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Hùngbónò Jorge de Yemọja.

Material retirado do facebook do se. Carlos Wolkartt.

Postado em 13/02/2021.

 

Hùngbónò Jorge de Yemọja (Sr. Jorge Pereira da Silva). Nasceu em 11 de novembro de 1932 no bairro de Cascadura, zona norte do Rio de Janeiro. Foi criado por seus pais biológicos até os sete anos de idade, quando teve que ir morar numa pequena casa à Rua Souto, também em Cascadura, sob os cuidados de uma senhora chamada Dona Cabocla. Para conseguir se sustentar e ajudar nas despesas da nova casa, começou a trabalhar numa padaria nos horários que lhe restavam fora da escola.

Dona Cabocla frequentava um terreiro de Candomblé da nação Kétu, e foi através dela que o pequeno Jorge conheceu a religião. Como ele mesmo disse numa entrevista concedida ao jornal Iluaiê, em outubro de 1990: “Foi através dela que adquiri todo o conhecimento que tenho sobre o ritual Kétu”. No entanto, Dona Cabocla observou que o Santo dele tinha que ser tratado em outra nação. Já adolescente, ela o levou até o terreiro de Tata Fomutinho, da nação Jeje Maxi, à época localizado na Estrada do Portela, em Madureira. Mais tarde, este terreiro seria transferido para São João de Meriti. Tata Fomutinho já era um sacerdote muito conhecido no Rio de Janeiro, sobretudo por ter sido o primeiro homem iniciado como vódùnsì no Xwé Seja Hùnde (Roça do Ventura), em Cachoeira, Bahia.

Na entrevista supracitada, Hùngbónò Jorge disse que, no jogo de búzios de Tata Fomutinho, “Yemọja manifestou sua vontade de ser feita naquela Casa, e nada nos restava senão cumprir suas determinações”. Dessa forma, foi iniciado em 13 de outubro de 1950. Com sua feitura, ele ficaria conhecido como o primeiro homem iniciado para Yemọja no Rio de Janeiro e o único entre os filhos de Tata Fomutinho. O Hùn nyĭ (orúkọ) de seu Vódùn é Ìyá Petesi.

Anos mais tarde, fundou seu próprio terreiro com o nome de Xwé Seja Tesi. Depois de passar por alguns lugares, o Acè foi instalado definitivamente na Rua Major Ribeiro Pinheiro, nº 67, em Praça Seca, também zona norte do Rio de Janeiro. O local se tornou uma das maiores células do Jeje Maxi em terras fluminenses, servindo como referência a diversas Casas que surgiram posteriormente.

Muitas pessoas procuravam Hùngbónò Jorge para jogar búzios, e seu jogo ficou conhecido como um dos melhores do Rio de Janeiro. O grande conhecimento que possuía sobre o Candomblé foi uma das características que fizeram com que seu nome ficasse marcado na história. Poucos de seus contemporâneos conseguiram alcançar tamanha sabedoria, que não se limitava apenas à sua nação. “Posso dizer que muito do conhecimento que tenho foi adquirido através de pesquisas, estudos e contatos constantes com pessoas de Cachoeira, principalmente com Gaiaku e Doné Runhó”, disse ele na entrevista ao jornal Iluaiê. Em seu terreiro, procurou conservar integralmente todas as práticas e costumes do Jeje Maxi que aprendeu no decorrer dos anos. Na mesma entrevista, ele disse:

“Infelizmente, no Rio de Janeiro, dos meus irmãos-de-Santo que abriram Casa, poucos foram os que procuraram aprender sobre nossa nação. Em Cachoeira e no Bogum, onde se encontram os principais focos de resistência da cultura Jeje, o ritual é mantido nos mesmos moldes de purismo com que foi trazido há centenas de anos… A vaidade intelectual de cada um cria uma barreira que dificulta e torna quase impossível a reunião deste saber esparso, reunião esta que possibilitaria o fortalecimento pleno de nossa religião. Um outro fator preponderante é a falta de uma liderança a nível sacerdotal. Ninguém quer admitir publicamente, embora conscientemente reconheça, a autoridade hierárquica deste ou daquele sacerdote. Infelizmente, esta postura provoca a divisão e consequente enfraquecimento de nossa religião.”

Hùngbónò Jorge faleceu em 28 de fevereiro de 1991, com 40 anos de Santo e 59 anos de idade. No encerramento da entrevista ao jornal Iluaiê, ele disse: “É necessário, para a preservação de nossa religião, que seus adeptos adquiram uma consciência de religiosidade pura e que deixem de lado a vaidade pessoal. Cultuamos Vódùn, Òrìṣà ou Nkisi, e a individualidade de cada um não pode e nem deve ser mais importante que as divindades de nossa fé”.

Fique aqui registrada esta singela homenagem a um dos grandes sacerdotes do Candomblé, que soube preservar, com empenho e dedicação, tudo o que lhe foi confiado.

[A autoria e data da foto são desconhecidas.]

# Publicado por Carlos Wolkartt em 13 de fevereiro de 2021, às 11h40. Gratidão a Mejito Marcos pela sugestão e colaboração.

Iemanja

Iemanjá, a divindade africana que ganhou feição branca no Brasil

  • Edison Veiga
  • De Bled (Eslovênia) para a BBC News Brasil
1 fevereiro 2022

Se a água é a substância fundamental para a vida, talvez não haja metáfora melhor para representar a mãe da humanidade.

Iemanjá, divindade cuja data é celebrada em 2 de fevereiro, é a rainha das águas e, acreditam os que a cultuam, a figura materna que irmana todas as pessoas.

Em terras brasileiras — ou seja, nas práticas religiosas trazidas por africanos na diáspora forçada durante os séculos de regime escravagista e tráfico de mão de obra compulsória —, o orixá feminino ganhou ainda um significado que remete à ancestralidade.

Afinal, se entendermos as costas brasileira e do continente africano como duas margens do mesmo imenso rio, o Oceano Atlântico, é Iemanjá quem promove a união, por ser ela a divindade das águas.

“Iemanjá é a representação da grande mãe da tradição iorubá”, explica o sociólogo, antropólogo e babalorixá Rodney William Eugênio, doutor pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

“Seu nome vem da expressão ‘a mãe dos peixes’ ou ‘a mãe cujos filhos são como peixes’. É considerada a mãe de todos, a que nos prepara para a vida, nos dá a imensidão das águas para que possamos realizar todas as potencialidades”, afirma Eugênio. Na língua original, seu nome é Yemoja.

Contudo, atualmente há uma aparente contradição que se torna evidente: se a divindade é originalmente negra, por que sua representação mais comum em terras brasileiras é uma mulher branca?

A resposta estaria na violência do processo de sincretismo, muitas vezes romantizado como algo inerente à chamada “democracia racial”.

Dos rios para o mar

Para os que creem na divindade, ela tem a propriedade de “comandar as cabeças”, reger o domínio da consciência.

“Na tradição iorubá, dizem que a cabeça carrega o corpo, então, é ela quem traz o equilíbrio emocional e psíquico”, prossegue o babalorixá Eugênio.

