Previous Next

Kori, A Deusa Protetora das Crianças!

Material retirado do site Casa de O

Kori, A Deusa Protetora das Crianças!

Uma história Nàgó, conta que Kori não possuía filhos e era muito, muito triste por conta disso. Ela sentia-se só e muito descontente, pois via tantas mulheres que possuíam muitos filhos, mas que não davam valor a eles. Ela dizia para si mesma: “Tantas mulheres com tantas crianças e que não dão valor e, eu, que cuidaria com tanto amor e carinho, não fui agraciada com uma criança”.

A cada dia que se passava, Kori ficava mais triste e desolada, até que um dia ela resolveu consultar o Oráculo Sagrado, para saber se aquele sofrimento teria fim. Orumila, recomendou que Kori fizesse uma oferenda com determinados elementos e que colocasse essa oferenda em um grande campo, afastado da cidade. Kori fez tudo como havia sido orientada, entretanto, não foi ao campo “depositar” a oferenda…

Passado algum tempo, Kori resolveu consultar novamente o oráculo, sendo que ainda não havia ficado grávida. O oráculo a advertiu, ponderando que ela não havia seguindo todas as orientações. Kori lembrou-se que não deixou a oferenda no campo e resolveu desta vez, seguir todas as orientações. Kori preparou as oferendas e partiu para o campo. Quando ela chegou ao campo, ela viu uma única árvore, cercada de pássaros. Nessa hora ela pensou: “Ali deve ter um ninho, por isso há tantos pássaros em volta. Se eu colocar a oferenda lá, também servirá de alimento para esses pássaros.”…

Kori caminhou até a árvore para colocar a oferenda e quando lá chegou, viu que havia uma criança chorando, abandonada. Kori deixou a oferenda e pegou a criança para si, cuidando dela como se fosse sua. Assim, Kori finalmente ganhou a criança que tanto queria e, a partir daquele dia, tornou-se uma grande protetora das crianças.

Em alusão a essa história até os dias de hoje, cantamos:

Kori Koto
Mi Lodo
Orisa Ewe Milodo
Kori-oooo
Eye Koooo

Que Osumare Araka e Iya Kori abençoe todas as Crianças !!!

Casa de Oxumarê.

Exu.

Material oficial do site da Casa de Oxumarê.

No Candomblé Èṣù é cultuado como o dono dos caminhos, o procriador, o realizador, o revolucionário, o interlocutor das divindades, o dono do mercado, o portador das oferendas aos deuses.
Èṣù é a figura mais importante da cultura iorubá. Sem ele o mundo não faria sentido, pois só através de Exu é que se chega aos demais orixás e ao Deus Supremo Olodumaré. Èṣù fala toda as línguas e permite a comunicação entre o orum e o aiê, entre os orixás e os homens.
Èṣù é o dono do mercado, o seu guardião, por isso todo o comerciante e aqueles que lidam com venda devem agradar a Èṣù. As vendedoras de acarajé, por exemplo, oferecem sempre o primeiro bolinho a Exu, atirando-o à rua, não só para vender bem, mas também par afastar as perturbações, evitar assaltos etc., ou seja, para que Èṣù seja de facto um guardião e proteja o seu negócio.
Èṣù não tem amigos nem inimigos. Exu protege sempre aqueles que o agradam e sabem retribuir os seus favores.
Èṣù é a figura mais controversa do panteão africano, o mais humano dos orixás, senhor do princípio e da transformação. Deus da terra e do universo; na verdade, Exu é a ordem, aquele que se multiplica e se transforma na unidade elementar da existência humana. Exu é o ego de cada ser, o grande companheiro do homem no seu dia-a-dia.
Èṣù não é bom e nem mau: é a própria ambiguidade humana. Compreender isso nos liberta, pois passamos a entender que a culpa por nossos tropeços muitas vezes resulta de nossas próprias ações e não de entes malignos.
Baba Pese
Casa de Oxumarê.

