Oyo, o grande império Yorubá

OYO:

Oyo foi um grande império yoruba, que durou entre os anos de 1400 e 1835. Localizava-se na África Ocidental, onde hoje é a Nigéria.

Geograficamente, Oyo mantinha-se ao norte do planalto yorubano. Seu solo ondulava levemente, revestido pelas savanas, cravejadas de enormes baobás, intercalados por superfícies rochosas de granito.

Do planalto de Oyo, brotavam nascentes que escorriam em rios em direção ao norte, até encontrar o rio Mosi; ou descendo ao sul, até convergir para o rio Ogun.

Quando os exploradores europeus chegaram à África, Oyo já era um dos maiores estados africanos, rico e poderoso.

Pesquisadores afirmam que por Oyo passava uma antiga rota de comércio que ía dos córregos traiçoeiros de Bussa (próximo à nascente do rio Níger), até o litoral do Oceano Atlântico. Dali, ramificava para as terras hauças, nupes, baribas e também para as florestas ao sul.

As riquezas de Oyo foram adquiridas através do comércio e de sua grande e poderosa cavalaria. Graças a seu poderio, Oyo dominou várias monarquias africanas, tornando-se muito importante politicamente. Os domínios de Oyo, em meados do século XVII, se estendiam até a região que hoje pertence à República do Benim e o Togo.

Oranyan, filho de Ogun, criado por Odudua, o grande Oni de ilê Ifé, teria atacado Oyó e assumido seu governo, tornando-se Alafin, embora haja muita controvérsia a este respeito.

Naquele momento, Oyo era ainda um povoado pequeno e sem muita importãncia. Mas o interesse de Oranyan era estratégico. Dominando Oyo, acabaria com o fornecimento de ferro para seus inimigos, pois todos eles se abasteciam comprando o mineral das jazidas de Oyo.

Existem até itans relatando a mítica guerra que garantiu o domínio de Oyo.

O mais famoso deles, relata que após a morte de Odudua, Oranyan lhe sucedeu na regência e resolveu empreender uma expedição junto com seus irmãos contra Meca, para vingar a morte de seu bisavô (Lumurudu). Contudo, durante o caminho os irmãos teriam se desentendido e se separado.

Oranyan teria seguido viagem até o rio Níger, onde se defrontou com os nupes, que o impediram de atravessar o rio, sendo forçado a retornar a Borgu. Lá, um rei bariba, perguntado por Oranyan onde este deveria fixar seu exército, enfeitiçou uma jibóia e disse a Oranyan que a seguisse até o local onde a cobra parasse por sete dias até desaparecer. Nesta localidade, Oranyan ergueria a nova aldeia. E assim serpente coduziu o herdeiro de Odudua até uma montanha conhecida como Ajaka. E no lugar exato onde seu cavalo escorregou, Oranyan fundou Oyo, cujo nome significa “lugar escorregadiço”.

Alberto da Costa e Silva, em “O Machado e a Lança”, discorda dessa possibilidade: “Quando Oranyan, ou quem este nome encubra, chegou a Oyo – provavelmente a pé, apesar do que diz a lenda, uma vez que o cavalo só foi introduzido entre os nupes e os baribas nos meados dos Quatrocentos e só se tornaria comum no norte do Iorubo no início do século XVI -, talvez ali tivesse encontrado povoadores mais antigos. Pesquisas arqueológicas feitas no local revelaram uma aldeia de mais de um quilômetro quadrado, anterior à construção das muralhas de Oió, e para essa aldeia o radiocarbono já deu uma data do princípio do século XII. A transformação da vileta em cidade processar-se-ia duzentos anos depois.”

Na cidade de Ifé, não se admite a possibilidade de Oranyan ter sido obá do Benim, nem mesmo Alafin de Oyo, em que pese o reconhecimento de que ele realmente tenha morado em tais cidades e lá deixado herdeiros para serem reis.

Os egbás, em sua versão, dizem que Oyo foi fundada por um caçador nupe chamado Momo, oriundo de Ogodo, um vilarejo situado na margem direita do rio Níger.

O fato é que, dez anos após o início do governo de Oyo por Oranyan (e esse fato ninguém discute), a cidade já contava com dez mil habitantes. Passou a ser conhecida pelos seus artesãos, ourives e ferreiros. Seu mercado era poderoso, e muitos comerciantes de Ifé mudaram-se para Oyo a fim de aumentar seus negócios e enriquecer.

Oyo tornou-se tão importante, que reis inimigos, tentaram usurpar seu domínio.

Foram muitas as investidas dos baribas, vizinhos ao norte e a oeste, que atacavam após a seca do rio Mosi. Contra os nupes, fronteiriços a nordeste, que controlavam a travessia do Níger, Oyo não tinha qualquer proteção. Ao sul e a sudeste, eram os ibolos e os igbominas que perturbavam.

O pior dos ataques partiu de Akinjolê, primo de Oranyan, que com seu exército de quatro mil homens, tomou a cidade de assalto, enquanto o exército de Oyo lutava em outra frente. A destruição foi terrível. Oyo foi arrasada e queimada, fazendo centenas de vítimas. Mas a reviravolta não tardou. Oranyan reorganizou suas forças e reconquistou Oyo, matando Akinjolê e seus descendentes.

Oyo foi totalmente reconstruída, e tornou-se ainda mais próspera, passando a ser conhecida como Nova Oyo, distinguindo-se da chamada “Old Oyo”, como viriam a batizar os europeus. Foi uma era de paz. Oranyan que já contava cinquenta e cinco anos, decidiu mudar-se de Ifé para Oyo, de onde controlaria todos os seus domínios: Oyo, Benin e Ifé.