Imagem de Iemanjá caracterizada como branca

CRÉDITO,FABIO RODRIGUES POZZEBOM/ABR – AGÊNCIA BRASIL

Legenda da foto,A representação mais comum de Iemanjá no Brasil é de uma mulher branca

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João Fellet tenta entender como brasileiros chegaram ao grau atual de divisão.

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“Yemoja é a mãe de todas as águas. Se existe água, existe Yemoja, se nós existimos é porque Yemoja existe. Não há uma cabeça que Yemoja não tocou e cuidou. e não há uma cabeça que Yemoja não possa tocar e cuidar”, diz a estudiosa do tema Yasmin Fernandes Sales dos Santos, psicóloga e mestre em sociologia política.

“Iemanjá é um orixá, ou seja, uma divindade africana cultuada a partir do panteão divino dos povos iorubás. Embora, no Brasil, assuma títulos e características de ‘rainha do mar’, na África, é cultuada na região de Abeokutá, na Nigéria, onde seus cultos se estabeleceram inicialmente nas águas doces do rio Yemoja, entre Ifé e Ibadan”, contextualiza o sacerdote de umbanda David Dias, pesquisador em ciência da religião na PUC-SP.

Ou seja: para os iorubás, ela é a divindade dos rios. Essa transposição para os mares é resultado do movimento de diáspora quando, já nos chamados navios negreiros, a ela continuaram recorrendo os “seus filhos”.

Dias explica que por ser “orixá das cabeças”, ela “concede saúde mental” e “propõe harmonia entre o sentimento e a razão”.

“Esta orixá traduz o símbolo feminino das mulheres dos seios fartos, é capaz de alimentar todo o mundo. É a orixá que nutre, que alimenta, gerando abundância e prosperidade às suas filhas e seus filhos”, completa.

Eugênio ressalta que todo orixá tem seus arquétipos mas o que sintetiza Iemanjá é o da “grande mãe”.

“Todos somos filhos de Iemanjá, ela é a grande mãe do mundo, a representação das águas que, pelos oceanos, unem todos os continentes”, argumenta ele.

Ilustração de Iemanjá negra de autoria de Priscila da Cunha

CRÉDITO,PRISCILA DA CUNHA

Legenda da foto,O embranquecimento de Iemanjá é visto, por estudiosos atuais, como resultado de uma construção racista do século 20

“Ela traz também essa noção fundamental de ancestralidade.”

“A mensagem de Iemanjá para a humanidade é de união, de respeito, de igualdade. Todos lembrando que somos filhos dela, somos irmãos”, resume o babalorixá.

“Na festa de Iemanjá estão todos, não só os adeptos do candomblé. São pessoas de várias origens, várias crenças e ela abençoa a todos sem nenhuma distinção.”

No Brasil

Os estudiosos ouvidos pela reportagem acreditam que a divindade ganhou importância no Brasil justamente por conta do processo de escravização.

Por ter ela esse papel materno e, consequentemente, fazer de todo uma só família, ela foi fundamental para refazer os laços dos escravos separados de seus parentes durante o processo de migração violenta e forçada.

“Em torno dela as famílias se organizam”, diz Eugênio.

“Para as religiões de matriz africana, ela foi a possibilidade de refazer, reinventar a família, que no processo de escravização havia sido esfacelada. Em termos simbólicos, Iemanjá representou o compromisso de recriar a família, promover a união na diáspora.”

Para o historiador Guilherme Watanabe, pai de santo do terreiro Urubatão da Guia, em São Paulo e membro fundador do Coletivo Navalha, no Brasil o culto a Iemanjá foi a resposta “ao rompimento dos laços familiares e afetivos” causados pelo regime escravocrata.

“Com o sequestro das famílias africanas, há episódios de mortes de familiares ainda nos navios negreiros e a separação deles no desembarque, quando eram encaminhados para locais diferentes de trabalho”, pontua.

“Ser filho ou filha de orixá era uma forma de estarem ligados à sua origem ancestral, uma forma de recapitular o passado, reestruturar os laços.”

Celebração a Iemanjá em praia do Rio de Janeiro, no início dos anos 1970

CRÉDITO,ARQUIVO NACIONAL

Legenda da foto,Celebração a Iemanjá em praia do Rio de Janeiro, no início dos anos 1970

No Brasil, a devoção a ela “extrapola as religiões de matriz africana”, ressalta Eugênio.

“Todos os brasileiros de um jeito ou de outro são devotos dela. Ela é a grande mãe do povo brasileiro, faz parte do imaginário. Está profundamente arraigada em nossa formação.”

“Há quem diga que Iemanjá é uma santa católica, muita gente confunde e acha isso. Isso é um traço de aculturação que faz parte da formação do povo brasileiro. Vamos juntando elementos”, prossegue Eugênio.

Representação

“Ela é uma senhora de ancas largas, que pariu toda a humanidade e todos os orixás. Com seus seios fartos amamentou toda a humanidade”, diz Eugênio.

“Dizem que os rios são como o leite de Iemanjá escorrendo em direção ao oceano. Se temos uma mãe em comum também temos elos, os mesmos direitos.”

Na questão da representação reside o principal problema da maneira como Iemanjá acabou sendo incorporada ao imaginário brasileiro.

Porque, originalmente uma divindade africana, é natural que suas primeiras e originais representações fossem de uma mãe negra.

E seu embranquecimento é visto, por estudiosos atuais, como resultado de uma construção racista do século 20, que buscou tornar suas feições mais “europeias”.

Nesse sentido, uma violência cultural.

“A figura de Iemanjá que está no imaginário coletivo é aquela imagem da mulher branca de cabelos longos com sua túnica azul, se confundindo um pouco com as águas do mar”, pontua Eugênio.

“Foi um processo de aculturação que levou à difusão dessa imagem. Tem a ver com sincretismo, com a aculturação.

Para o babalorixá, “isso tem de ser respeitado”.

Ilustração de Iemanjá negra de autoria de Priscila da Cunha

CRÉDITO,PRISCILA DA CUNHA

“Povos diferentes, quando convivem, ou eles sincretizam ou eles se matam. Então é importante respeitar, embora essas coisas tenham sido impostas: um povo é submetido à violência de abarcar uma outra cultura e então acaba assimilando essa cultura”.

Outros pesquisadores do assunto têm uma postura mais crítica frente a essa transformação.

Watanabe ressalta que a ideia de sincretismo “apaga os processos históricos que deram origem a esse amálgama de divindades.”

Mas reconhece que o sincretismo existe inclusive com tradições indígenas.

“Muitas vezes Iemanjá é confundida com Janaína, que seria a divindade da cultura dos povos originários do Brasil, uma sereia”, exemplifica.

Evidentemente que o processo mais dominador e muitas vezes violento dessa mistura se deu mediante o choque desigual com a religiosidade trazida pelos europeus.

“Entender que o processo violento de sincretismo foi útil para que muita sabedorias ancestrais vindas na diáspora sobrevivessem até hoje é fundamental”, afirma Santos.

“Mas é fundamental também entender que, diante de tantos outros processos de mudança, nós, sobretudo mais novos, não precisamos do sincretismos como os nossos mais velhos precisaram num outro tempo para dar continuidade ao culto.”

