Material retirado do Facebook Alafia.
ONILÉ, A PRIMEIRA DIVINDADE DA TERRA
Os antigos povos que deram origem aos atuais iorubás ou nagôs, de cujas tradições se moldaram o candomblé no Brasil, cultuavam uma entidade da Terra, a Terra-Mãe, que recebeu muitas denominações em diferentes aldeias e cidades que formam o complexo cultural iorubá e seus entornos principais, entre os quais os jejes mahis e daomeanos e os tapas ou nupes e os ibos. Esta antiga divindade é até hoje cultuada e recebe o nome de Onilé, a Dona da Terra, a Senhora do planeta em que vivemos. Outros nomes da Terra-Mãe são: Aiê, Ilé, Ialé, também Ije, Ale, Ala, Aná, Ogerê, e mesmo Buku e Buruku. Entre os jejes do Maranhão e da Bahia é chamada Aisã. Creio que grande parte dos seguidores do candomblé nunca ouviu falar ou teve apenas vagas referências sobre Onilé, mas em certos candomblés de nação Keto, que preservam ou reconstituem tradições que em grande parte se perderam na diáspora iorubana, pratica-se um culto discreto, mas significativo a Terra-Mãe, para a qual se canta, ou no início do Sirê ou no final da chamada roda de Sòngo, a cantiga que diz “Mojubá, orisá/ ibá, orisá/ ibá Onilé”, que pode ser traduzido como “Eu saúdo o orisá/ Saúdo Onilé/ Salve a Senhora da Terra”. Onilé é uma divindade feminina relacionada aos aspectos essenciais da natureza, e originalmente exercia seu patronato sobre tudo que se relaciona à apropriação da natureza pelo homem, o que inclui a agricultura, a caça e a pesca e a própria fertilidade. Com as transformações da sociedade iorubá numa sociedade patriarcal ou patrilinear, que implicou a constituição de linhagens e clãs familiares fundados e chefiados por antepassados masculinos, as mulheres perderam o antigo poder que tiveram numa primeira etapa (um mito relata que, numa disputa entre Oyá e Ogum, os homens teriam arrebatado o poder que era antes de domínio das mulheres). Os antepassados divinizados tomaram o lugar das divindades primordiais e houve uma redivisão de trabalho entre os orisás. As divindades femininas antigas tiveram então seu culto reorganizado em torno de entidades femininas genéricas, as Yiá Mi Osorongá, consideradas bruxas maléficas pelo fato de representarem sempre um perigo para os poderios masculinos, e vários orisás tiveram dividido entre si as atribuições de zelar pela Terra, agora dividida em diferentes governos: o subsolo ficou para Omulu-Obaluaye e para Ogum, o solo para orisá-Oko e Ogum, a vegetação e a caça para os Odes e Osonyin e assim por diante. A fertilidade das mulheres foi o atributo que restou às divindades femininas, já que é a mulher que pari que reproduz e dá continuidade à vida. Constituir-se-iam elas então em orisás dos rios, representando a própria água, que fertiliza a terra e permite a vida: são as Yiagbás Yemonjá, Òsun, Obá, Oyá, Yewá e outras e também Nanã, que como antiga divindade da terra, representa a lama do fundo do rio, simbolizando a fertilização da terra pela água. Onilé teve seu culto preservado na África, mas perdendo muitas das antigas atribuições. Hoje ela representa nossa ligação elemental com o planeta em que vivemos, nossa origem primal. É a base de sustentação da vida, é o nosso mundo material. Embora sua importância seja crucial do ponto de vista da concepção religiosa de universo, os devotos a ela poucos recorrem, pois seu culto não trata de aspectos particulares do mundo e da vida cotidiana, preferindo cada um dirigir-se aos orisás que cuidam desses aspectos específicos. No Brasil, como aconteceu com outros orisás, seu culto quase desapareceu. Certamente um fator que contribuiu para o esquecimento de Onilé no Brasil é o fato de que este orisá não se manifesta através do transe ritual, não incorpora, não dança. Outros orisás importantes na África e que também não se manifestam no corpo de iniciados foram igualmente menos considerado neste País que, por influência do Kardecismo, atribui um valor muito especial ao transe. Foi o que aconteceu com