Mandu. Casa de Oxumare. Salvador BA.

Material oficial do site Casa de Oxumarê.

MANDU

O Mandu foi introduzido na Casa de Oxumarê, em 1954, pela saudosa Mãe Simplicia.
Conhece o mundo por uma de suas mitologias:
Existia um casal que brigava muito, principalmente pelo gênio difícil do marido. Muito nervoso com a esposa esse marido rogou uma praga à sua esposa, dizendo que ela teria um filho deficiente que lhe tomaria todo o tempo, não lhe sobrando nada a fazer, senão cuidar dessa criança.
Passado algum tempo, essa mulher engravidou de uma criança com uma grave deficiência na perna. Triste com a situação e envergonhada por conta do marido, esse mulher foi morar em um bosque, isolando-se de tudo e de todos, fazendo com que essa criança ficasse muito triste, pois não brincava e não participava do convívio em sociedade.
Quando essa criança já estava andando com bastante dificuldade em função da deficiência, Yemoja, a organizou um evento, ordenando que todos da cidade comparecessem para celebrar. Ao saber que havia uma mulher e uma criança que viviam no bosque, Yemoja mandou que a chamasse. A mulher chorando copiosamente, contou toda sua história, dizendo à Yemoja que não iria para não constranger seu filho. Yemoja lhe entregou certa quantia de búzios (o dinheiro da época), mandando que ela comprasse tecidos coloridos para vestir seu filho, para que ele também pudesse confraternizar na festa que aconteceria.

Conforme determinação de Yemoja, a mulher comprou muitos panos, vestindo inteiramente a criança, de modo que ninguém a conseguisse ver. Yemoja, disse ainda, que ela deveria ter orgulho de seu filho, pois na verdade, ele não foi fruto da praga do seu marido, mas sim, um presente de Olodunmare, que confiou a ela a responsabilidade de cuidar de uma criança muito especial, que fazia parte de uma importante comunidade, o Egbe Orun.
Ao chegar à festa, a criança (Mandú) começou a brincar e pular por todos os lados. Contudo, algumas pessoas que lá estavam começaram a desdenhar daquela figura desconhecida. Ògún, por sua vez, protegeu o Mandú, dizendo que todos o respeitassem, pois aquele que não o fizesse, conheceria o fio de sua espada. Assim, o Mandú com suas vestes e brincadeiras, trouxe grande alegria para todos que também ficaram felizes ao ver como aquela criança se divertia como nunca havia acontecido. A partir desse momento, Mandú começou a ser protegido por Ògún.
O mundú representa as crianças do Egbé Orun

Pães de Ogun

Texto retirado do Facebook da Casa de Oxumarê.

 

