve uma ordem cronológica, sendo dos mais antigos sempre precedendo os mais novos, sucessivamente…. Por que será que hoje não vemos mais isso irmão? Não será essa perda de valores um dos maiores problemas a levarem pessoas a prometer o que efetivamente nunca poderiam cumprir?

    1. David, eu sou descendente do Asé Oxumare SSA, sou filho do Pai Marcio de jagun, um homem estudioso, sério e dedicado a religião e a religiosidade. Penso que ser fiel ao Asé é fundamental e urgente. O que me deixa perplexo é que hoje muitos dos valores foram modificados e isso se deu quando a cerimônia do Deká viu comércio e foi banalizada. Qualquer iniciado com 7 anos tem cuia hoje, e isso é erradao. Sinto muito que nossos valores estejam se perdendo tão rapidamente. Mas é difícil tentar conversar sobre por exemplo Iwapelè, sobre Ori, sobre os conceitos básicos de Orixa com pessoas sem instrução qualquer, sem educação de asé e sem conhecimento religioso e moral. No nosso Asé, Casa de Oxumare, temos um código de conduta rígido e seguido a risca pela Casa e pelos descendentes, e penso que, independente de o meu Asé estar “certo ou errado” é assim que deve ser para todos nós que queremos ser reconhecidos como Asé Oxumare, entende? Não me importa como os outros fazem em suas Casas o que me importa é como eu faço na minha seguindo os meus mais velhos, sempre. O problema e que isso é visto como besteira e como coisa de velho e coisa de “tradicionalista”. Pena que as gerações novas não conhecem Asé meu irmão. Tomeje.

  3. Tomeje
    Saiba que em muitos momentos vitais de minha vida,vc com suas postagens me ajudaram muito.
    Me sinto feliz por saber que vc existe pra ajudar a orientar pessoas sozinhas como eu.
    Sou uma filha de iemanjá,mais fui raspada de Ogum,perdi tudo,sofri,fui ao fundo do poço,mas Ogum sempre me mostrou a verdadeira dona do meu ori…eu desconhecia,sua mãe Iemanjá.
    Conhecendo Iemanjá e tirando uma mão de vumbe que quase me enlouqueceu,voltei depois de 20 anos para meu Orixá,como um filho que volta aos braços de seus pais.
    Mukuiu Tomeje! Muito OBRIGADO.

    1. Menezes seja bem vinda. Obrigado pelo carinho e por suas palavras. Eu penso que Orixa, apesar de algumas vezes ser muito duro conosco, é de uma inteligência absurda, um amor incondicional ao seu filho e sempre mostra bons caminhos. O problema desta relação é, que nem sempre estamos dispostos a ver os melhores. Outras vezes, justamente quem deveria nos orientar e nos auxiliar nesta busca está preparado para isso. Ai fica uma bagunça na nossa vida religiosa e espiritual. Quem bom que vc passou tudo isso e seu amor não acabou, que vc tenha tido a coragem de enfrentar tudo e sair vitoriosa. Fico emocionado e feliz com seu relato, ele mostrar que somos muito mais fortes do que pensamos, e só nos momentos de adversidade que aprendemos isso. Sou de Ogun, mas é Yemonjá quem é a dona da minha Casa de Asé e dona dos meus caminhos. Sei,assim como vc sabe, o peso da mão Dela rsrsrsr sobre minha cabeça. Mas também sei do amor e da generosidade Dela com seus filhos. Seja sempre feliz com Yá, deixe que Yá te conduza, te oriente e te faça uma pessoa melhor. Que vc tenha sorte e felicidade, que Ogun abra teus caminhos e que Yá te guarde sempre. Asé e obrigado. Tomeje.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *