Os Ajogun. Texto de Pai Marcio de Jagun

OS AJOGUN:

Os Ajogun são forças malignas que habitam o lado esquerdo do cosmo, segundo a crença yorùbá.
O número total de Ajoguns era de 200 + 1, o que significava seu poder infinito de multiplicação.
Eles faziam um contra ponto aos Òrìsà (entidades benévolas), que ocupavam o lado direito do cosmo e totalizavam o número de 400 +1 (igualmente para indicar a capacidade de surgimento de novas divindades).
O fato de existir o dobro de entes do bem, em relação aos do mal, demonstra que há mais possibilidades de vitória para os Homens, do que de derrota.

Haviam oito guerreiros que representavam os Ajogun no mundo (àiyé): Ikú Oníkò (a morte), Àrùn ( a doença – esposa de Ikú), Òfò (a perda), Ègbà (a paralisia), Òràn (os problemas), Èpè (a maldição), Èwòn (a prisão, que passou a ser considerada como força sobrenatural em algumas sociedades modernas) e o último era Èse (a aflição – resumo de todos os demais males não mencionados).
Os iorubás acreditavam que o próprio Ọlọ́run, teria colocado os Ajogun na Terra com a finalidade de controlar os seres humanos.
Logo, a atuação dos Ajogun era limitada à vontade de Ọlọ́run (O Deus Criador). Ou seja, Ikú (a morte) só poderia encerrar a vida de alguém cujo destino tivesse chegado ao fim; ou antes disso, para punir algum descumpridor das lei divinas.
Da mesma forma, Égbà (a paralisia), só iria molestar uma pessoa para aplicar-lhe uma pena, por ordem de Ọlọ́run. Aquele que se tornasse paralítico ao longo da vida, certamente teria cometido crimes passíveis de pena pelos Homens e pelos deuses.
Partindo-se do princípio de que essas forças malignas e seu poder não têm fim, podemos entender males contemporâneos, como o câncer, as drogas, a depressão, o HIV, a corrupção, a poluição, os desastres coletivos, etc.
Da mesma forma que o mal se perpetua e se modifica, também o poder benigno pode ser notado nos dias de hoje. O avanço da medicina, o desenvolvimento científico, as preocupações com a sustentabilidade social, podem ser vistas como ações dos Òrìṣà para a proteção e ajuda aos Homens.
Interessante ilustrar este ângulo de visão, com o fato de que Ògún, o Òrìṣà ferreiro, inventor das ferramentas agrícolas e bélicas (consideradas grandes exemplos de avanço e de modernidade cerca de mil anos antes de Cristo), hoje é reconhecido como a divindade da tecnologia, patrono de todos os avanços neste sentido, como a aviação, a internet, a tv, etc.
Não se deve confundir os Ajogun com Elénìnì. Enquanto os primeiros são o próprio mal, Elénìnì (conhecida também como Ido Boo e ainda chamada de Yeyemuwo – a “mãe da desgraça), era uma divindade cuja atribuição seria criar obstáculos, dificuldades na realização do destino dos Seres Humanos.
(Márcio de Jagun, trecho do Livro “Orí – A Cabeça como Divindade”, editora Litteris)

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