PÃES DE OGUN

Mãe Simplícia ascendeu à posição de Ìyálòrìsà do Asè Òsùmàrè em 1.952 e à época, com muito esforço e dedicação lutava para conseguir manter a estrutura do Asè e para que nada faltasse para os Òrìsà ou para a sua família. Mãe Simplícia sempre trabalhou, mas mesmo com a venda de fato e de quitutes, era muito difícil manter tudo.
Todos os dias pela manhã, antes de ir ao Retiro onde comercializava fato, mãe Simplícia cumpria um rigoroso ritual. Ia até a cozinha onde pegava farinha para com água entregar a Èsù, pedindo que o dia fosse bom e que não passasse por dificuldades, entoava um antigo cântico ao galo e dava início a sua longa jornada.
Certa vez Mãe Simplícia ao entrar na cozinha para novamente cumprir seu ritual, deparou-se com as latas de farinhas vazias – havendo somente o pão. Diante do cenário desolador, Mãe Simplícia suplicou a Ògún que não deixasse jamais faltar algo dentro de sua casa que, quando da realização da sua festa, ela daria pães de lembrança.
Com o passar dos dias, Mãe Simplícia conseguia ainda que de forma tímida se estruturar financeiramente e com as chamadas “caixas”, conseguia seguir o calendário religioso do Asè Òsùmàrè. Quando chegou a festa de Ògún, mãe Simplícia não se esqueceu da promessa que havia feito no momento de grande dificuldade e preparou uma certa quantidade de pães para serem distribuídos. Pessoalmente, mãe Simplícia colocava os pães em saquinhos, enfeitando-os com fitinhas na cor azul, ela era caprichosa e gostava das coisas bonitas e arrumadas. Assim aconteceu no primeiro e segundo ano da gestão de Mãe Simplícia.
No terceiro ano, Mãe Simplícia já se estabelecera como importante Ìyálòrìsà do Candomblé da Bahia e com muito esforço, dedicação e trabalho, havia conseguido comprar um fogão para o Terreiro de Candomblé – até então, só havia fogão de lenha no Asè e não era comum o uso do fogão a gás. Mãe Simplícia estava muito contente, pois poderia fazer no próprio Asè os pães para as lembrancinhas da festa de Ògún Dekisi.
Dessa forma, mãe Simplícia organizou tudo para que os pães fossem assados no Terreiro, enfeitados e distribuídos aos devotos de Ògún. Porém, no dia da festa, durante o preparo dos pães, o gás acabou e ninguém conseguia achar um local que vendesse para que todos os pães fossem assados. Pouco antes do início da festa, finalmente conseguiram o gás, mas já era tarde. Mãe Simplícia pediu que assassem os pães, mas que seriam servidos no café, no dia seguinte, sendo que ela não conseguiria fazer as lembrancinhas. Muito desolada pelo fato de não conseguir manter a sua promessa, Mãe Simplícia deu início a festa de forma muito triste, enquanto os pães eram assados para serem distribuídos no outro dia.
Quando Ògún foi sair para o “Hun”, ele surpreendeu a todos…
De forma inesperada Ògún entrou na cozinha pegando os pães que ainda estavam esfriando, sendo que como relatado, a falta do gás atrasou o preparo. Ògún pegou um balaio, enfeitou com o màrìwò de suas vestes, colocando nele todos os pães que foram feitos. Emocionados, os filhos do Asè Òsùmàrè aclamavam Ògún. Aquele venerável Òrìsà que mãe Simplícia tanto amava, entrou com os pães no salão e começou a cantar:
“Akara Mu Avaro Veve, Awo Awo”
“Akara Mu Avaro Veve, Awo Awo”
Ògún de Mãe Simplícia então começou a distribuir aqueles pães. Os filhos do Asè recebiam os pães de forma muito emocionada, conclamando Ògún. Para eles, aquele pão carregava uma simbologia muito grande. Aquele pão não retratava as dificuldades passadas por mãe Simplícia, mas sim, a vitória dela obtida por meio da fé naquele Òrìsà tão poderoso. Òrìsá que mesmo com o seu perfil de lutador e vencedor das grandes batalhas, teve a sensibilidade para ver a apreensão no coração da sua filha, tomando assim, uma atitude que anos depois, passou a ser replicada pelos descendentes do Asè Òsùmàrè e de outras famílias, tornando uma das tradições mais bonitas da nossa Casa.

Seminario sobre violencia contra mulheres

Preocupante.!!!!

Você está preocupado ?!

Outro dia, assim do nada, alguém publicou a foto de um “Orixa” usando adorno de cabeça claramente “inspirado” num personagem do filme do Wolverine. E muita gente achando lindo.
No mercadão de Madureira,  há uma profusão de adornos de cabeça, que são impossíveis de serem descritos em palavras, de tão estranhos. E muita gente achando lindo.
Um “ponto ” em louvação à Ogum, na Umbanda, que fala em Ogum e seu mariwo. E muita gente achando lindo.
Um outro “ponto”, agora, em louvação à Xango, que mais parecia uma canção gospel. E muita gente achando lindo.
Numa loja um ” ibá ” feito de madeira.  Ate onde se sabia, a unica exceção era Xango cujo iba sempre foi em madeira. E muita gente achando lindo.
Roupas masculinas de barracão sendo vendidas com um longo tecido para ser colocado no ombro. Como se todos pudessem usar o tal pano. E muita gente achando lindo.
Alguém deve estar equivocado. Acho, sinceramente, que sou eu! Eu não vi nada de bonito nisso tudo.
Estou cansado de ver as pessoas achando …….

