Seria o Candomblé o lugar de vítimas, fracos e oprimidos? Ou quando aceitamos as vestes do opressor.

SERIA O CANDOMBLÉ O LUGAR DE VÍTIMAS, FRACOS E OPRIMIDOS? OU QUANDO ACEITAMOS AS VESTES DO OPRESSOR.

Tenho pensado e conversado muito com meus pares sobre “fazer parte do Candomblé”, sobre “ser do Candomblé” e sobre os equívocos semânticos que alguns assumem como sendo do Candomblé, mas, na verdade, não o são.

Ao contrário do Cristianismo, não temos um messias e uma crença que nasceu da culpa e dos culpados. Não temos um messias que morreu para nos libertar, não estamos no Candomblé por missão ou para sofrer, por redenção, evolução espiritual ou para pagar os nossos pecados.

Uma crença que nasce da, com e por meio da escravidão não pode, hoje, e não poderia, à época, reproduzir os valores do seu algoz. Sendo assim, o que o Candomblé sempre quis e deveria continuar querendo era integrar, acolher e, sobretudo, desfazer as voltas dadas na árvore do esquecimento. Por meio dele – do Candomblé, os negros poderiam lembrar-se e celebrar juntos a sua história, a sua ancestralidade e as crenças que lhe foram, cruelmente, arrancadas.

Estratégias foram usadas para a manutenção de uma cultura, de uma História e de uma língua, autenticamente, africanas e começava, ali, um movimento de reelaboração de uma África ancestral no Brasil que hoje chamamos de Candomblé, Batuque, Xambá, Omolokô, Xangô de Pernambuco, Nagô Egbá e outras denominações pelo continente Brasil afora.

Entretanto, o algoz também tem suas armadilhas. O sistema as tem e, por isso, precisamos estar atentos. Há uma indústria de manutenção de poder dos conquistadores e daqueles que ainda querem nos aprisionar. E, equivocadamente e sem perceber, começamos a vestir as vestes do algoz. Um algoz atemporal surge e esse é o mais perigoso e poderoso.

Roupas caras, valores abusivos, rituais rebuscados, inovações e sacerdotes transformados em “Capitães do mato” ou em “Jesuítas opressores” começam a surgir e o valor da identidade africana começa a se esvair e perder o valor frente à necessidade de se tornar rebanho em uma outra igreja qualquer.

Uma prática criada para integrar e acolher começa, ao assumir os valores do algoz, a repelir e criar medos e ojeriza porque seus líderes não pensam sobre as próprias práticas e não sabem o valor e a história daquilo que, em tese, deveriam praticar.

O que deveria ser libertador, lamentavelmente, torna-se opressor.

Mas o Candomblé nunca foi e nunca deveria ser o lugar de fracos, oprimidos e vítimas. Ele é e sempre foi o lugar dos fortes. Por isso, ninguém está nele em buscas de milagres imediatos e do lado de fora porque sabem que o verdadeiro milagre é ancestral e está em uma só palavra “resistência”.

E, se queremos falar em pecado, alguns líderes do Candomblé têm cometido o mais grave de todos: aceitar as vestes do opressor como suas e começar a vestir seus pares com elas.

 

Fonte: Página “Olhar de um Cipó”

https://www.facebook.com/olhardeumcipo/photos/a.492232014152296.105409.458700457505452/915502648491895/?type=1&theater

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