O perceber a morte iminente, aos sessenta anos, Oranyan teria resolvido voltar a Ifé para lá esperar o fim da vida. O grande rei deixaria dois herdeiros: Onigbori e Adebiyi.

Outra corrente, defende que os dois filhos deixados por Oranyan em Oyo, seriam Ajaca e Xangô. Contudo, nada impede que Onigbori e Ajaca fossem a mesma pessoa, assim como Adebiyi e Xangô. Isto, porque era comum que os yorubanos fossem conhecidos por outros nomes a certa altura da vida, em razão de seus feitos, cargos e heranças familiares.

Ajaca, o mais velho, teria assumido o trono de Oyo, porém era fraco e foi deposto por Xangô.

Segundo a tadição, Xangô seria filho de Oranyan com Torosi, filha de Elempe (um rei nupe). Xangô teria sido criado com a mãe e depois ido morar na cidade de Kosso, onde se impôs pela força.

Depois de destronar o irmão Ajaca em Oyo, Xangô foi para Oko, de onde iniciou sua trajetória mítica. Narra-se que ele venceu o rei de Owo lançando chamas e fumaça pela boca, iludindo os inimigos enquanto sua tropa e seus arqueiros massacravam o exército local.

Xangô adquire fama de poderoso guerreiro e mágico. Seu governo foi conhecido pela tirania e pela violência.

Um itan até hoje mencionado em Oyo, relata que certa vez Xangô subiu ao monte de Ajaka e convocou os relâmpagos. Em razão disso, um raio teria caído sobre uma casa e matado todos que lá estavam, inclusive alguns filhos e mulheres do próprio Xangô. Após a tragédia, Xangô teria se tornado depressivo e desgostoso, vindo a abdicar do trono e suicidar-se enforcado em uma árvore.

Verger discorda da teoria do suicídio de Xangô, atribuindo esta versão a missionários europeus no século XIX interessados em abalar seu culto e a denegrir Xangô, que já havia se tornado um ancestral divinizado na região.

Outra vertente indica que Xangô não teria se matado, mas simplesmente abandonado Oyo e dasaparecido, face ao desgosto pela morte da família.

Matando-se ou não, o fato é que Xangô por sua história singular, tornara-se um personagem épico. Sua vida foi como uma tragédia grega: filho de menor importância de um grande rei, criado distante da côrte; um estrangeiro que marcha contra o próprio irmão e se torna rei; um obá que em um curto governo de apenas sete anos, estende seus domínios como jamais houvera acontecido; um tirano apaixonado que se mata ao ter provocado acidentalmente a morte de sua família…

Controverso ou não, foi Xangô quem introduziu a realeza sagrada em Oyo. Foi ele quem instituiu o culto do trovão e do relâmpago como crenças oficiais de Oyo.

Após o desaparecimento de Xangô, os oyós mandaram buscar Ajaca, o irmão destronado, para novamente fazê-lo Alafin.

Desta vez, Ajaca se mostra um rei mais forte. Lança-se  à guerra contra os nupes e estende seu reino por sobre várias cidades e aldeias iorubanas. A tradição conta que Ajaca sozinho matou 1.600 inimigos, cortando suas cabeças e fazendo uma grande pilha para que fossem veneradas.

Os filhos de Ajaca, como Aganju, perpetuaram o mito dos Alafins de Oyo. Diz-se que Aganju domava cobras, leopardos e outras feras perigosas.

Quando Aganju morreu, seu filho e sucessor Cori, ainda estava no ventre de sua mãe Ijaium. A rainha ocupou a regência até a maioridade do filho. Mas foi Cori que ampliou o território de Oyo até as margens do rio Oxum, onde fundou a cidade de Edé.

No final do século XV, quem assumiu o poder foi Oluaso. Reza a lenda que o Oluaso mandou construir 44 palácios, sendo que o principal deles chegava a ter 120 espigões.

Pelo poderio de Oyo, a essa altura, muitos reinos haviam sido dominados e outros tantos buscado espontaneamente a fusão com Oyo para protegerem-se contra a ameaça dos baribas e dos nupes.

A dinastia dos obás de Oyo já era reconhecida. O Alafin (soberano de Oyo) era um rei sagrado, que vivia recluso no palácio, fora do contato com os súditos. Apenas vinha a público em datas festivas e religiosas, mas sempre com o rosto coberto pelo adê, e protegido por um rigoroso protocolo cerimonial.

Oyo hoje não é mais um reino independente: é uma cidade da Nigéria, com seu território bastante diminuído em relação ao que era.  O Alafin não é mais o governante político, pois a Nigéria é uma república. Mas até os dias de hoje, seu poder é reconhecido como uma dádiva dos Orixás. É tido como um símbolo religioso, como um baluarte dos ancestrais de Oyo.

O Alafin, além de descendente dos obás, é o sumo sacerdote de Xangô e seu poder garante romarias de turistas de várias localidades para verem e serem abençoados pelo Xangô vivo, o herdeiro direto da dinastia mítica dos Alafins de Oyo.

Até hoje o Alafin é saudado em Oyo, com a mesma expressão utilizada para reverenciar o Orixá Xangô: “Kawô kabiyesile”! (Ká:permita-nos; wô :olhar para; Ka biyê si:Sua Alteza Real; Le:complemento de cumprimento a um chefe – Permita-nos olhar para Vossa Alteza Real!).

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