O BARRACÃO – Àgọ´(pavilhão): Texto Pai Marcio de Jagum

O BARRACÃO – Àgọ´(pavilhão):

Embora as Casas de Candomblé sejam genericamente denominadas de “Barracões”, este é na verdade o espaço onde a Comunidade promove suas festas e celebrações públicas.

O nome tradicional (Barracão) remonta ainda o momento em que os Calundus (primeiras organizações religiosas afro brasileiras) eram praticados nas senzalas.

Hoje, esta dependência é mais comunmente denominada de “sala”, ou “salão”. É no salão onde os xirês de louvação aos Orixás, as Obrigações de tempo de santo e as iniciações são celebradas.

O salão é o espaço onde o Egbe (a Comunidade) recebe suas visitas ilustres e anônimas, durante a parte pública da ritualística do Candomblé.

Como o Candomblé é uma Religião de tradição oral, alguns atos rituais necessitam de testemunhas, para que estas atestem e divulguem a realização dos mesmos.

Este é o caso, por exemplo, da cerimônia do nome (momento em que o Orixá do Iniciado grita no salão o orukó – seu nome iniciático). Esta cerimônia deve ser acompanhada pessoalmente por um “padrinho”; este geralmente é uma pessoa de fora daquela Comunidade, que exercerá a função de perguntar diretamente ao Orixá seu orukó, para que este o diga publicamente, de modo que todos os presentes na sala ouçam e testemunhem que o nome foi pronunciado e o iyawô incorporado foi validamente iniciado para o Culto. Sem este ato público, o processo iniciático não é reconhecido.

O salão é palco de momentos célebres na vida daquela Comunidade. É ali que os Orixás vestidos dançam, contando suas histórias, seus feitos e perpetuam seu culto distribuindo axé a todos os presentes. Ali, renascem em público os neófitos que mergulham neste mundo encantado que une no mesmo espaço físico, os deuses que viveram no passado, os devotos do presente e as esperanças para o futuro.

O salão é o espaço onde os atabaques soam despertando com seus ritmos as partículas ancestrais que fazem pulsar nosso peito, que fazem acelerar nossa respiração, despertando em nós um vínculo hereditário com as divindades africanas.

É no salão que a fé se renova, que a Cultura se perpetua. É no espaço da sala, que devem ser exercidos princípios fundamentais da religiosidade afro como a hospitalidade, considerada um importante ato de bondade (oore).

A sala também é utilizada em momentos de dor. É neste mesmo espaço que os sacerdotes mortos são velados, recebendo as exéquias antes do sepultamento. Também na sala, dias após o enterro do morto, a Comunidade realiza parte dos rituais fúnebres.

O salão é disposto em local de fácil acesso, geralmente nas dependências de entrada do Ilê Axé, a fim de favorecer o ingresso dos visitantes.

O salão tradicional de Candomblé é simples. Sua configuração é normalmente retangular, com piso frio e janelas, ou meia parede, que permitam a circulação do ar, e em dimensões que possam acomodar bem a Comunidade na roda do xirê, bem como as visitas em bancos e as autoridades religiosas em cadeiras destacadas.

O Babalorixá, ou a Iyalorixá líderes daquele Egbe, têm acento em trono exclusivo, normalmente próximo aos atabaques, em local que lhes permita controlar o ambiente.

No salão, além dos bancos, cadeiras e atabaques (estes dispostos diametralmente opostos ao grande público), são também colocados os idí Orisá (os assentamentos da Casa). Os idí òríṣá são pousados aos pés e ao topo da cumeeira (poste central que representa a ligação mítica entre a terra – aiyê; e o céu – orún).

O salão é enfeitado a cada festa, com panos, flores, bandeirinhas e plantas ornamentais correspondentes aos Orixás que serão louvados na ocasião.

Como apenas as cerimônias públicas são realizadas no salão, normalmente podem ser registradas em vídeos e fotos. Contudo, algumas Casas mantém o costume de não permitir o uso destas tecnologias.

Dada a importância deste espaço, a sala deve ser preservada como local sagrado. Nela deve ser evitado o uso de bebidas alcoólicas, discussões, gritarias, cigarros e também o ingresso de pessoas com trajes inapropriados a um Templo religioso.

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Rio de Janeiro, 22/5/13.

Márcio de Jagun

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