Por que cantamos às folhas?

Por que cantamos às folhas? Cantamos às folhas porque imolamos animais, porque cumprimos a tradição. Mas não o fazemos por vaidade ou por simples querer, nós o fazemos de modo ritual, honrando todas as partes do animal; sem dor, sem sofrimento, com alegria, mas com seriedade; fazemos o rito como o “chef de cuisine” que deve honrar a carne que prepara. Ele sabe que um dia ela fora vida. Para nós, ela continuará sendo – porque a morte não existe. Não há lixo para nós, nada é descartado e descartável e o Candomblé nos ensina isso. Tudo é uma lição, tudo deve ser aproveitado, tudo é feito: vísceras, cabeça, carne, couro, pés, mãos, pontas que apontam e peles que guardam e aquecem, bem como as veias que carregam o sangue e irrigam a vida; tudo tem um papel e uma função, tudo é força vital; e a carne sagrada deverá alimentar a comunidade: é o repasto. Porque aquele animal é axé – força vital. Não imolamos para a divindade, imolamos para nós mesmos, como aqueles que vão à churrascaria para se alimentar sem nem pensar na vida daquele animal, nós fazemos diferente e a diferença, porque nossos ancestrais nos ensinaram a alimentação na, com e por meio do sagrado e nos alimentamos por meio por meio do rito, por meio de uma carne sã, por meio de uma carne honrada desde o momento de sua escolha até a sua preparação ritual, africana, ancestral e sagrada. Tudo será carinhosamente feito por nossas senhoras da cozinha africana no Brasil – nossas Iyabase. Mas a imolação deve ser justificada, a carne e todas as partes, mesmo antes de comermos, são apresentadas aos ancestrais como forma de dizer “cumprimos a tradição” e cantamos e celebramos a vida. Além das folhas de 1 dia, as folhas de 3 e 7 dias, dizem ao dia, à noite, aos caminhos, a Esu e a Ossoniyn que a carne imolada, que ele alimentou com suas folhas e com sua vida, também alimentou o corpo e o Orí de todos da comunidade. Agradecemos (…) Dizemos que a imolação não foi por vaidade, quantidade ou vã. E por isso, cantamos cada folha, para que a própria natureza entenda e aceite o rito, para que a natureza faça efeito e nos beneficie com sua força vital. Porque, quando imolamos um animal, sacrificamos parte de um eu-nós-natureza em nome do bem comum. É o ciclo da vida que se realiza. Paz e bem!

Crédito
Sávio Assad OmoaYe

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