  • Tomeje, 22/02/23.

O povo Banto e o culto aos caboclos….

@iemanjasereiaiya
Iemanjá Sereia
O povo Banto e o culto aos caboclos – Reflexões sobre a origem da umbanda.

Os bantos constituem um grupo etnolinguístico localizado principalmente na África subsariana e que engloba cerca de 400 subgrupos étnicos diferentes (Angola, Congo, Moçambique, dentre outros países). Eles foram os primeiros negros escravizados a chegar no Brasil, antes mesmo dos fons e os nagôs. Por esse motivo, tiveram um contato maior com os nativos de nossa terra, resultando em uma miscigenação cultural, que mais tarde veio a influenciar na formação das religiões afro-brasileiras.

Quando os bantos começaram a ganhar liberdade, surgiram os primeiros quilombos e os kalundus. Essas foram as primeiras manifestações religiosas organizadas, as quais aconteciam em residências comuns e as vezes de maneira itinerante.

Era costume dos povos bantos reverenciar os ancestrais “donos da terra”, em seus cultos religiosos. E é através dessa tradição africana que surge o culto aos caboclos brasileiros, os verdadeiros ancestrais dessa terra.

Dentro desse contexto identificamos os caboclos de pena (índios) e os caboclos de couro (sertanejos), que mais tarde deram origem a linha dos boiadeiros.

A partir do surgimento dos terreiros de Candomblé de Angola, que por tradição reverenciavam esses ancestrais brasileiros, o culto aos caboclos foi tomando forma. Observamos o despertar de ramificações religiosas que sistemtizaram ainda mais o culto ao caboclo, como o Candomblé de caboclo, a cabula, a makumba, a própria kimbanda, o omoloko, até chegar na umbanda, que através de um mito criacional passou por um processo de embranquecimento e consequentemente a perda de boa parte dessa evolução histórica-cultural.

Foi desta forma que surgiram as linhas de caboclo e boiadeiro dentro da umbanda.
Perceba que as verdadeiras origens da religião estão profundamente conectadas aos nossos antepassados negros. Dizer que a umbanda surge a partir de uma influência puramente espírita, através de uma revelação de um caboclo é o mesmo que apagar a nossa história, as nossas origens.

Axé!!
Texto: André Luiz
Zelador do Terreiro de Umbanda Caboclo Sete Flechas

Noticias na Casa de Santo.

Notícias nas Casas de Santo”

Vou te contar uma fofoca!!!… é assim que começa. E alguns ainda dizem: mas é uma fofoca do bem!! Como se pudesse de fato haver fofoca do bem.

Tenho observado que um grande número de pessoas que nos visitam relatam que tiveram “desentendimentos” com o zelador(a),  ou com a casa de santo ou com os irmãos e, por isso, abandonaram temporariamente a religião. Este motivo quase sempre tem um nome muito comum: fofoca.

Ela está sempre em voga, sempre se ouve falar nela e de todas as formas possíveis. E, por mais que tentemos isolá-la, ela insiste em resistir e em viver em pequenos grupos a interferir na conduta, no bem estar e na vida da comunidade. Ela afasta e desagrega, causa ou serve de pretexto para o afastamento das pessoas de uma casa de santo.

Fofoca é sinônimo de desunião, de discórdia e até de brigas sérias com tapas e ofensas. É também sinônimo de falta de ocupação e de cultura, porque onde há fofoca há falta de disciplina, de moral, de ética e de respeito. Ela está sempre à espreita, aguardando um ouvinte desavisado para despejar suas frustrações, desilusões, mágoas e outros sentimentos ruins.

