Quem te representa? O episódio, deputado Marco Feliciano não é um fato isolado.

Quem te representa? O episódio, deputado Marco Feliciano não é um fato isolado.

Aos 50 anos já aprendi algumas coisas nesta vida. Uma orientação que me imponho, é de não formar opinião ou tomar decisões imediatas sobre tensão ou temas polêmicos.

Sobre a badalada eleição do deputado Marco Feliciano (PSC-SP), para a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, me recolhi ao silêncio obsequioso por algumas semanas, observando, lendo, ouvindo e coletando informações que me ajudassem, no meio deste turbilhão que se transformou a eleição da presidência da CDH da Câmara Federal.

E o que eu formei de opinião, sobre este tema, me causa grande preocupação e gostaria de dividir com vocês do Blog, meus irmãos de fé e amigos.

O uso da influência e da liderança religiosa por suas lideranças não é um fato novo no Brasil e nem no exterior. Ocorre que no nosso país, este fenômeno é de maneira ordenada, coordenada, com uma declarada finalidade de, aumentando representações nas três camadas legislativas e executivas, uma bancada evangélica imponha e influencie politicamente em temas que não são alinhados às suas orientações religiosas. Como maior exemplo desta afirmação, cito, a criação em 2003 da Frente Parlamentar Evangélica, que agrupa os parlamentares evangélicos, dos diversos partidos e estados no congresso.

Na última eleição para o congresso, em 2010, a bancada evangélica cresceu 50% em relação à votação de 2006. Igualou o número ao PSBD, dividindo a terceira colocação e perdendo, apenas pata PT e PMDB.   http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,bancada-evangelica-no-congresso-cresce-quase-50,622384,0.htm   De lá para cá, a configuração dos partidos mudou, com a troca de legendas e criação de novas siglas, mas o fato relevante, que chamo atenção, é que esta bancada, hoje é formada na Câmara Federal por 77 deputados, 14% e 4 senadores, 5%.  Portanto, esta bancada é maior que a do estado de São Paulo, estado mais populoso da federação, que segundo cálculo de representação federativa, tem direito a 70 deputados. A título de curiosidade, Minas Gerais e Rio de Janeiro tem direito a 53 e 46 deputados federais, respectivamente. E como cada estado tem direito a 3 senadores, que representam o estado no congresso, podemos perceber que a Bancada Evangélica também é a maior no Senado da República.

Vejam bem! Esta bancada tem maior representação no congresso, do que o maior estado da federação. E este bloco é unido, o mesmo não ocorre com os estados, onde os eleitos são divididos por vários partidos e tendências políticas, conforme a votação local.

Com este peso, é claro, que dentro do jogo político de divisão cargos, comissões, ministérios e representações, este grupamento vá ter direito as suas fatias da engrenagem do poder.

Foi o que ocorreu na CDH. Na divisão das Comissões no congresso, em acordo com a maioria dos partidos, sobrou para o pequeno PSC a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. Não é uma Comissão que tenha muitos recursos e cargos, mas tem o papel importantíssimo de zelar e lutar pelos direitos do ser humano, contra discriminação de qualquer tipo e zelar por minorias, difundindo os preceitos constitucionais de um Estado Laico e do respeito às diferenças.

E por um “descuido” do Congresso o deputado-pastor Marco Feliciano foi eleito presidente desta Comissão que, acordada, na Câmara, foi entregue ao partido que Feliciano é filiado.

Desta parte, em diante nós já sabemos o que ocorreu. Descobrimos que temos um religioso fundamentalista, racista e homofóbico na presidência da CDH. Que usa das prerrogativas do mandato para expor suas idéias medievais. A partir desta eleição, veio toda reação da sociedade organizada contra suas posições e a contradição que representa um deputado com estas opiniões na Comissão.

Notei que na reação contraria a Feliciano, destacaram-se o movimento negro e contrário à homofobia. Contra a perseguição às religiões de matrizes afro, pouca coisa organizada.

Como sempre, desorganizados, nós operamos isoladamente. Faltam às religiões de matrizes afro, coordenação, união em torno da causa. Já sofremos com a perseguição e o fundamentalismo há muitos anos e tenho certeza que o nosso sofrimento vai se agravar, se não nos unirmos em defesa de nossos valores e da liberdade de culto, como garante a constituição.

Levo ao debate, neste espaço, a oportunidade urgente de uma mobilização nos níveis regionais entre Espíritas, Candomblecistas e Umbandistas, para a formação de Comissões ou algo parecido, que agrupe o discurso e as ações contra aquilo que já deixou de ser uma ameaça. Eles estão organizados e o discurso sectário de nos demonizar vai se intensificar. Corremos o risco de perdermos direitos conquistados no congresso e por luta de nossos antepassados. Devemos isso a nossos ancestrais e às novas gerações, que tem medo e vergonha de declararem sua fé.

Também levo ao debate, que nossas lideranças, a partir de sua organização, formem quadros para concorrerem às eleições federais e municipais. Precisamos entrar no jogo! Em quem votamos? Quem nos representa? É hora de união e humildade para formarmos candidatos com capacidade e competência de enfrentar o inimigo declarado, no voto e na tribuna. Nomes não faltam. O que nos falta é união e ação.

Fontes: Estado de São Paulo, O Globo, Folha de SPaulo, Veja, Luiz Nassif e Sites da Câmara Federal e Senado.

Waldyr Lima.

Jornalista e Candomblecista

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