Nos últimos tempo eu tenho prefiro o silencio!

Do nosso grupo de estudos no Ilé Àsé Àiyé Obálúwàiyé, liderado por pai Marcio de Jagun, surgiu o questionamento acerca dos diversos motivos que levam ou podem levar alguém a desistir de sua caminhada na Religião. Observando e juntando os fragmentos do que tenho visto ao longo do tempo, me veio à lembrança a frase do Preto Velho Germano, meu grande amigo e orientador dos anos iniciais da minha jornada. Ele sempre falava o seguinte: “Se você quer uma casa para pouco tempo, construa na beira da água, a primeira maré vai levar. Se você quer uma casa para vida toda, construa sobre a rocha”. Só o tempo foi capaz de me ensinar o que aquele Preto Velho estava me ensinando e o quanto isso seria importante hoje na minha vida.

Utilizando este paralelo, casa x religiosidade, estou vendo um monte de casas sendo reformadas ou reconstruídas, casas com rachaduras e fundações instáveis a ponto de ruir. Outros construíram vários andares (filhos, netos e bisnetos) casas bonitas, mas na beira da água, sem fundação sólida. Outros sem experiência construíram suas próprias casas sem ajuda de ninguém e lá são os Reis e Rainhas. Suas cumeeiras são suas próprias cabeças. Seus tijolos são de vento e sua argamassa é água, seus pisos são areia movediça.

Nossa Religião é uma grande casa com diversas outras pequenas casas que abrigam outras ainda menores, nós! E o início de tudo se dá igualzinho a escolha de um bom lugar para construir sua residência, seu lugar seguro, para você e sua futura família. Não importa muito se o terreno está num bairro nobre ou num bairro humilde, ou seja, se sua Casa de Axé é a mais tradicional ou se é uma pequena Casa começando agora. O importante é ter escritura kkkkkkkk é saber qual a sua raiz, de onde você descende. Escolhido o terreno, é hora da iniciação e essa é como cavar as fundações da sua pequena casa abrigada na Casa principal. Com certeza se sua escolha inicial foi bem feita, o terreno é sólido, sua fundação será bem feita por alguém habilitado e não por algum aventureiro. A escolha dos melhores materiais para essa fundação será feita de acordo com o seu tempo, interesse, disponibilidade e condições. Lembre-se, você já está num bom terreno coberto por uma boa Casa. O tempo, então, é relativo. Depois de iniciado, fundações lançadas, é hora de erguer as paredes, seus igba, sua pequena casa onde você e seu Orixá conviverão por anos repartindo felicidades e choros. Adorne sua casa com os mais belos revestimentos e ilumine sempre, não deixe faltar água ou comida na sua casinha, nem na casinha dos seus irmãos. Seja solidário. Agora você é um templo vivo do Orixá, uma casa que só aquele Orixá habita, e que vive simultaneamente naquele igbá, sua pequena casa de louça ou barro ou etc. Cada vez que você vai na roça e entra no “quarto de seu Orixá” você estará adentrando numa cidade, num novo mundo com muitas casinhas e cada uma com sua família e suas peculiaridades então, cuidado, silêncio, respeito e gratidão por seu corpo espiritual e coletivo estarem sob um teto. Cuidar do SEU Orixá e ser solidário com aquele que não pôde levar uma vela é seu dever como membro daquele micro cosmo. Ao entrar no salão, você terá a certeza de que as fundações daquela Casa, as suas raízes estão interligadas miticamente à Casa Matriz e que as suas próprias raízes, aos poucos, vão se encontrando e se ligando a esse emaranhado espiritual que te deu origem, então agradeça. Esse então não é mais só o salão onde seu Orixá em breve estará presente, é a grande Casa coletiva que abraça e acolhe a todos. Viva sua Casa com dedicação e humildade e eu te garanto que nenhuma trinca vai aparecer, nenhuma reforma ou reconstrução será necessária na sua relação com a religião.

Enfim, religião e perseverança e dedicação. cuidado e humildade. Não queria pular etapas, deixe que as surpresas se descortinem a sua frente. Seja uma folha em branco…….