Este texto “Notícias nas Casas de Santo” foi um pedido de minha mulher, Oyá L’afefé, que me alertou para essa praga que assola nosso cotidiano, roendo lentamente a estrutura da religião. Esta praga está destruindo carreiras que poderiam ser promissoras, mas que, por algum motivo, esbarraram neste mal e nestas pessoas que não sabem conter sua inveja e  quando diante de pessoas de intenso brilho, se sentem ofuscadas, pálidas, cinzentas. Mas estes,os fofoqueiros de plantão nunca se intimidam, não se recolhem a sua pequenêz e usam então do artifício da fofoca para denegrir, sujar, derrubar e afastar de nosso convívio estas luzes. Talvez só assim a sua luz pálida poderá ter alguma chance de ser notada, mas não de brilhar, no máximo uma pequena chama, que esperamos logo se apague em nosso meio.

O fofoqueiro me lembra uma frase engraçada. O fofoqueiro é como uma vaca em cima de uma árvore, ninguém sabe ou entende como ela chegou lá em cima. Mas todos tem certeza de em algum momento ela vai cair. O fofoqueiro tem um lema: destruir, afundar. “- Naufrago sim, mas levo pelo menos um junto comigo!”.

Fiquei pensando em colocar um manual básico de fofocas, para o principiante ter assunto nas rodas…, coisas assim “ingênuas”: “- Que roupa é aquela! Parecia uma alface!”, ou “- Fulano não sabe dançar!”, ou ainda “- Beltrano estava dando pinta!”… e já ouvi outras pois são bem variadas as fofocas básicas. Pensei, mas não vou falar disso porque também seria fofocar.

Mas porque agem assim estas pessoas? Será pura maldade então? Não creio nisso, muitas delas nem sabem que o que fazem é fofoca, acham que são notícias do Barracão. Sentem-se, portanto, uma espécie de repórter ou cronista ou até mesmo críticos de candomblé. Eles posam de sabedores e donos da verdade que só eles detêm, e donos do fundamento que só eles detêm. Daí, sentem-se no dever quase cívico de noticiar o fato, ainda que meio distorcido (por eles) ou tendencioso (a eles). Mas é o fato, aos seus olhos e ouvidos aquele é o fato e estão assim alheios ao bom senso. E vão então por aí criticando, noticiando… e se afundando.

Mas porque então muitos se deixam intimidar e influenciar por isso? Por que são bonzinhos e por que estão no grupo dos que têm grande luz e então são alvos de inveja e perseguição? Porque sendo altruístas e bondosos, preferem se retirar dos barracões e deixá-los aos que os caluniaram, aos que os decepcionaram?

Ora veja, se fosse assim tão fácil, quase a totalidade dos adeptos do Candomblé que já foram alvo das “crônicas”, ou de outros problemas de relacionamento se afastariam das casas de santo e não teríamos hoje mais ninguém que ao menos lesse nosso blog. Estaríamos num deserto religioso cercado de inúteis fofoqueiros por todos os lados.

Penso que as pessoas acima, as que se deixam influenciar, ainda não se deram conta de que, literalmente, escolhem suas famílias de santo, com seus defeitos e acertos, e são aceitos com suas ilusões de que todos são bons e que o mundo é cor de rosa.

É uma troca. E ambos os lados se tocam, se experimentam e se testam. Às vezes é um cabo de guerra, às vezes um afago, mas nunca ouvi falar que alguém foi obrigado a participar do culto; entra quem assim o desejar e da mesma forma é livre para sair, liberdade total. Por isso e, acima de tudo, é que essas pessoas deveriam se sentir no seio de uma família que o acolhe, mas não o obriga; que o orienta, mas não quer ser o único caminho, o correto, quer sim ser uma alternativa.