Orunmilá, Oduwduwa, Orisá-Oko, Ajalá, além da Yiá Mi Osorongá. É interessante lembrar que o culto de Osonyin sofreu no Brasil grande mudança, passando o orisá das folhas a se manifestar no transe, o que o livrou certamente do esquecimento. O culto da árvore Iroko também se preservou entre nós, ainda que raramente, quando ganhou filhos e se manifestou em transe, sorte que não teve Apaoká. Na Nigéria mantém-se viva a idéia de que Onilé é à base de toda a vida, tanto que, quando se faz um juramento, jura-se por Onilé. Nessas ocasiões, é ainda costume pôr na boca alguns grãos de terra, às vezes dissolvida na água que se bebe para selar a jura, para lembrar que tudo começa com Onilé, a Terra-Mãe, tanto na vida como na morte. Um mito que já tive o prazer de contar em outras ocasiões ensina qual são a atribuição principal de Onilé, como ela está associada ao chão que pisamos e sobre o qual vivemos nós e todos os seres vivos que formam o nosso habitat, nosso mundo material. Assim conta o mito: Onilé era a filha mais recatada e discreta de Olodumare. Vivia trancada em casa do pai e quase ninguém a via. Quase nem se sabia de sua existência. Quando os orisás seus irmãos se reuniam no palácio do grande pai para as grandes audiências em que Olodumare comunicava suas decisões, Onilé fazia um buraco no chão e se escondia, pois sabia que as reuniões sempre terminavam em festa, com muita música e dança ao ritmo dos atabaques. Onilé não se sentia bem no meio dos outros. Um dia o grande deus mandou os seus arautos avisarem: haveria uma grande reunião no palácio e os orisás deviam comparecer ricamente vestidos, pois ele iria distribuir entre os filhos as riquezas do mundo e depois haveria muita comida, música e dança. Por todos os lugares os mensageiros gritaram esta ordem e todos se prepararam com esmero para o grande acontecimento. Quando chegou por fim o grande dia, cada orisá dirigiu-se ao palácio na maior ostentação, cada um mais belamente vestido que o outro, pois este era o desejo de Olodumare. Yemonjá chegou vestida com a espuma do mar, os braços ornados de pulseiras de algas marinhas, a cabeça cingida por um diadema de corais e pérolas, o pescoço emoldurado por uma cascata de madrepérola. Osòósi escolheu uma túnica de ramos macios, enfeitada de peles e plumas dos mais exóticos animais. Osonyin vestiu-se com um manto de folhas perfumadas. Ogum preferiu uma couraça de aço brilhante, enfeitada com tenras folhas de palmeira. Òsun escolheu cobrir-se de ouro, trazendo nos cabelos as águas verdes dos rios. As roupas de Osumarè mostravam todas as cores, trazendo nas mãos os pingos frescos da chuva. Oyá escolheu para vestir-se um sibilante vento e adornou os cabelos com raios que colheu da tempestade. Sòngo não fez por menos e cobriu-se com o trovão. Óòsàálá trazia o corpo envolto em fibras alvíssimas de algodão e a testa ostentando uma nobre pena vermelha de papagaio. E assim por diante. Não houve quem não usasse toda a criatividade para apresentar-se ao grande pai com a roupa mais bonita. Nunca se vira antes tanta ostentação, tanta beleza, tanto luxo. Cada orisá que chegava ao palácio de Olodumare provocava um clamor de admiração, que se ouvia por todas as terras existentes. Os orisás encantaram o mundo com suas vestes. Menos Onilé. Onilé não se preocupou em vestir-se bem. Onilé não se interessou por nada. Onilé não se mostrou para ninguém. Onilé recolheu-se a uma funda cova que cavou no chão. Quando todos os orisás haviam chegado, Olodumare mandou que fossem acomodados confortavelmente, sentados em esteiras dispostas ao redor do trono. Ele disse então à assembléia que todos eram bem-vindos. Que todos os filhos haviam cumprido seu desejo e que estava tão bonito que ele não saberia escolher entre eles qual seria o mais vistoso e belo. Tinha todas as riquezas do mundo para dar a eles, mas nem sabia como começar a distribuição. Então disse Olodumare que os próprios filhos, ao escolherem o que achavam o melhor da natureza, para com aquela riqueza se