Durante o período da escravidão, para conseguirem manter seus cultos, era comum que os africanos e seus descendentes precisassem recorrer a figuras do catolicismo.

“Eles eram proibidos por seus senhores brancos e também pelos religiosos católicos de manterem suas crenças e então uma forma que encontraram para continuar foi disfarçando suas divindades de santos católicos”, contextualiza a jornalista Bell Kranz, autora do livro 21 Nossas Senhoras que Inspiram o Brasil.

Em suas pesquisas ela encontrou associações de Iemanjá com diversas denominações de Nossa Senhora.

“Especialmente Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora dos Navegantes, Nossa Senhora da Glória, Nossa Senhora das Dores e Nossa Senhora das Candeias”, pontua ela.

Não é por coincidência, aliás, que o 2 de fevereiro é tanto dia de Iemanjá como de Nossa Senhora das Candeias — também chamada de Nossa Senhora da Luz.

Homenagens a Iemanjá no Rio Vermelho, em Salvador, em 02 de fevereiro de 2020

CRÉDITO,RAFAEL MARTINS/AFP VIA GETTY IMAGES

Legenda da foto,Homenagens a Iemanjá no Rio Vermelho, em Salvador

O arquétipo semelhante também ajudou nessa situação. Para os cristãos, afinal, a figura de Nossa Senhora é a mãe de Jesus.

Especialmente para os católicos, ela também é reconhecida como mãe da humanidade, mãe de todos, senhora da família.

E se você já usou branco numa festa de Revéillon, conscientemente ou não, também participou desse processo de sincretismo.

Esse fenômeno cultural está intimamente ligado ao trabalho realizado para popularizar a Iemanjá em terras brasileiras, realizado pelo pai de santo Tancredo da Silva Pinto (1904-1979), o Tata Tancredo, no Rio de Janeiro.

“Conhecido como o ‘papa da umbanda’, ele foi quem criou a cultura de celebrar Iemanjá no último dia do ano, quando reunia milhões de religiosos, inspirando brasileiros, independentemente de crença ou religião, a vestirem roupas brancas mesmo sem conhecer o motivo”, conta Dias.

“Muitos vestem branco na virada do ano pensando que é para pedir paz, muitos vão até a praia jogar rosas brancas… São rituais macumbeiros, e muitos que têm um pezinho na igreja evangélica ou no catolicismo estão lá realizando esse tipo de ritual. Tudo isso vem da popularização das macumbas”, comenta Watanabe.

“Com o processo de sincretismo e apagamento dos cultos de matriz africana no Brasil, os orixás, sobretudo Yemoja, que acabou por ficar muito popular no país, sofreram alterações e processos simbióticos com as características dos santos católicos”, complementa a psicóloga Santos.

“Mas vale lembrar que orixá não é santo e que Yeoja não é Nossa Senhora.”

Branqueamento de Iemanjá

Há alguns registros que demonstram uma europeização das características de Iemanjá já no século 19, muitas vezes a aproximando de representações de Nossa Senhora.

Mas a imagem que acabou se sobrepondo às outras representações e dominando o inconsciente coletivo remonta aos anos 1950.

Conforme explica o sacerdote umbandista e pesquisador Dias, tudo começou quando uma carioca chamada Dalla Paes Leme afirmou ter tido uma visão de Iemanjá e encomendou a pintura de um quadro com essa representação.

“Curiosamente e, em pouco tempo, criam-se movimentos de promoção do quadro da nova imagem, além de selos postais, eventos, romarias resultantes de um movimento chamado pelo jornal ‘Luta Democrática’ de ‘yemanjismo'”, relata Dias.

O pesquisador lembra que ela era “uma aristocrata e publicitária” e acabou fomentando uma tradução de “estética branca para a divindade por meio de uma peregrinação” do quadro aos terreiros de umbanda da época.

Celebração a Iemanjá em praia do Rio de Janeiro, no início dos anos 1970

CRÉDITO,ARQUIVO NACIONAL

Legenda da foto,Para os que acreditam, Iemanjá tem a propriedade de ‘comandar as cabeças’, reger o domínio da consciência

Segundo Dias, essa tradicional imagem “pode ser considerada o marco do embranquecimento e aculturação da orixá”.

“Não por acaso, a fisionomia da ‘nova Iemanjá’ se dá mediante à sequela que o fenômeno do sincretismo deixa enquanto processo de apagamento e conversão cultural”, prossegue.

“A orixá, traduzida pela estética cristã, traz agora o mesmo estereótipo das virgens santas, perdendo completamente seus traços africanos. A partir de então, exclui-se os grandes seios que alimentam o mundo, cobre-se seu corpo, retiram-se as noções daquela que é mãe dos filhos peixes em detrimento da santa virgem que jamais dançou ao toque dos atabaques de umbanda”, comenta o sacerdote.

Para Watanabe, a Iemanjá representada como “a tal da moça branca com vestido azul” é um legado de grupos umbandistas conhecidos como “umbanda branca”.

“É das imagens que mais circulam, muitos têm uma dessas em suas casas”, reconhece.

“Acredito que se trate de uma tentativa descarada de apropriação de uma divindade africana e apagamento de toda uma história e de uma cultura que são negras”, argumenta Watanabe.

“Criticamos muito essa imagem. Todos os orixás são negros porque têm uma cultura de origem, um território de origem e esse território é a região de língua iorubá, em grande parte sintetizado na atual Nigéria.”

Ele afirma que muitos apregoam que “orixá não tem cor porque é energia”.

“Mas isso é uma disforia criada a partir dessas umbandas que foram invadidas por conhecimentos alienígenas, estranhos a elas. Esses esoterismos, essa tentativa da umbanda de se vincular a narrativa do mito da democracia racial, essa tomada da umbanda pelos grupos brancos que corroboram para o embranquecimento da mesma, isso tudo deu origem a essa imagem de Iemanjá branca”, defende.

Watanabe define o fenômeno como uma “violência aos povos negros, a cultura negra”.

Mulher jogando rosa no mar para Iemanjá

CRÉDITO,DANIEL RAMALHO/AFP VIA GETTY IMAGES

Legenda da foto,Jogar flores no mar para Iemanjá no último dia do ano virou um ritual

“A imagem deve ser substituída, de fato. Não pode seguir circulando da forma como circula. Simbolicamente é um aviltamento da cultura negra”, critica.

Santos concorda e ressalta que a “descaracterização e o esvaziamento racista” feito com a orixá é um problema.

“Essa Yemoja branca, com cabelos lisos, longos, magra, recatada, mansa e do lar que é, na verdade, uma imagem europeia cristã, não dá conta de quem Yemoja é e de quem ela pode vir a ser, porque Yemoja é isso: possibilidade”, diz.

Dias acrescenta que o “processo de sincretismos” sempre é visto “como um fenômeno de dominação”.

“Independente das relações e das trocas por ele produzidas, sempre haverá uma cultura de dominação sobreposta a uma cultura dominante. A invenção da imagem de Iemanjá traduz um Brasil que vivemos hoje em que, feito as redes sociais, adiciona filtros para tornar as imagens ‘mais aceitas e palatáveis’ pela sociedade que teima em manter o seu pseudo-status antirracista”, argumenta ele.