Quando comparo uma família de santo a uma família biológica, não vejo grande mudança estrutural. Ela é composta de um líder, irmãos, hierarquia, respeito e as coisas triviais do dia a dia. Mas em toda família tem aquele primo chato, eu tenho e você também tem; uma tia resmungona ou um outro parente qualquer com o qual não nos damos bem. Isso é quase uma regra e nem por isso “nos decepcionamos e os abandonamos” e nem à nossa família. Não é porque temos na família um chato e/ou fofoqueiro que deixamos de visitar a tia ou o primo… Visitamos, vamos às festinhas, rimos com as piadas chatas e ao final usamos a frase “os cães ladram e a caravana passa”, fazendo vista grossa ou ignorando os comentários sobre o vestido desalinhado, sobre a pouca comida na festa, sobre um outro primo chato que chegou com a namorada feia, enfim, aturamos tudo em benefício da família e do bom ambiente familiar.

Porque então não fazemos o mesmo em nossas casas de santo? “Os cães ladram e a caravana passa”. Porque se tem a idéia errada de que a casa de santo não nos pertence, que é propriedade do Zelador(a) e a ele(a) cabe saber e exterminar os focos da praga. Além do mais é mais fácil culpar uma “desilusão” do que admitir que o que buscávamos do candomblé, na verdade, era a magia, o glamour, o poder, a resolução fácil de todos os nossos problemas. E, como isso não é possível em todos os casos, procuramos o meio mais fácil para abandonarmos a casa, acusando alguém ou uma suposta desilusão ou decepção.

Não estou querendo tirar a culpa das costas de ninguém dizendo que essas desilusões não existem e não são incômodas, sei que elas realmente acontecem e que são de fato muito prejudiciais, mas o quero é dizer que nem sempre correspondem à verdade. E nós temos que lidar com a verdade, com a nossa verdade e com a verdade dos outros. Isso é complicaaaaaado!!!…..

Vejam o que diz a “pesquisa científica” que descobri sobre o percentual de chatos, incômodos e fofoqueiros que temos em cada casa de santo: eles são exatamente 0,0037% da comunidade. Isso em uma pesquisa séria, conduzida por um tal de Tomeje, com rigor e método. Talvez… rsrsrsr

Será que estes 0,0037% têm mais força que o restante da comunidade? Não creio.

O que nos falta para acabar com essa praga é saber o que de fato cada um deseja da religião. Assumir seus compromissos, ser de fato verdadeiro com o Orixá. Não pedir aquilo que no fundo sabe que não tem o direito de receber ou que não pode ser realizado. É se questionar sobre sua verdade diante da casa, deixando claro na comunidade qual é o seu compromisso com a continuidade da casa e da religião. Creio que é assim que se combate esta praga, pois aí não haverá muito espaço para os “repórteres plantonistas” te elegerem uma possível vítima.

Ter e participar de uma família religiosa é exatamente igual a ter e participar de uma família biológica. Exige esforço, determinação e muitas vezes um ouvido de mercador. Não é na primeira decepção que a abandonamos. Não sem lutar, sem resistir; e resistir neste assunto é não dar ouvidos à fofoca, não criar ou participar de grupinhos e panelinhas, é ser um membro atuante e um elo forte.

Já há muito tempo percebo que a fofoca se alimenta da curiosidade e nossa curiosidade deve ser alimentada com sabedoria e trabalho.

Axé à todos, Tomeje.

 

A benção meu egbomi

A benção meu egbomi..

Foi durante uma conversa com um Yaô que eu percebi o quanto nossa gente está desamparada e o quanto alguns zeladores se omitem diante de questões do cotidiano religioso de suas casas e dos seus filhos de axé. Por isso decido escrever.

Mas se tem coisa que gosto de fazer é conversar com Yaô e Abiã, desvirtuo todos, no melhor sentido que esta palavra “desvirtuar” pode oferecer ao crescimento da pessoa. Certas “virtudes” muitas vezes só servem para criar pessoas sem o gosto por perguntar e questionar, ou melhor, questionar-se. Por isso acho que sou meio subversivo para essas questões de educação, gosto de questionamentos.