apresentar perante o pai, eles mesmos já tinham feito a divisão do mundo. Então Yemonjá ficava com o mar, Òsun com o ouro e os rios. A Osòósi com as matas e todos os seus bichos, reservando as folhas para Osonyin. Deu a Oyá o raio e a Sòngo o trovão. Fez Óòsàálá dono de tudo que é branco e puro, de tudo que é o princípio, deu-lhe a criação. Destinou a Osumarè o arco-íris e a chuva. A Ogum deu o ferro e tudo o que se faz com ele, inclusive a guerra. E assim por diante. Deu a cada orisá um pedaço do mundo, uma parte da natureza, um governo particular. Dividiu de acordo com o gosto de cada um. E disse que a partir de então cada um seria o dono e governador daquela parte da natureza. Assim, sempre que um humano tivesse alguma necessidade relacionada com uma daquelas partes da natureza, deveria pagar uma prenda ao orisá que a possuísse. Pagaria em oferendas de comida, bebida ou outra coisa que fosse da predileção do orisá. Os orisás, que tudo ouviram em silêncio, começaram a gritar e a dançar de alegria, fazendo um grande alarido na corte. Olodumare pediu silêncio, ainda não havia terminado. Disse que faltava ainda a mais importante das atribuições. Que era preciso dar a um dos filhos o governo da Terra, o mundo no qual os humanos viviam e onde produziam as comidas, bebidas e tudo o mais que deveriam ofertar aos orisás. Disse que dava a Terra a quem se vestia da própria Terra. Quem seria? Perguntavam-se todos? “Onilé”, respondeu Olodumare. “Onilé?” todos se espantaram. Como, se ela nem sequer viera à grande reunião? Nenhum dos presentes a vira até então. Nenhum sequer notara sua ausência. “Pois Onilé está entre nós”, disse Olodumare e mandou que todos olhassem no fundo da cova, onde se abrigava vestida de terra, a discreta e recatada filha. Ali estava Onilé, em sua roupa de terra. Onilé, a que também foi chamada de Ilê, a casa, o planeta. Olodumare disse que cada um que habitava a Terra pagasse tributo a Onilé, pois ela era a mãe de todos, o abrigo, a casa. A humanidade não sobreviveria sem Onilé. Afinal, onde ficava cada uma das riquezas que Olodumare partilhara com filhos orisás? “Tudo está na Terra”, disse Olodumare. “O mar e os rios, o ferro e o ouro, Os animais e as plantas, tudo”, continuou. “Até mesmo o ar e o vento, a chuva e o arco-íris, tudo existe porque a Terra existe, assim como as coisas criadas para controlar os homens e os outros seres vivos que habitam o planeta, como a vida, a saúde, a doença e mesmo a morte”. Pois então, que cada um pagasse tributo a Onilé, foi à sentença final de Olodumare. Onilé, orisá da Terra, receberia mais presentes que os outros, pois deveria ter oferendas dos vivos e dos mortos, pois na Terra também repousam os corpos dos que já não vivem. Onilé, também chamada Aiê, a Terra, deveria ser propiciada sempre, para que o mundo dos humanos nunca fosse destruído. Todos os presentes aplaudiram as palavras de Olodumare. Todos os orisás aclamaram Onilé. Todos os humanos propiciaram a mãe Terra.
E então Olodumare retirou-se do mundo para sempre e deixou o governo de tudo por conta de seus filhos orisás1. E assim este mito, de modo didático e com muita beleza, situa o papel de Onilé no panteão dos deuses iorubás. Como é estrutural nos mitos, o tempo da narrativa não é histórico, dando a impressão que os cultos dos diferentes orisás foram instituídos a um só tempo, num só ato do supremo deus. A narrativa enfatiza, contudo, a concepção básica da religião dos orisás, isto é, que cada orisá é um aspecto da natureza, uma dimensão particular do mundo em que vivemos. Eles são o próprio mundo, com suas forças, elementos, energias e propriedades, mundo que tem por base Onilé, a Terra, o planeta que habitamos o nosso lar no universo.
#Alafia
Muito Cuidado
Com o que se promete à Ọ̀ṣun – a Deusa das Águas!!!
Uma antiga história Nàgó, conta que o grande rei Oluwu, estava seguindo para uma batalha muito difícil, entretanto, ele tinha que atravessar o rio em um dia que o mesmo estava demasiadamente agitado.
