O Axé:

O axé (àse) é o elemento essencial à existência. Imaterial, o axé é a energia contida em todos os seres e coisas. O axé é a capacidade de realização, a vontade e a ação.  Ter “axé” é ter poder de realizar. Presente em tudo, sua maior expressão é o sangue (ejé).

Segundo Beniste, é …”um fluido mágico que não tem forma mas é sentido, e que dá vida e forma a tudo que existe”. Se a pessoa está viva, está com o Àse de Olódùmarè (Beniste J., Bertrand,2.000).

Os sacerdotes de Candomblé são denominados por alguns, como Babálàse ou Iyálàse (Pai de axé ou Mãe de axé).

A própria Casa de Culto, é definida como Ilê Àse (Casa de Axé).

A palavra “axé” é também utilizada como forma de saudação. Desejar “axé” a alguém é querer bem.

Responder “axé” a algum pedido, louvação ou invocação positiva, significa dizer “que assim seja”.

Quando os yorubás invocavam Ìjúbà, respondiam em coro “àse”!

Olójó Òní, mo júbà

Ìbà àse

Ìlà oòrùn, mo júbà

Ìbà àse

Ìwò oòrùn, mo júbà

Ìbà àse

Àríwá, mo júbà

Ìbà àse

Gúúsù, mo juba

Ìbà àse

Àkódá, mo júbà

Ìbà àse

Asèdá, mo júbà

Ìbà àse

Ilê, mo júbà

Ìbà àse

Èsù Òdàrà, mo júbà

Ìbà àse

Agbagba,mo juba

Ìbà àse

Senhor deste dia, minha homenagem

Que a homenagem seja aceita

Leste, eu rendo minha homenagem

Que a homenagem seja aceita

Oeste, eu rendo minha homenagem

Que a homenagem seja aceita

Norte, eu rendo minha homenagem

Que a homenagem seja aceita

Sul, eu rendo minha homenagem

Que a homenagem seja aceita

Ao primeiro ser criado, eu rendo minha homenagem

Que a homenagem seja aceita

Criador dos Homens, eu rendo minha homenagem

Que a homenagem seja aceita

Terra, eu rendo minha homenagem

Que a homenagem seja aceita

Èsù Òdàrà, eu rendo minha homenagem

Que a homenagem seja aceita

Aos ancestrais, eu rendo minha homenagem

Que a homenagem seja aceita

Cada Orixá, enquanto regente de elementos da natureza e de emoções, tem seu próprio axé, como energia correspondente.

Os símbolos e paramentos litúrgicos de cada Orixá são os portadores do axé de cada divindade.

O sàsàrà de Omolu (bastão feito de cabaça com pós mágicos e filetes de dendezeiro), é o ícone de sua capacidade de cura. Concentra todo o axé deste Orixá. Assim como o àbèbè de Oxum (leque), é a própria representação da vaidade, do encanto, da sensualidade e da feminilidade regidas por Oxum. O àbèbè é a expressão do axé de Oxum.

A paz, a saúde, a felicidade, o dinheiro, são também expressões de axé. Quando estamos equilibrados, ficamos em sintonia com o axé positivo.

O Culto aos Orixás, através da liturgia do Candomblé serve justamente para buscar a moderação entre os homens e seus deuses, através da manipulação do axé dos elementos usados nos rituais.

Os ebós (oferendas) e os sacrifícios são cuidadosamente prescritos pelos Sacerdotes como maneiras de interligar os fiéis aos Orixás, através do axé de cada ingrediente.

As folhas utilizadas nos banhos devem ter o axé (enquanto elemento) apropriado à necessidade do paciente (folhas de apaziguamento, ou de energização).

Os elementos manipulados nos ebós também possuem a energia (axé) apropriado a cada finalidade. Por exemplo: o peixe (ejá), que representa a paz, a placidez; o pombo (eiyelé), que representa a honra, a prosperidade, a serenidade, a capacidade de voar acima dos problemas, o caramujo (ìgbín), relacionado à docilidade, a calma; a noz de cola (obì), um sinal de amizade, cortesia, de comunhão, etc…

A paz, a saúde, a felicidade, o dinheiro, são também expressões de axé. Quando estamos equilibrados, ficamos em sintonia com o axé positivo.

Na iniciação, o neófito “recebe” em seu próprio corpo, através dos ritos apropriados, os elementos e o axé que o transformam em um altar vivo do seu Orixá. O homem iniciado renasce em vida pelo poder do axé.

Ao morrer, o axé se esvai com o último suspiro. Daí a necessidade de se fazer o rito de redução, inversão da iniciação: o axexê (asèsè). Com a morte, o corpo inerte perde totalmente o axé. Deve então retornar para a terra, recompondo a natureza e equilibrando seus elementos.