“Todavia, há algo de curioso em tudo isso: não se encontram traduções de divindades de outras culturas tão facilmente quanto as africanas. Nunca se viu uma imagem de Sidarta Gautama, o Buda, enquanto um homem negro, de dreadlocks e brincos nas orelhas. Não se colocam mantos e retiram-se as insígnias hindus de Shiva. Por outro lado, quando se questiona a identidade tão quanto a cor da pele de Cristo, o clero se levanta em defesa de uma tradição inventada para apagar a existência de um povo.”

Basta! De racismo religioso.

Basta! De racismo religioso.

A atuação antirracista, para que desse modo possa haver uma equidade, respeitando a ideia de que todos são iguais pelo termo “intolerância religiosa” são apresentadas diversas críticas ao uso. De início, a palavra intolerância já transmite a ideia do verbo tolerar, expressando claramente a ideia de que algo está errado, mas é possível que se deixe passar, principalmente levando em consideração a questão histórica e cultural ao perceber que o contexto que se insere as religiões dos povos originários e de religiões de matriz africana.

As atitudes da intolerância podem gerar uma espécie de conexão entre a teoria da verdade e o poder político, pode exasperar uma relação entre dominante e dominado, pois só sofre o indivíduo com menos poder. Diante da noção da presença da hegemonia que se pode dizer que se trata de racismo religioso, pois, o racismo se fundamenta da negação, onde o ser constrói o não-ser, retirando as características funcionais e vitais do ser, como o a cultura, progresso, autocontrole, funcionando o racismo como um disciplinador, ordenador e estruturador das relações raciais e sociais.

Em um Estado estruturado a partir de um modelo colonial-escravista racista, o os povos originários vistos como selvagem e preguiçosos e o   negro sempre visto como marginalizado, por isso há a reação contra o termo intolerância, devendo ser chamado de racismo religioso, pois foi a partir do período colonial que a população foi hierarquizada a partir do conceito de raça, estando presente os cultos às religiões afro-brasileiras como forma de resistência desde então, se impondo à dominação colonizadora que forçava a aceitação do cristianismo eurocêntrico.

O jurista Silvio de Almeida em seu livro Racismo Estrutural, enfatiza que o racismo é parte de um processo social, histórico e político que elabora mecanismos para que pessoas ou grupos sejam discriminados de maneira sistemática. Compreendendo o racismo como regra e não exceção, Silvio acredita que para a efetivação de uma mudança é necessário adotar práticas antirracistas, como a criação de políticas internas nas instituições. Além disso, perceber o racismo como integrante da estrutura social não exime a responsabilidade dos indivíduos que cometem ações de discriminação racial.

O povo de terreiro cumpre com a população, em particular um relacionamento de atividades de cunho assistencial e social, pois atua ainda com projetos de caridade, doando alimentos, colaborando com comunidades carentes. De certa forma, cumprindo um papel que deveria ser do Estado, se posicionando em favor da população.  Vale ressaltar que dentro da função social o Ilé Àse Àiyé Obálúwàiyé, localizado no bairro da zona oeste Pedra de Guaratiba, dirigido pelo Sacerdote Marcio de Jagun e seus adeptos vem fazendo um trabalho de extrema importância ao levar o CadÚnico (CRAS) para dentro do terreiro para atender população do bairro, apresentando pela primeira vez um ato de diversidade do CadÚnico está fazendo um papel social num templo de candomblé. O CRAS está desenvolvendo no terreiro a conexão afetiva e política de direitos, estabelecendo metas, dando atenção para inúmeras pessoas que precisam de orientação, como LOAS, BPC, 2 via de identidade, auxilio Brasil etc.

Diante desse processo de captação da historiografia do direito à liberdade religiosa no Brasil, percebe-se que é necessária a atuação do Estado no tocante à prática da laicidade, devendo haver uma reestruturação do mesmo a fim de que seja posto em fazer necessário entender ainda que o direito é um instrumento de poder, não se dissociando do racismo desde sempre, a exemplo da pretérita perseguição às religiões afro-brasileiras e da presente violência das abordagens policiais. Desse modo, é importante que o direito moderno amplie durante a lei não restritamente ligada à teoria, mas sendo posto em prática. Somente dessa forma será possível que haja respeito aos povos de terreiro e aos povos originários, visto que a partir do antirracismo há a ideia de o indígena e o negro adentrar à sociedade disciplinar não mais sob a ótica de subalterno, mas em equidade. A falta de efetividade do direito à liberdade religiosa às religiões dos povos originários e afro-brasileiras não deixa de ser um reflexo de como passou ao longo do tempo a ser objeto de ciência, e não quem faz ciência.

Eliz França

Èsù, resistência negra na diáspora!

Èsù, resistência negra na diáspora!

Venho propor caros leitores, um olhar a partir do que chamarei de Epistemologia de Èsù, recorrendo ao signo de Èsù como um rompimento com as epistemologias eurocêntricas. Ele é o próprio movimento da resistência negra na diáspora, signo que rompe com a razão e abre para outras possibilidades de leitura do real, do sensível.

Èsù é um Órísá do candomblé e a figura mais controversa do panteão africano. Seria o responsável pelo início de tudo, a potência, o movimento, o contraditório, o duplo, o múltiplo, o brincalhão, que faz acontecer pelo avesso, constrói ao desfazer, arruma tudo gerando o caos. Èsù não permite certezas porque nunca pode ser alcançado. Quando se pensa tê-lo alcançado, que se chegou a algum lugar, ele inverte o caminho e o fim passa a ser o começo, que não é só um caminho, mas uma encruzilhada de quatro caminhos multiplicados por milhares de outras possibilidades. Para Èsù, não existe certo ou errado, mas caminhos que podem levar a diversos lugares, ou conduzir ao mesmo local por vias diferentes, como nos permitir atravessando as Encruzilhadas a produzir pensamentos fora do eurocentrismo.

Ademais, refletir Èsù como uma visão epistemológica possibilita a produção de um conhecimento não eurocentrado, e nos levando a um olhar talvez desinstitucionalizado. É um recurso para a produção de saber não somente nos espaços formais, como propõem os estudos descoloniais, que apontam no sentido de pensar outras epistemologias, já que a universalização do saber que sustenta as universidades tem suas bases em epistemologias eurocêntricas. Dessa forma, Èsù pode nos proporcionar não só a possibilidade de um rompimento com a normatividade acadêmica, mas também epistemológica, autorizando-nos a pensar formas de produção de conhecimento que passem não só por uma produção intelectual, mas que penetrem em nossos corpos e nossas vidas.

Já que este grande Órísá Èsù é movimento, reconhecer sua transposição possível para uma encruzilhada epistemológica, onde as epistemologias se cruzam. Seria, portanto, nesse espaço híbrido, no vazio gerado pelo colonialismo, pela sobreposição das epistemes, que Èsù se instala e ejacula novas possibilidades de leitura do real, para além da razão iluminista. Como potência criativa, subversiva, multifacetada, multiplicidade e diáspora, Èsù, É Resistência!