Como a batalha era muito importante e Olowu não podia perder nenhum dos seus soldados, ele fez uma promessa a Ọ̀ṣun, a Deusa desse rio, de modo que ele e o seu exército tivesse sucesso na travessia.
Oluwo ajoelhou-se diante do rio e proferiu: ‘Minha Mãe Ọ̀ṣun, se a senhora permitir atravessar o seu rio juntamente com o meu exército e me favorecer na grande batalha, eu lhe darei coisas boas’. Olowu, no entanto, não se atentou que sua esposa tinha por nome ‘Coisas Boas’ (Nkan Rere). Logo após a súplica de Olowu, as águas do rio começaram a baixar, mas Ọ̀ṣun havia entendido que Olowu iria lhe presentear com sua mulher ‘Nkan Rere’.
Olowu e seu exército conseguiram atravessar o rio e venceram a grande batalha.
No caminho de volta, Olowu novamente se deparou com o rio, que uma vez mais estava com suas águas bastante agitadas. Diante do rio de Ọ̀ṣun, Olowu mandou que todos jogassem às águas muitas coisas boas. Assim, Olowu e se exército começou a depositar muitos búzios, muitos ovos, pulseiras e correntes de brinde no rio. No entanto, tudo que eles jogavam ao rio, voltava, ou seja, Ọ̀ṣun não aceitou nenhuma das oferendas e suas águas ficavam cada vez mais agitadas.
Preocupado com aquela situação, Olowu foi consultar o oráculo que lhe disse que Ọ̀ṣun estava irritada, pois Olowu havia prometido a própria mulher ao rio. Somente nessa hora Olowu percebeu ‘Coisas Boas’ também era o nome de sua esposa. Olowu então levou a própria esposa ao rio, de modo que Ọ̀ṣun voltasse a ficar calma.
A esposa de Olowu estava grávida e essa criança nasceu dentro do rio, com a proteção de Ọ̀ṣun. Assim que a criança nasceu, Ọ̀ṣun a devolveu, dizendo que Olowu só havia prometido ‘Nkan Rere’ e não a criança. Sobe o argumento que a criança não poderia viver sem a mãe, Olowu conseguiu consegui convencer a Ọ̀ṣun, devolver Nkan Rere com a condição que o dia que ela faltasse com cuidados que a criança necessitava buscaria ela pessoalmente para morar nas profundezas do rio.
Assim Ọ̀ṣun passou a olhar por aquela criança assim como todas as outras da aldeia e toda mãe que maltratasse seu filhos recebia pessoalmente a advertência de Ọ̀ṣun.
Pai Pese
Casa de Oxumarê
Material retirado do site oficial
A Casa de Osùmàrè, além de ser um templo tradicional do candomblé, em exercício pleno de suas funções religiosas, é também uma instituição ativamente engajada em iniciativas sociais que visam a contribuir para o desenvolvimento das comunidades localizadas no seu entorno e para a valorização do rico legado cultural afro-brasileiro.
Desde sua fundação, no inicio do século XIX, a Casa de Osùmàrè se consolidou como espaço de resistência e manutenção de tradições africanas milenares. Como templo religioso, o terreiro, sempre manteve ações beneficentes a exemplo da distribuição de alimentos, acolhimento e tratamento de pessoas, dentre outra atividades.
Contudo, em 1988, a partir da criação da Associação Cultural e Religiosa São Salvador, entidade jurídica que representa a Casa de Oxumarê , estas e tantas outras atividades passaram a ocorrer de forma institucionalizada.
Após seu reconhecimento como instituição de utilidade pública, a associação vem atuando sistematicamente como um importante mecanismo de transformação social, realizando atividades culturais e educacionais que visam a ampliar oportunidades de empregabilidade e de geração de renda de pessoas socialmente vulneráveis.
Ao longo dos anos, a Casa de Osùmàrè prioriza o trabalho com crianças e adolescentes, já que são elas as responsáveis pela formação das futuras gerações. Deste modo, os projetos sociais executados têm como finalidade cumprir com os seguintes objetivos:
1) Reduzir a vulnerabilidade aos fatores de risco e diminuir a incidência de crianças no trabalho infantil;
Qualificar adolescentes e jovens para o mercado de trabalho;
2) Garantir a segurança alimentar e nutricional da qual depende o pleno desenvolvimento das crianças e adolescentes;
3) Incentivar os cuidados básicos de atenção à saúde e prevenção das DST/AIDS;
4) Difundir valores de cidadania e informações sobre direitos e serviços públicos
Venha nos conhecer!