Durante essa conversa com um Yaô eu fiz várias perguntas, coisas do tipo: Como está a casa onde você mora? Os móveis te agradam, as cores das paredes estão de acordo com seu gosto? E sobre sua vida pessoal? Você é feliz com seu parceiro? Voce está realizado na sua profissão? Está estudando no momento? O Yaô me olhou como se estivesse diante de um louco, e me perguntou por que eu estava lhe fazendo aquelas perguntas, afinal ele estava ali para ser iniciado e estas perguntas não faziam parte de uma iniciação e muito menos faziam parte da educação religiosa? Minha resposta foi. Se você não está completo em algum destes itens, por favor, levante-se e vá resolver, não fique aqui pensando que religião vai resolver para você o que de fato é problema seu. A religião pode te ajudar indicando o caminho, e até uma boa limpeza e equilíbrio espiritual podem te fazer um grande bem, mas da sua vida quem cuida é você.

Vejo que muitas pessoas procuram uma tecla em sua vida chamada “control facilidade” ou “shifit tudo pronto” isso não existe, não há passes de mágica na vida, a vida é real, dura e difícil para quem não deseja lutar por seus objetivos. Muitas pessoas procuram o Candomblé com a sensação de que dentro de uma Casa de Orixá ela vai encontrar solução para o problema que ela própria criou em sua vida, que a solução é simplesmente fazer um ebó ou uma oferenda. Esses ainda não entenderam que precisam de esforço e de trabalho para conseguir o que desejam. Os Orixás ajudam, isto é certo, mas sem sua própria colaboração sua vida pára, tudo acaba, fica sem cor. E em inúmeras vezes acabam vítimas de pessoas menos habilitadas que se aproveitam de sua fraqueza. Neste ponto começa meu questionamento e sempre pergunto ao Yaô. Devemos viver “Para o Candomblé”, “De Candomblé” ou “O Candomble”?. Cada uma destas perguntas leva a pensamentos diferentes e visões de mundo diferentes.

As questões abaixo, são d eminha inteira responsabilidade e são apenas as minhas visões de mundo. Não sou nem quero ser ditador de normas, apenas exponho minhas idéias, meu modo de pensar a religião.

Viver para o Candomblé – A pessoa tem a vida resumida a religião, pensa e vive a religião, se dedica ao culto como se isso fosse sua tábua de salvação, geralmente acabam cobrando dos outros a mesma dedicação ou submissão que eles tem com a religião, se tornam na maioria das vezes pequenos tiranos, impondo suas normas e desejos. O fazem não por consciência, mas por acharem que essa é a única forma de viver na religião, dedicação exclusiva e integral. Geralmente tem problemas com os membros da comunidade que tem uma vida fora da religião com filhos, companheiros, trabalho, estudos, enfim, uma vida social.

Viver de Candomblé – Qualquer mercador seja ele comerciante ou “Zelador mercantilista” pode viver de Candomblé desde que tenham como finalidade única o ganho financeiro nesta relação. (A diferença é que mercador/lojista tem uma finalidade clara e necessária, vender mercadorias, já o “Zelador mercantilista” nem sempre). Nestes casos os desavisados que procuram a tal tecla “control facilidade” devem ter muito cuidado, pois são alvos fáceis para o mercador de ilusões. E são banhos, Boris e oferendas de todo tipo, quase sempre dispendiosas e desnecessárias. O “Zelador mercantilista” é um tipo que tem se proliferado e causado danos a religião, que na sua maioria é formada por pessoas honradas e de bom coração. Viver De Candomblé, é possível e muitas vezes necessário ao desempenho de tantas funções que demandam a presença constante do Zelador na Casa de Orixá, porém com respeito a religião e as pessoas.