Independentemente do gênero, Èsú impera na encruzilhada, nos caminhos que se cruzam, mas jamais se trancam. Nem tudo é diluído, há materialidade, pois é a terra o asfalto da encruzilhada, a criação do outro terceiro mundista a partir de um olhar etnocêntrico do ocidental, remetendo-nos a importância de pensar as epistemologias e as sua consequência.

De todos os Órísá, Èsù é o mais próximo dos humanos, já que cabe a ele ser o mensageiro entre o Orun,e o  Aiyê.  Por isso, ele é aquele que fala todas as línguas, que come tudo que a boca come. Além disso, cria, mistura, inverte e subverte também a palavra, possibilitando a produção de novos conhecimentos,

Pensar numa Epistemologia de Èsù seria, portanto, arriscar-se na encruzilhada, mas também gerar resistência, promover a potência. Seria tomar Èsù como o “próprio símbolo do ‘quilombismo’ criado por nosso grande intelectual Abdias Nascimento a capacidade das consequências da colonialidade. Ao invocar Ésù, ao pensar a cultura negra a partir de Èsù, o teremos um olhar ampliador, que não busca necessariamente unidade, mas respeito na diversidade. Èsù seria dar uma volta e captar o que ali é potência, movimento, impulso para a ação e empoderamento

Eliz França

Qualidades dos Orixas.

QUALIDADES E TÍTULOS, SEU SIGNIFICADO E SURGIMENTO:

Os Orixás, em sua transposição da África para o Brasil, sofreram algumas alterações de forma, culto, características, etc. Isto devido a vários fatores, dentre eles a inexistência de mantenedores de seus cultos aqui; ou por falta de negros provenientes de regiões que os cultuassem; ou ainda por desinteresse em sua louvação.

Ogun, originariamente, era um deus que, na África, tinha atribuições ligadas à agricultura, caça, ao ferro e à guerra. No Brasil, apenas as duas últimas regências foram louvadas. Isto, talvez se deva ao desinteresse dos escravos em cultuarem a boa colheita de plantações que não lhes pertenciam. Acreditamos que estas variações não se deram de forma abrupta nem planejada, mas inconsciente e paulatinamente.

Iemanjá., por sua vez, na África era a deusa do rio Ogun, logo, de águas doces, mas sem maiores explicações plausíveis, no Brasil tornou-se a rainha do mar ganhando devotos não só entre os religiosos afro, mas entre os brasileiros de forma geral, que não se esquecem de saudá-la ao menos na passagem do ano, criando uma tradição/devoção já batizada de “iemanjismo”.

Ainda tendo como exemplo Ogun: ante todas as suas regências, face à realidade dos negros escravizados no Brasil, não seria plausível rogar suas bênçãos à colheita, isto porque a lavoura pertencia aos algozes, além de representar o próprio martírio do trabalho exaustivo e explorado. Igualmente quanto à caça, porque os escravos já não mais tinham autonomia para caçar e se auto sustentar, posto serem alimentados (e mau) por seus senhores. Ora, diante disto ao louvarem Ogun, seria muito mais natural invocar-lhe no tocante aos seus poderes como ferreiro e dono das armas (talvez por força do inconsciente), pela ânsia de romper-se-lhes as amarras e grilhões da escravidão, ou ainda para rogar-lhe o poder de guerra para combater os opressores. Deste modo, por força do hábito, da repetição e da tradição (todos elementos fortíssimos na tradição africana) Ogun passou a ser exigido tão-somente quanto aos seus poderes mais caros aos negros escravos, os quais foram então transmitindo a seus descendentes, consanguíneos ou “parentes de santo” estes costumes, até perder-se no tempo as demais regências daquele Orixá.

O Orixá Ocô, que criou a agricultura com a ajuda de Ogun, acabou por ser seu culto esquecido entre os escravizados, sendo seu culto já extinto no candomblé do Brasil.

Este “rito de passagem” do Candomblé da África para o Brasil, deu-se não só quanto as regências, características e qualidades dos Orixás, ocorrendo também no tocante às comidas litúrgicas (já influenciadas pela culinária dos brancos); bem como com as ervas e plantas rituais (devido ao que seria a novidade da fauna nacional e também a por força da inexistência de algumas espécies no Brasil); assim como com as vestimentas (estas visivelmente adaptadas à “moda” européia, bastando dizer que na África não se usavam roupas com tecidos nem modelos rodados e cheios de anáguas, ao estilo das sinhazinhas do Brasil.

Alguns deuses, ante a tais fenômenos, foram pouco e pouco tendo seu culto fundido com outros Orixás que com eles se assemelhavam ou com os quais possuíam características comuns. Assim, o caçador Otin, teve seu culto integrado a Odé; Odudua, com Oxalá; Opará com Oxum, e assim por diante.

Surgiram então, de maneira lenta e natural, as chamadas “qualidades” de cada Orixá. Otin, passou a ser reverenciado como “qualidade”de Odé; Odudua, de Oxalá e Opará, de Oxum.

Tal fenômeno talvez explique, a contradição entre alguns itãns que se chocam ao descrever diferentes mitos em que o mesmo Orixás era casado com diferentes parceiros, ou pai, irmão, filho de outros diversos Orixás, dando muitas vezes a impressão de promiscuidade e dúvidas acerca da real procedência e mesmo da coerência de certos mitos e orikis.

Portanto, as “qualidades” dos Orixás, quer seja, esta verdadeira fusão de deuses, resultou na prática, em cultos diferenciados, permeados de particularidades, que podem se resumir em “virtudes” ou em “valores”, com as quais passaram a ser cultuados, mas sem jamais perder suas características essenciais.

Por exemplo, Airá, membro da dinastia de Oyó, na condição de “qualidade”/”virtude” de Xangô, passou a ser reverenciado com suas tradicionais contas vermelho e brancas rajadas e recobrindo-se de vestes brancas em homenagem a Oxalá. Diferentemente das outras qualidades, que usam miçangas marrom e brancas e trajam-se de cores fortes, com tons de vermelho e por vezes de marrom.

Assim, os filhos de Xangô – Airá, ao cultuarem seu Orixá, devem respeitar tais “virtudes” particulares que fazem com que seu culto seja diferenciado dos demais “Xangôs”.

Pelo exposto, a nosso ver, as qualidades tão difundidas no Novo Mundo, significam, na prática, a subjetivação de cada Orixá, mas jamais a modificação dos mesmos.

Há aqueles que se queixam de que teriam sido consagrados a equivocada qualidade de determinado Orixá, e atribuem a isto infortúnios e desgraças. A nosso ver, tal situação não procede, porque, como dissemos, a qualidade não altera o deus, mas o qualifica, especifica, particulariza em suas subjetivas virtudes. Não poderia ser diferente, posto que as qualidades dos Orixás, não modificam sua essência originária. Assim, todas as qualidades de Oxum, por exemplo, são virtudes da mesma Osa Omi.

Contudo, devemos registrar que as variadas qualidades do mesmo Orixá alteram, às vezes de forma significativa, as influências que determinada Divindade exerce sobre o indivíduo que lhe é consagrado, no entanto, reiteramos, sem perder-se a essência. Por exemplo, entre um filho de Oxaguiã e um de Oxalufã, duas das qualidades de Oxalá, há variações de personalidade. Enquanto o oloxá do primeiro é mais aguerrido, combativo, determinado e falante, o do segundo mostra-se mais introspectivo, rabugento e calado, embora ambos possuam as mesmas características gerais de quem é consagrado a Oxalá, divindade do elemento ar e do branco, limitando-se inclusive aos mesmos ewós.