#casadeoxumare
Na matriz africana, não existe a figura do demônio’, diz babalorixá sobre imagem de Belzebu exposta em fachada de casa no RS
Márcio de Jagun diz que exposição de imagem não ajuda a diminuir preconceito contra religiões de matriz africana.
Por Alan Souza*
24/03/2023 15h39 Atualizado há 17 horas
Michelly da Cigana em frente à estátua de Belzebu, o MaioralMichelly da Cigana em frente à estátua de Belzebu, o Maioral Arquivo pessoal
A discussão sobre a exposição da imagem de Belzebu na fachada de uma casa em Alvorada (RS) expôs uma racha nas religiões de matriz africana.
A proprietária da estátua Michelly da Cigana acredita que sua ação “desmistifica a religião”, a quimbanda.
O babalorixá Márcio de Jagun, doutor em filosofia africana, por sua vez, entende que essa não é a melhor forma de combater o preconceito contra religiões de matriz africana.
Márcio de Jagun é fundador do Instituto Orí, especializado em estudos sobre cultura e religiosidade afro-brasileira.
Ele explica que, apesar de a diversidade religiosa e a laicidade serem garantidas pela Constituição Federal de 1988, há uma discussão que precisa ser feita “do ponto de vista do conhecimento teológico”.
— A umbanda, candomblé e religiões de matriz africana passam por intolerância, uma demonização descabida. A melhor forma de se desmistificar ou “desdemonizar” essas religiões é buscando a matriz teológica: dizer que são crenças que não têm relação direta com o demônio.
No panteão de divindades de matriz africana não existe essa figura e nem mesmo Exu ocupa esse lugar de opositor ao criador.
A imagem que Michelly expõe é referida, muitas vezes, como diabo pela tradição judaico-cristã. De acordo com o babalorixá, no entanto, o “antagonista” ou alguma “personificação do mal” não existe nas religiões de matriz africana.
— Nas religiões de matriz africana não existe a figura do demônio. O satanismo e o luciferianismo, sim, são vertentes religiosas que cultuam essa figura.
A discussão começou com uma postagem de Ivan Almeida em sua conta no Twitter. “Vizinho novo chegou causando no bairro”, brincou ele. A postagem viralizou e, hoje, conta com mais de 90 mil curtidas na rede social.
Segundo a religiosa, apesar de as “divindades não entenderem de internet”, o vídeo de Ivan foi obra do plano espiritual para criar uma “oportunidade de esclarecer quem é essa divindade”.
— Eu estou gostando da oportunidade de desmistificar a minha religião. Essa divindade mudou minha vida financeira, protege minha casa, minha família — explicou. — Alguma voz pra dizer que (a quimbanda) não é uma religião das trevas.
Apesar de ser referida como uma vizinha nova, Michelly da Cigana afirma que mora no bairro há bastante tempo. Mas resolveu colocar a imagem de Belzebu na fachada somente em novembro do ano passado. Ela explica que a estátua é uma representação de sua fé.
— Coloquei a imagem no muro como uma espécie de adoração a Belzebu, o Maioral, uma divindade que cultuo há nove anos, para dizer que não tenho vergonha da minha fé.
*Estagiário sob a supervisão de Carla Rocha
Material retirado do site oficial da Casa de Oxumarê.
O Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó, registra-se ainda, e com maior frequência, em variantes mais simples: IIê Oxumarê, Casa de Oxumarê, Terreiro de Oxumarê ou Axé Oxumarê.
Sua história remonta ao início do século XIX, como um dos mais antigos e tradicionais Candomblés da Bahia, contribuindo de modo significativo para preservar e difundir a cultura africana no Brasil.
Guardiã e detentora de uma tradição milenar, a Casa perpetua o legado ancestral do culto aos Òrìsàs, lançando as sementes do que hoje representa o candomblé para o país e o mundo. Constitui-se como templo religioso secular, faz parte do panteão de terreiros responsáveis pela gênese do candomblé.