Viver o Candomblé – Nesta lista estão as pessoas que conseguem diferenciar o Candomblé das suas obrigações diárias, das suas necessidades financeiras e de tudo mais que faz parte das necessidades da pessoa. Não utilizam a religião para ganhos pessoais e não fazem ebós e oferendas desnecessárias. Estes encontraram o caminho do equilíbrio e vivem de acordo com os preceitos básicos do Candomblé. Isto não é fácil, o aprendizado é longo e diário e é um grande compromisso com a vida religiosa.

Aos Yaôs com os quais tive a honra de conversar eu fiz meu alerta e cabe a eles encontrarem seus caminhos, que podem não ser nenhum dos que citei, afinal são minhas idéias e minhas visões de mundo, que são diferentes das suas que está me lendo, avaliando minhas visões de mundo e criticando bem ou mau, concordando ou não.

Mas o que peço aos mais velhos de nossa Religião é que mostrem aos mais novos de suas Casas as suas visões de mundo e suas idéias, os valores do Candomblé e a hierarquia, as regras e principalmente os orientem, conversem com seus irmãos, os protejam. Façam sua parte de mais velho.

Axé à todos. Tomeje. 2010.

Inovações, descrença, tradição

Texto retirado do Facebook agenafro

Babá Antonio Pena

INOVAÇÕES – DESCRENÇA – TRADIÇÃO

Lapidações e aprimoramentos. EIS AI O PERIGO. Ancestre não se lapida, não se aprimora nada a eles (as) é ensinado: Exemplo: Maneira de dançar, embalançar dos ombros, olhos fechados, sequer ficar em posição inerte aguardando a vez para bailar, etc.

Ògún, Ọ̀ṣọ́ọ̀si, Ṣàngó e os demais sempre serão ancestres. Eles chegam e ficam. Não são passageiros, sequer, ascensorista de elevador para ficarem subindo e descendo a todo instante, nem ao menos, espíritos que baixam em centros Kardecistas necessitando de rezas ou velas para se evoluírem. Nossos ancestres quando retornam ao “àiyé”, dançam, conversam, comem, enfim, matam a saudade. Eis o motivo pelo qual eles (as) voltam.

Quando isso não acontece, deixa de ser algo aflorado e passa a ser “estudado” – “transe de expressão”. E assim, nossos ancestres foram ficando no passado. Os pais e mães de santo que caíram de “para quedas” ensinam aos que neles acreditam os passos marcados, os olhinhos fechados, etc. Já diz o adágio corriqueiro: “Fechou os olhinhos, deu um pulinho e um gritinho, é santinho”.

“Esses (as)” dirigentes não sofrem possessão, mentem (èké – mentira), e para seus pobres descendentes mentem, quando dizem: “Quando eu viro todo mundo vira” – Esse procedimento me remonta ao meu tempo de criança: “Tudo que seu mestre mandar, faremos todos”.

A possessão do ancestre é algo espontâneo ou realizado através de evocação, e não combinada.

Nós, sacerdotes (as), devemos entender que há necessidade do convívio do ancestre com seus descendentes, e não, um simples bailar de um dançarino (a) com coroa de aramado e trajado tal qual um concorrente ao Baile de Fantasia, fazendo “biquinhos”, torcendo a boca, forçando o aumento dos lábios (para dizer que é negro, como se todo negro (a) possuísse lábios aumentados) ou trocando o semblante de serenidade por superioridade.

Orixá é orixá. Ancestre é Ancestre. Nada muda. Ọ̀ṣun sempre usará leque, Ṣàngó, machado de dois gumes, Àrá – Ìgbóná machado de um só gume, e assim por diante.

Assim eu aprendi. Se me provarem ao contrário, acreditarei.

Antonio Penna de Ọbàtálá.

Àdìfá Ọba Aláàiyé Fámãkindé Otuoko® Opaoko®.

Àṣẹ Ọba Igbó®.