Tanto assim é, que na Mãe África, não existia o culto aos Orixás em suas qualidades, e isto nunca foi causa de qualquer malogro aos elegúns.

Em outros países, como Cuba, Panamá, e até mesmo em diversas regiões no mesmo Brasil, variam as “virtudes”/.”qualidades” atribuídas aos Orixás, e às vezes até mesmo há diferenças na mesma região, variando de Nação ou de raiz de Culto.

Não se deve confundir “qualidades”com “títulos”. Por exemplo, Iansã, possui o título de iya messã orun (senhora dos nove espaços siderais). Mas esta não pode ser considerada uma de suas qualidades, posto não tratar-se de uma virtude especial, mas genérica daquela divindade.

Enquanto as “qualidades” dos Orixás significam (vernacularmente) propriedades, atributos, formas de distinção, portanto diferenciações que subjetivam os iguais; os “títulos” conferidos aos deuses têm o sentido de designação honorífica, predicados que tais divindades possuem em caráter genérico.

Assim, sabemos que as qualidades de Exu são infinitas, mas genericamente foi-lhe conferido o título de Ójíse (mensageiro), dentre outros que bem caracterizam sua regência e poder inerente.

Os títulos decorrem de conquistas, feitos, poderes especiais que cada qual dos Orixás possui. Já as qualidades, como vimos, são fruto da agregação de divindades similares, com atributos próprios, gerando peculiaridades na forma de culto, mas sem perder-se as características gerais daquele Orixá.

Assim, passaremos a apontar a todas qualidades e títulos, por cada Orixá, sem nos prendermos a qualquer critério em especial.

Márcio de Jagun

Babalorixá, escritor, professor universitário, advogado e apresentador do Programa Ori (ori@ori.net.br)

Rumpilez

 

 

Uma belíssima dica de cultura. Veja e comprove.

http://www.youtube.com/watch?v=sRYWNTGz-cM   http://www.rumpilezz.com/

QUALIDADES E TÍTULOS, SEU SIGNIFICADO E SURGIMENTO:

LQUALIDADES E TÍTULOS, SEU SIGNIFICADO E SURGIMENTO:

Os Orixás, em sua transposição da África para o Brasil, sofreram algumas alterações de forma, culto, características, etc. Isto devido a vários fatores, dentre eles a inexistência de mantenedores de seus cultos aqui; ou por falta de negros provenientes de regiões que os cultuassem; ou ainda por desinteresse em sua louvação.

Ogun, originariamente, era um deus que, na África, tinha atribuições ligadas à agricultura, caça, ao ferro e à guerra. No Brasil, apenas as duas últimas regências foram louvadas. Isto, talvez se deva ao desinteresse dos escravos em cultuarem a boa colheita de plantações que não lhes pertenciam. Acreditamos que estas variações não se deram de forma abrupta nem planejada, mas inconsciente e paulatinamente.

Iemanjá., por sua vez, na África era a deusa do rio Ogun, logo, de águas doces, mas sem maiores explicações plausíveis, no Brasil tornou-se a rainha do mar ganhando devotos não só entre os religiosos afro, mas entre os brasileiros de forma geral, que não se esquecem de saudá-la ao menos na passagem do ano, criando uma tradição/devoção já batizada de “iemanjismo”.

Ainda tendo como exemplo Ogun: ante todas as suas regências, face à realidade dos negros escravizados no Brasil, não seria plausível rogar suas bênçãos à colheita, isto porque a lavoura pertencia aos algozes, além de representar o próprio martírio do trabalho exaustivo e explorado. Igualmente quanto à caça, porque os escravos já não mais tinham autonomia para caçar e se auto sustentar, posto serem alimentados (e mau) por seus senhores. Ora, diante disto ao louvarem Ogun, seria muito mais natural invocar-lhe no tocante aos seus poderes como ferreiro e dono das armas (talvez por força do inconsciente), pela ânsia de romper-se-lhes as amarras e grilhões da escravidão, ou ainda para rogar-lhe o poder de guerra para combater os opressores. Deste modo, por força do hábito, da repetição e da tradição (todos elementos fortíssimos na tradição africana) Ogun passou a ser exigido tão-somente quanto aos seus poderes mais caros aos negros escravos, os quais foram então transmitindo a seus descendentes, consanguíneos ou “parentes de santo” estes costumes, até perder-se no tempo as demais regências daquele Orixá.

O Orixá Ocô, que criou a agricultura com a ajuda de Ogun, acabou por ser seu culto esquecido entre os escravizados, sendo seu culto já extinto no candomblé do Brasil.

Este “rito de passagem” do Candomblé da África para o Brasil, deu-se não só quanto as regências, características e qualidades dos Orixás, ocorrendo também no tocante às comidas litúrgicas (já influenciadas pela culinária dos brancos); bem como com as ervas e plantas rituais (devido ao que seria a novidade da fauna nacional e também a por força da inexistência de algumas espécies no Brasil); assim como com as vestimentas (estas visivelmente adaptadas à “moda” européia, bastando dizer que na África não se usavam roupas com tecidos nem modelos rodados e cheios de anáguas, ao estilo das sinhazinhas do Brasil.

Alguns deuses, ante a tais fenômenos, foram pouco e pouco tendo seu culto fundido com outros Orixás que com eles se assemelhavam ou com os quais possuíam características comuns. Assim, o caçador Otin, teve seu culto integrado a Odé; Odudua, com Oxalá; Opará com Oxum, e assim por diante.

Surgiram então, de maneira lenta e natural, as chamadas “qualidades” de cada Orixá. Otin, passou a ser reverenciado como “qualidade”de Odé; Odudua, de Oxalá e Opará, de Oxum.

Tal fenômeno talvez explique, a contradição entre alguns itãns que se chocam ao descrever diferentes mitos em que o mesmo Orixás era casado com diferentes parceiros, ou pai, irmão, filho de outros diversos Orixás, dando muitas vezes a impressão de promiscuidade e dúvidas acerca da real procedência e mesmo da coerência de certos mitos e orikis.

Portanto, as “qualidades” dos Orixás, quer seja, esta verdadeira fusão de deuses, resultou na prática, em cultos diferenciados, permeados de particularidades, que podem se resumir em “virtudes” ou em “valores”, com as quais passaram a ser cultuados, mas sem jamais perder suas características essenciais.

Por exemplo, Airá, membro da dinastia de Oyó, na condição de “qualidade”/”virtude” de Xangô, passou a ser reverenciado com suas tradicionais contas vermelho e brancas rajadas e recobrindo-se de vestes brancas em homenagem a Oxalá. Diferentemente das outras qualidades, que usam miçangas marrom e brancas e trajam-se de cores fortes, com tons de vermelho e por vezes de marrom.

Assim, os filhos de Xangô – Airá, ao cultuarem seu Orixá, devem respeitar tais “virtudes” particulares que fazem com que seu culto seja diferenciado dos demais “Xangôs”.

