O ILÉ IBỌ AKÚ:

 

A Casa da Morada da Morte, ou a Casa de Adoração dos Mortos, é um local reservado nos Terreiros de Candomblé.

É importante diferenciar o Ilé Ibọ Akú, quarto existente nos Terreiros Lesé Oriṣa – onde são assentados e cultuados os Esás, dos quartos e dos assentamentos do culto Egúngún, dos Terreiros Lesé Igbalé.

Os esá são os espíritos dos ancestrais daquela comunidade; enquanto os eguns são espíritos dos parentes diretos de determinados clãs, ou famílias.

Os esá são espíritos daqueles que em vida exerceram importante influência naquele egbé. São antigos fundadores daquele Axé, ou patriarcas da Religião, ou ainda oloyês que exerceram funções relevantes naquele Terreiro.

A disposição geográfica do Ilé Ibọ é geralmente em local afastado e de pouco acesso. Lá só entram as pessoas autorizadas diretamente pelo esá, ou pelo sacerdote.

O quarto que constitui o Ilé Ibọ Akú é pequeno. Pode ser de alvenaria, madeira, ou sopapo, coberto com sapê, ou mesmo com telhas. Não possui janelas e sua porta em geral é cortada na horizontal, para demonstrar que a vida ali foi extinta.

O piso do Ilé Ibó até pode ser cimentado, mas o local onde o assentamento pousa, deve ser direto sobre a terra. A mesma terra onde o antepassado pisou enquanto vivo. A mesma terra que o recebeu de volta quando morreu. A terra é a única mãe que se abre para receber seus filhos de volta.

O propósito de cultuar os esás no Ilé Ibọ Akú, é manter viva a tradição, diretamente vigiada pelos ancestrais. O culto aos esás não permite que as tradições sejam pervertidas, pois se enquanto vivos os ancestrais lutaram por ela, agora após a morte, permanecem como seus guardiões e como suas grandes referências.

O assentamento dos esás é simples, como simples é a morte. Resguardadas as variações de cada Casa, é pacífica a utilização de pratos, alguidares e lama. A mesma lama fundamental à vida, agora representa a morte, dando sentido à continuidade do ciclo das encarnações (atunwá).

Também é comum a ornamentação interna do Ilé Ibọ com tiras de panos dobrados na vertical, símbolos dos antepassados. O mesmo símbolo usado pelas matriarcas do Candomblé em seus ombros (os panos da costa).

Sempre que novos adeptos forem iniciados naquele Terreiro, deverão ser apresentados ao esá, próximo à porta do Ilé Ibọ Akú. Esta é uma prática de respeito aos mais velhos. Um pedido de licença aos fundadores e antigos guardiões do Axé. É também um gesto de agradecimento, pois se ali estão, devem reconhecimento aos que existiram antes.

O Candomblé é uma Religião de culto aos ancestrais. Assim, os Oriṣas são os antepassados divinizados, enquanto os esá são os ancestrais que, embora não divinos, merecem respeito, reverência e gratidão. Não é possível evoluir sem entender o passado. Não é possível esperar o futuro sem aprendermos a agradecer o presente. O Homem pisa no destino, com a herança dos seus ancestrais.

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Rio de Janeiro, 03/713.

Márcio de Jagun.

Respostas de 5

  1. Muito prazer tenho nesta manhã de domingo, ao pegar o celular e abrir nesta página. A leitura do seu texto, meu velho, foi um alento. É bom saber que existem mais velhos em nossa religião, que externam seus anseios e não se mostram prontos, acabados em seu processo de aprendizagem. Parabéns, feliz domingo! Espero um dia lhe conhecer pessoalmente.

    1. Célia Bragança, seja bem vinda ao blog. Muito obrigado pelo carinho, aprender com os mais velhos é uma dádiva e eu tenho orgulho de ter ouvido e visto meus mais velhos dando exemplos. Muito obrigado. Minha casa é em São Gonçalo, RJ. Estamos sempre abertos a um bom papo. Axé e felicidades sempre. Babá Tomeje.

  2. Motumba Babá!
    Sou o Babá Bosco de Sagnò – Babalorisà do Ilè Okowoò Asè Yia Lomin’Osa, situado em CuiabÁ/MT. Li o artigo que o senhor postou sobr Ile Ibo Ikú. Muito bom, abre precedente para ótimas reflexões sobre a importância do culto aos ancentrais – Esás. Parabéns pelos escritos. Que nossas Divindades continue dando inspirações ao senhor para continuar escrevendo e postando artigos tão importante para nosso crescimento na condição de religiosos(as) de matriz africana. Fiquem Bem. Abraços Fraternos.

    1. Babá Bosco de Xangô. Seja bem vindo ao blog. Ficamos muito felizes com seu comentário. O texto é do meu pai Márcio de jagum, escritor e professor de Yorubá. Vou repassar para ele o seu carinhoso comentário. Que pai Xangô nos abençoe sempre. Sua bênção. Obrigado.

      1. Boa noite Babá Bosco de Sango.
        Segue resposta do meu pai Márcio de jagum.
        Muito obrigado feliz por saber que o trabalho está sendo útil. Nossa proposta é essa mesma: propor sempre reflexões. Um grande abraço e muito àṣẹ!

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