Os homens negros, nossos ancestrais africanos, há milhares de anos, já haviam descoberto que o universo não é feito de átomos, mas de axé. O axé seria a menor partícula do cosmo, portanto os átomos também seriam compostos desse elemento tão especial. É o axé que nos move, nos conduz, nos complementa, nos cerca e nos constitui, física e espiritualmente. A interação entre os Homens e a natureza que o cerca, passa a fazer mais sentido quando compreendemos que tudo a nossa volta é composto pela mesma partícula primordial: o axé. Como ele está em nós, assim como em nossos semelhantes, nos animais, nas plantas, etc. é mais do que crucial enxergarmos todos os Seres como nossos irmãos.

A arte da vida e os mistérios da morte giram em torno desta força tão poderosa e ao mesmo tempo sutil, o axé.

Márcio de Jagun

Babalorixá, escritor, professor universitário, advogado e apresentador do Programa Ori (ori@ori.net.br)

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Respostas de 6

  1. boa noite eu to numa casas e me derao um cargo deviado au meu orixa ogum
    de iba oxe gostaria de saber o significado des de ja obrigado

    1. Laucenir, boa tarde e seja bem vindo. Vc tem certeza de que o nome é esse mesmo? Nunca ouvi falar deste cargo e nem imagino o que pode significar. Laucenir eu, por exemplo sou balogum, o termo Balogume stá ligado a “chefe da guerra”. O Balogum era o responsável pela estratégia de guerra de uma comunidade. Aqui no Brasil o termo é ligado ao culto do Orixa Ogum de uma comunidade terreiro. Outro exemplo é o Axogum “Aquele que detem o direito de fazer o sacrifício litúrgico”. São exemplos de cargos que podemos facilmente encontrar em outras Casas de Axé ou em referencias bibliográficas de autores conceituados como Pierre Verger e outros. Neste caso eu acho que vc deveria ver direito com quem te deu o cargo o seguinte. De onde vem o nome e o que ele significa. Em que ou em qual o Axé tradiconal este cargo existe? Apontar pelo menos uma pessoa que foi apontada e confirmada neste cargo.
      Sei que muitas vezes isso pode parecer um afronto a quem deu o cargo, mas é bme melhor vc se certificar de que o cargo existe doq ue pagar mico nas rodas de candomblé com um cargo inventado. E pode ter certeza que isso de inventar cargo é bem normal hoje em dia. Axé, Tomeje.

  2. Boa tarde Tomeje, tudo bem?
    Estou postando como JoaoF hoje, simplesmente para evitar que algum irmão meu possa me identificar. Mas pelo o meu e-mail, vc pode ter uma idéia de quem sejá! rs

    Queria falar sobre duas situações que aconteceram comigo. Sei que confirmação de algo desta natureza é só através de um jogo de buzios, porém minha Yá está muito ocupada neste inicio de ano com algumas obrigações e não está sendo possível realizar o meu jogo. Sendo assim, gostaria de recorrer a sua experiência para que me dê apenas a sua opinião…

    Seguinte, em um certo dia em uma visita a casa de um outro babalorixa, não sei porque se começaram a tocar os atabaques e tal e este senhor começou a proferir algumas saudações. Neste momento, senti o meu corpo extremesser e acabei perdendo os sentidos parcialmente, porém me vi rodando na sala e inclusive com as mãos para trás.
    Outro dia (isto já em casa), durante a uma festividade, eu abraço um orixá manifestado em um dos meus irmãos e derrepente me vejo no chão sem conseguir me mexer, mas parcialmente conciente também em alguns momentos. Não chego a bolar (eu acho). Depois que me colocaram de pé, foi voltando os meus sentidos aos poucos.

    Minha duvida: Na sua opinião, isto foram sinais de orixá pedindo feitura, ou pode haver ou pode existir outros motivos para ele “passar” desta forma?

    Muito Obrigado!

    1. JoãoF, bom dia e seja bem vindo. Meu irmão o “bolar” é muito subjetivo, alguns perdem os sentidos completamente e outros permanecem conscientes, ms num estado de “paralisia”, sem controle do corpo. Há muito que se discutir a cerca do transe, inclusive essa questão de “apagar ou não apagar”, isso é delicado e controvertido e precisa ser esclarecido dentro dos terreiros para que não criemos falsas realidades nas cabeças dos novatos sobre este tema. Há transe onde as pessoas perdem a consciencia, mas há outras que a perdem parcialmente. Mas isso é outro assunto. No seu caso oq ue vejo como fato é que vc manifesta Orixa, se vc bolou ou se o orixa se manifestou “efetivamente”, isso pouco importa. O importante é que vc manifestou a energia Orixa. O fato do orixa bloar ou se manifestar no filho não significa que o filho precisa ser iniciado agora. Eu sempre repito que a iniciação é um processo, o ideal é que apessoa seja abiã na Casa, estude o candomblé, entenda as realaçoes daquela Casa e dos filhos da Casa e sinta-se bem e feliz com aquela comunidade, só depois disso vem a etapa de iniciação. Aprecie com calma cada etapa de sua vida religiosa, é mais gostoso viajar apreciando a paisagem. Axé, Tomeje.

    1. Salete, seja bem-vinda. O blog existe justamente para isso, para que conversemos e tiremos dúvidas sobre a religião. Pode mandar sua pergunta que a responderemos. Axé, Cátia.

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