Pelo exposto, a nosso ver, as qualidades tão difundidas no Novo Mundo, significam, na prática, a subjetivação de cada Orixá, mas jamais a modificação dos mesmos.

Há aqueles que se queixam de que teriam sido consagrados a equivocada qualidade de determinado Orixá, e atribuem a isto infortúnios e desgraças. A nosso ver, tal situação não procede, porque, como dissemos, a qualidade não altera o deus, mas o qualifica, especifica, particulariza em suas subjetivas virtudes. Não poderia ser diferente, posto que as qualidades dos Orixás, não modificam sua essência originária. Assim, todas as qualidades de Oxum, por exemplo, são virtudes da mesma Osa Omi.

Contudo, devemos registrar que as variadas qualidades do mesmo Orixá alteram, às vezes de forma significativa, as influências que determinada Divindade exerce sobre o indivíduo que lhe é consagrado, no entanto, reiteramos, sem perder-se a essência. Por exemplo, entre um filho de Oxaguiã e um de Oxalufã, duas das qualidades de Oxalá, há variações de personalidade. Enquanto o oloxá do primeiro é mais aguerrido, combativo, determinado e falante, o do segundo mostra-se mais introspectivo, rabugento e calado, embora ambos possuam as mesmas características gerais de quem é consagrado a Oxalá, divindade do elemento ar e do branco, limitando-se inclusive aos mesmos ewós.

Tanto assim é, que na Mãe África, não existia o culto aos Orixás em suas qualidades, e isto nunca foi causa de qualquer malogro aos elegúns.

Em outros países, como Cuba, Panamá, e até mesmo em diversas regiões no mesmo Brasil, variam as “virtudes”/.”qualidades” atribuídas aos Orixás, e às vezes até mesmo há diferenças na mesma região, variando de Nação ou de raiz de Culto.

Não se deve confundir “qualidades”com “títulos”. Por exemplo, Iansã, possui o título de iya messã orun (senhora dos nove espaços siderais). Mas esta não pode ser considerada uma de suas qualidades, posto não tratar-se de uma virtude especial, mas genérica daquela divindade.

Enquanto as “qualidades” dos Orixás significam (vernacularmente) propriedades, atributos, formas de distinção, portanto diferenciações que subjetivam os iguais; os “títulos” conferidos aos deuses têm o sentido de designação honorífica, predicados que tais divindades possuem em caráter genérico.

Assim, sabemos que as qualidades de Exu são infinitas, mas genericamente foi-lhe conferido o título de Ójíse (mensageiro), dentre outros que bem caracterizam sua regência e poder inerente.

Os títulos decorrem de conquistas, feitos, poderes especiais que cada qual dos Orixás possui. Já as qualidades, como vimos, são fruto da agregação de divindades similares, com atributos próprios, gerando peculiaridades na forma de culto, mas sem perder-se as características gerais daquele Orixá.

Assim, passaremos a apontar a todas qualidades e títulos, por cada Orixá, sem nos prendermos a qualquer critério em especial.

Márcio de Jagun

  1. Babalorixá, escritor, professor universitário, advogado e apresentador do Programa Ori (ori@ori.net.br)

Ire. A cidade de Ogum.

IRÊ:

Irê era um reino pequenino, cercado por sete vilarejos, distante 22 Km a nordeste de Ado (a capital de Ekiti).

Irê ganhou fama por ter sido conquistada por Abalaju, o kankofô (general) de Ifé, que por tanto colecionar vitórias em suas batalhas, foi intitulado “ologun” (senhor da guerra) e posteriormente elevado a mito como o Orixá Ogun. Ogun era filho de Odudua, o oni de Ifé.

Quando Ogun tomou Irê, entronou seu filho Ogundaunsi como onirê, e prosseguiu sua odisséia de lutas intermináveis. Segundo os mitos locais, no retorno de uma dessas campanhas militares, Ogun teria se enfurecido com Ogundaunsi e matado o próprio filho. O itan que imortalizou este episódio, relata que estando anos combatendo longe de Irê, Ogun chegou ao reino sem receber festas, nem homenagens, nem mesmo respostas às suas indagações. Tudo era silêncio em Irê. O rei se enfureceu e saiu decepando as cabeças de todos aqueles que estavam a sua frente; até finalmente ser informado de que todos os seus súditos estavam em uma semana de contrição religiosa. Ogun fora então tomado por um profundo remorso que o fez enterrar sua espada no chão e ali mesmo mergulhar desaparecendo com um grande estrondo. Ogun tornara-se assim um Orixá.

No local onde o rei de Irê enterrou sua espada, foi erguido um altar em seu louvor. Este monumento existe até hoje, tornando Irê o centro de adoração a Ogun: o Orixá das guerras, do ferro e da forja.

Embora descendente de Odudua, Ogun nunca quis usar o tradicional adê (coroa feita com franjas de miçangas para esconder o rosto do rei); ele usava uma simples diadema, denominada acorô.

Ogun teve muitos filhos, com as muitas mulheres com as quais se casou ou simplesmente se aventurou. Ogun autorizou seus filhos a se espalharem pela região para fundarem novos reinos: Igiri, fundou Adja Were; Edeyi, tomou a cidade de Ilodô e passou a ser seu governante. O neto de Ogun (Abessan), fixou-se em Ibanigbe Fuditi e ganhou fama como grande guerreiro. Todos esses descendentes de Abalaju, passaram a história sendo conhecidos também como Ogun.

Seu filho bastardo Oraniã, tornou-se obá de Oyó e de outros reinos.

Irê fica em uma região arborizada, com aproximadamente 460 m, de altitude. Hoje, é uma das 21 cidades que compõem o Estado de Ekiti, na Nigéria.

Irê faz parte do chamado Iorubo: os reinos africanos de etnia nagô, que utilizavam o idioma ioruba.

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Rio, 30 de janeiro de 2012.

Márcio de Jagun

Exú venceu, mais uma vez!

Claro, não podia não falar, sobre a escola de samba campeã do RJ em 2022.

Alô racistas de plantão……..chegou a hora, Exú se tornou campeão rs, se tornou ou sempre foi ?

Então, vamos lá aos fatos, no último Carnaval o nosso estado movimentou 4 bilhões, e em torno de 08 bilhões no Brasil todo, aproximadamente 45 mil empregos, so em nosso estado, em um país onde as pessoas estão saqueando os mercados, nada mau não é mesmo ?

O Carnaval segue a risca o entendimento do que é cultura , ele trás na avenida, histórias de senhores e senhoras incríveis, trás as memórias ancestrais culturais pretas, que muita das vezes não são contadas nos nossos livros.

Este ano as divindades Africanas, ou seja, os Orixás vieram com força, mostrar ao mundo que nós existimos, somos diferentes, é sobre isso e está tudo bem !

E como todos sabem , é o nosso grande comunicador, mensageiro, a boca que tudo come, o dono das encrizilhadas, o Orixá mais parecido com nós humanos, e o primeiro em nosso xirê, então este ano na avenida , não poderia ser diferente, Exú campeã!