Axé e felicidades sempre. Tomeje dezembro de 2020.

Respostas de 6

  1. Boa noite kk sou eu denovo kk
    Quanto mais leio mais fico curiosa sei que algumas coisas devo perguntar no meu ile mas se me permite gostaria de perguntar algumas aqui.
    Na verdade essa duvida é mais voltada para o âmbito pessoal
    Quando o Senhor descobriu que sua missão era ser Babalorixa como reagiu, foi fácil aceita?Como é feita essa escolha por parte dos orixas ou escolhemos ainda quando estamos no Orun?Sei que ter cargo dentro do axé é uma grande responsabilidade e uma responsabilidade maior ainda mexer no ori de uma outra pessoa. Se puder me contar sua trajetória eu agradeceria muito.

    1. Day, minha mãe já era de candomblé quando estava grávida mim é se iniciou durante minha gestação. Eu nunca vivi outra religião e sou apaixonado pelo candomblé por que me descobri a religião e descobri uma religião fantásticamente rica culturalmente. Eu sempre me reconheci um estudioso da religião mas sempre soube que teria um caminho natural de liderança. Sempre fui um líder em todos os caminhos que segui, tanto no trabalho, nos estudos, vida pessoal ou vida religiosa. Mas isso não indicava sacerdócio, a minha trajetória de educação e respeito à religião contribuiu para que meu caminho se direcionasse naturalmente para o sacerdócio. Mas entre ter o caminho e aceitar o caminho vai uma longa distância. O sacerdócio requer amor e dedicação e respeito que só Aprendemos de verdade om o tempo.
      Hoje estou transferindo minha Casa para o meu filho biológico conforme orientação feita há Alguns anos por meu orixá de que ele seria meu sucessor. Acho que é isso kkkjkkk
      Axé e felicidades sempre.
      Tem muita gente que confunde a cerimônia de 7 anos com Deká. São coisas muito diferentes.

  2. Kolofé, gratidão pelos esclarecimentos.
    Estou um pouco receosa de estar ficando doida rsrs… frequento uma casa de jejê fundada em 69. Frequento a 2 anos e, faço parte do xiré há 1 ano. Há 1 mês atrás em uma saída de 3 anos eu entrei em transe, pelo menos foi o que me disseram, que minha mãe havia passado. No caso eu só senti meu coração acelerar muito e não tinha controle sobre o meu corpo. Fiquei dormindo, mas em Sá consciência eu sabia que não estava dormindo, meu corpo tremia todo, minha cara parecia que eu estava com nojo ela estava estranha eu sentia tudo, só não conseguia sair da posição e, me mexer, fiquei deitada na esteira até uma equede me chamar pelo meu nome. Enfim, aconteceu mais uma vez, fiquei envergonhada pq eu nunca fiz um bori ou obi. Só ebó, queria saber se pode ser uma coisa da minha cabeça ou realmente pode acontecer de uma pessoa que ainda não passou pelo ato da iniciação ter esse contato com seu orixá. Me desculpa o texto longo.

    1. Patricia, seja muito bem vinda ao blog. Que lindo que é esse momento de ligação com seu Vodun ( em Jeje tradicional as divindades sao chamadas de Vodun), e consigo mesma. Tenho recebido algumas pessoas relatando essa dúvida sobre poder haver manifestação da Divindade mesmo antes de ser iniciada. Sim, pode e é natural que exista a manifestação antes da iniciação. O que você relatou é “sintoma” ( sintoma é legal, né? Kkkkk), de manifestação da Divindade que habita em você. Você não está maluca kkkkk. Agora é ir se acostumando com essa energia que nos preenche de felicidade, força, amor e tantas outras formas de se ligar ao universo.
      Veja que frase linda do saudoso Pierre Verger. Tente me explicar como você compreende essa frase. Perguntado como ele entendia como o Orixá escolhe o seu filho, ele respondeu o seguinte. “O filho precisa do Orixá para ser quem ele (filho) é de verdade. E o Orixá precisa do filho para existir de fato”. Axé e felicidades sempre, babá Tomeje.

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