Enraizando-se em quanto templo de candomblé, a Casa de Oxumarê, deu origem a mais de um milhar de Terreiros ramificados em diferentes estados da Federação, e também no exterior, consolidando-se como Casa Matricial.
Dada a relevância de sua expansão a torna principal responsável pela disseminação, do candomblé no Brasil. Compreendendo seu dever e responsabilidade em preservar e dar manutenção a esta religiosidade, atuando também na garantia de políticas públicas par assegurar o direito de professarmos nossa fé.
Desde o Calundu do Obítedo na Cidade de Cachoeira-BA, local da ascendência religiosa primordial da Casa de Òsùmàrè, no Brasil, os pilares de sua formação foram o resgate familiar, cultural e religioso de africanos e afrodescendentes.
Assim no ano de 1836, consolidou-se em templo religioso, sua primeira sede, adquirida pelo saudoso e venerável Bàbá Tàlábí, na Rua das Grades de Ferros, em Salvador. Além de templo religioso fora criada uma irmandade, na qual cada filho e filha de santo trabalhavam para comprar outros negros, respondendo legalmente por eles, favorecendo a reconstrução da unidade familiar para centenas de seres humanos escravizados, agregando-os à família do Àse e difundindo o culto aos Òrisas A Casa de Oxumarê, sofreu uma brutal
perseguição alimentada pela intolerância religiosa de alguns setores da sociedade em diferentes épocas de seu passado, mas reagiu pacífica e tenazmente, cultivando valores da fé, dos ensinamentos ancestrais e a convicção que através da união superaríamos os obstáculos. Para resistir ao regime escravagista, à repressão e à intolerância ao culto dos Òrìsàs, em uma época onde qualquer manifestação cultural e religiosa era considerada crime, o Terreiro de Oxumarê, se fez obrigado a migrar seu templo respectivas vezes:
• 1845 – Bairro da Cruz do Cosme, atual Bairro da Caixa D’ Água, Salvador-BA;
• 1870 – Rua da Lama, Primeiro Distrito de Vitória, Salvador- BA;
• 1905 – Bairro da Federação, Avenida Vasco da Gama, 343, CEP :40.230.731 (acesso pelas escadarias) e Segunda Travessa Pedro Gama, n. 65, Federação. CEP: 40.231.025 (acesso através de veículo).
No sítio onde está implantado nos dias de hoje consiste em um acervo de bens simbólicos que a torna digna de destaque. Seu patrimônio imaterial e material se ligam de modo estreito e são ambos valiosos para a cultura e a memória do país. Indiscutivelmente a Casa de Oxumarê, constitui-se em um marco simbólico de grande relevância e resistência para os Povos de Santo e os grupos afro-descendentes, bem como para todos os cidadãos brasileiros das mais variáveis origens que prezam a liberdade e a cidadania.
importância da casa de Oxumarê para a cultura brasileira e sua permanente contribuição pela preservação da história dos povos africanos no Brasil, resultou nos respectivos reconhecimentos:
• Seu território corresponde à Área de Proteção Sócio-Ecológica do Alto do Sobradinho, instituída pela Lei n.º 3592, de 16/11/1985.
• Declarada Território Cultural Afro-Brasileiro, através da Fundação Cultural Palmares, em 15 de abril 2002, nos termos dos artigos 215 e 216 da Constituição Federal da República e do Artigo 1º da Lei 7.688.
• Registrado em livro de tombo do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia – IPAC como patrimônio cultural deste Estado, tombamento este homologado em 15 de dezembro de 2004, através do Decreto 9.215, com base na Lei Estadual 8.895.
• 9 de julho de 2014, A MINISTRA DE ESTADO DA CULTURA, Excelentíssima Senhora Marta Suplicy, no uso das atribuições legais que lhe confere o inciso II do art. 87 da Constituição e a Lei nº 6.292, de 15 de dezembro de 1975, e tendo em vista a manifestação do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do IPHAN, na 74ª reunião, realizada no dia 27 de novembro de 2013, resolve: Art. 1º Homologar, para os efeitos do Decreto-lei n.º 25, de 30 de novembro de 1937, o tombamento da Casa de Oxumarê como Patrimônio Material e Imaterial Nacional, através da portaria n.º 68™
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