Sem se falar que pesquisas mostra um aumento de 141% de ataques aos nossos terreiros, neste ano , o racismo religioso cresce expressivamente, e uma escola de samba, falar sobre Exu, vindo de Caxias e se tornar campeã, isso é algo incrível, uma vez que Caxias até tem caminhada contra racismo religioso, a qual eu mesma já participei.

Foi escola campeã do Grupo Especial do Carnaval pela primeira vez na história em 2022. Também foi vice-campeã em 2006, 2007, 2010 e 2020,

EXU, NÃO ANDA ATRÁS DE NINGUÉM RSRS, PALAVRAS DO MESTRE Comendador Ogan Bangbala , Ogan Luiz Bangbala!

Fala, Majeté! Sete Chaves de Exú, se tornou campeã e Exú, disse ao mundo que ele não é o diabo!

Parabéns a todas, todos e todxs envolvidos, por ter encarado de frente o racismo religioso e ter soltado a nossa voz….laroê Exú!

E hoje no dia seguinte , esperamos ter mostrado mais uma vez , como movimentamos a cultura e a economia deste país, por tanto, esperamos não ter tantas dificuldades para acessar recursos e políticas públicas culturais, esperamos que nos reconheça quando nós batemos nas portas das secretárias e pedimos a ajuda para que essas diversas culturas ancestrais continue resistindo.

Nós já entendemos que, um das maiores motivos que faz um país se torna atrativo e a cultura.

#cultura
#appigba
#povostradicionais
#conselheiradeculturaestadual

Arethuza Dória

2022, um desfile dos deuses – obra do inconsciente ancestral)

Escrito de um padre e psicólogo preto, na “segunda-feira de cinzas”, às Escolas de Samba do Rio de Janeiro e São Paulo: por uma leitura religiosa e psicológica do Danado do Samba

(2022, um desfile dos deuses – obra do inconsciente ancestral)

Como sacerdote católico inclino minha alma preta à ancestralidade e divindades africanas e diaspóricas que, no Carnaval de 2022 decidiram, sem reservas, atravessar a passarela sagrada do Samba. Puxando um diálogo possível entre religiosidade e psicologia profunda, posso dizer que 2022 foi, de modo singular, um desfile dos deuses, fatores psicológicos por excelência, segundo olhar junguiano. Dizendo de outro modo, simbolicamente, 2022 foi o Carnaval da incorporação, o desfile do transe: os deuses africanos passaram pela Avenida para compensar o caos produzido pela pandemia. Da pandemia à Passarela! O inconsciente coletivo, na acepção junguiana, opera por compensação. Nessa perspectiva, o inconsciente ancestral brasileiro (“com seus mitos e seres de luz”, nas palavras de Arlindo Cruz) foi constelado na cadência bonita do Samba. Se o mitólogo Joseph Campbell escreveu profundamente sobre o poder do mito, podemos dizer que o carnaval 2022 exibiu o poder do Samba.
A propósito, certa feita, o psicólogo Carl Gustav Jung, pai da psicologia analítica ou junguiana, disse à psiquiatra rebelde, Nise da Silveira, que se ela não entendesse os mitos de seus pacientes não seria capaz de acessar o inconsciente profundo dos mesmos. Nesse mesmo horizonte analítico, sem compreender os mitos africanos e diaspóricos é impossível acessar o Brasil profundo – o inconsciente ancestral. E é nele que jaz a potência da raça. Se o poder colonial nos obrigou a saber de Hermes, por exemplo, o poder do Samba nos convida a saber de Exu. Cantou Elza Soares que Exu deve ser aprendido nas escolas. E por que não empretecer o conhecimento (Beija-flor,2022)? Que flecha certeira nos oferece Oxossi (Mocidade, 2022) capaz de fazer cair por terra o mostro da colonialidade racista do saber, do poder e do ser?
Mais do que quaisquer arcenais bélicos, o povo preto, em diaspóra forçada, encontrou na religiosidade suas armas mais poderosas.
Para Jung, os deuses, fatores psicológicos, como já disse, são os que mais trabalham, são os que mais lutam no invisível da vida. Carnavalescamente falando, os deuses são, pois, os que mais desfilam! E isso é uma ocorrência religiosa de real grandeza!
Então, puxando um diálogo possível entre religiosidade preta, psicologia profunda e pandemia, independente da escolha dos jurados (RJ/SP), se pode dizer, sem vacilar, que a grande campeã do Carnaval 2022 é a ancestralidade preta – o poder do sagrado, dos antepassados, da religiosidade insurgente, dos mitos e símbolos vivos do povo, dos deuses que, abusada e festivamente, montando em corpos pretos, desde as Áfricas, são capazes, com a ciência, de transformar a travessia de uma pandemia inclemente e avassaladora em passarela do Samba, em passarela da Vida, em caminho aberto para um novo tempo com mais brilho, mais sorriso, mais potência e mais arte.
O Carnaval 2022, no seu conjunto, não foi obra meramente humana. A propósito, em chave ancestral, não há humano separado do divino. Não há divórcio entre o céu e a terra, ou entre o aiyê e o orum. Os mundos se comunicam. São interdependentes!
Concebo, pois, o danado do Samba como Jung compreendeu a vida: “planta que extraiu sua vitalidade do rizoma. O que aparece é breve floração e logo desaparece. Mas o rizoma persiste”.
O Carnaval 2022, de modo exemplar, reverberou de onde o Samba (e a gente preta) extrai sua vitalidade e potência.
Na obra “O segredo da flor de ouro”, Jung afirma que os deuses são o verdadeiros atores no palco da vida; ou na passarela da existência humana, pessoal e coletiva – os arquétipos! Como esquecer os antepassados (mangueira, 2022)? Donde vem a força da resistência (Salgueiro, 2022)?
Os que mais trabalham desceram para dizer Sim à vida, para realizar curas nas psiques feridas pelo horror da pandemia. Enunciam os tambores: não basta sobreviver! Eis porque passarela em transe… Vida incorporada!
O invisível fez-se visível e palpável… O Baobá (Portela, 2022) me contou: foram eles, em “memórias ancoradas em corpos negros”, os que mais sambaram. Foi o desfile dos deuses – obra do inconsciente ancestral!
Eis, pois, sagrada e potente mensagem, religiosa e psíquica, do Carnaval 2022 para o pós-pandemia: as divindades africanas não abrem mão das humanas criaturas (e vice-versa). Os negros e negras crêem em divindades que sabem dançar… Sambamos; logo, existimos!
Por essas e outras, escreveu o intelectual Alberto da Costa e Silva ser o Brasil “um país extraordinariamente africanizado”.
Como descrevem Antônio Simas e Rufino, em “epistemologias das macumbas”, o povo preto é como Exu – boca coletiva – come de um jeito (come o mundo) pra cuspir de outro: reinventamos a vida!
O caminho está aberto… Eles estão no meio de nós! Por isso, apesar dos pesares pandêmicos, a noite ficou mais calma e mais bela. Nossos ouvidos cansados da batalha da vida ouviram da ancestralidade:
“BOA NOITE, MOÇA, BOA NOITE, MOÇO!”.

“Aqui na terra é nosso templo de fé. Fala, Majeté!” (Grande Rio, 2022).

Pe. Gegê Natalino