Transexualidade e Cargo de Santo
Assunto em voga atualmente, a transexualidade tem sido discutida e veiculada na mídia sob diversas abordagens. Recentemente, foi ao ar em canal aberto de grande visibilidade, uma reportagem sobre uma criança nos EUA que desde muito cedo não aceitava seu sexo de nascimento e dizia aos pais que estava no corpo errado. Diante da afirmação insistente do “menino”, que tinha um irmão gêmeo, os pais resolveram buscar orientação de profissionais da área de saúde. Ficou constatado que era um transexual MtF (do inglês, Male-to-Female, masculino para feminino). A criança passou a ser tratada como sendo do Gênero feminino, e toda a família passou a ser assistida por um grupo de profissionais para lidar com a situação em sociedade.
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) transexualidade é a condição considerada como um tipo de transtorno de identidade de gênero. Homens e mulheres transexuais experimentam uma sensação de desconforto com seu sexo anatômico, passando a adotar socialmente o gênero almejado. Existe uma corrente científica que defende à tese de que o sexo é definido previamente no cérebro, uma vez que o sistema neurológico é o primeiro a ser formado em nosso corpo, e posteriormente, é formado o sexo anatômico. O que acontece no caso dos transexuais é uma discrepância entre a formação neurológica do sexo do indivíduo e a formação anatômica. Ou seja, “é a cabeça de uma mulher presa no corpo de um homem” e vice-versa.
O Candomblé é religião que naturalmente acolhe minorias e procura aceitar o indivíduo tal como ele se apresenta, sem a necessidade de “conversão” a determinados juízos de valor ou “ajustamentos sociais” (desde que não agridam a sociedade ou infrinjam a lei, claro!). É, também, uma religião com hierarquia e códigos muito particulares. O egbé (comunidade) do Candomblé tem para cada adepto o seu lugar próprio, ninguém fica aleatório dentro desse amálgama humano. Homens e mulheres tem funções muito bem definidas, pontuadas, não sendo permitido que determinadas funções estabelecidas para homens sejam exercidas por mulheres e vice-versa. Por exemplo: o cargo de ogan, é para homens e o cargo de ekédis para mulheres. Mas, e o transexual no Candomblé? Se ele(a) tiver cargo de santo? Aproveitando o exemplo dado anteriormente de ogan e ekédi, se uma mulher transexual tiver tal cargo? Será ogan ou ekédi? Seu sexo de nascimento é masculino, mas sua identidade (gênero) feminino. O que fazer? Partindo da premissa de que o Candomblé aceita a pessoa com seus sonhos, idiossincrasias, particularidades, neuroses, enfim, na condição que se apresenta, a meu ver, uma mulher transexual deverá ser ekédi. Uma vez que ela se vê desconfortável com seu sexo de nascimento e não se aceita em tal condição. Por que nós (que prezamos o princípio da individuação criado por Jung) iríamos agredí-la com um cargo de santo para homens? Nossos Orixás não tem sexo e compreendem mais do que qualquer ser humano as nossas necessidades. Um cargo de ogan ou ekédi, antes de mais nada, é dado por um Orixá. Creio que essa energia linda que são os Orixás, jamais iriam agredir um indivíduo em um momento tão bonito e importante que é a concessão de um cargo. Os próprios pais da criança citada no início foram em auxílio das necessidades de sua filha, por mais que a situação tivesse lhes causado estranheza. Dentro da sua condição humana de pais, tiveram uma atitude divina, digna. Somos filhos de Orixás, se seres humanos puderam ter uma atitude tão sublime, quanto mais nossos Pais e Mães espirituais!
Axé, Claudia de Yemojá
Claudinha,
A questão realmente é delicada… Por um lado, temos o desafio religioso de respeitarmos a individualidade dos irmãos, tratando-os com caridade e sem preconceito; por outro, temos princípios igualmente religiosos da matriz africana, que nos levam a considerar a energia originária para a concessão e ocupação de cargos…
Realmente me questiono qual é a energia preponderante de um transexual, se a do seu sexo biológico, ou psicológico.
Ainda não tenho opinião fechada sobre isso. insisto que nossa Religião deve aprofundar os debates sobre o assunto. Inclusive, reitero que o programa Ori abrirá espaço para promover esta discussão em alto nível.
Só para colocar lenha na fogueira, lembro que o cargo de iyawo (noiva, noviça iniciada para o Orixá), era um cargo exclusivamente feminino na África e hoje pode ser ocupado por homens…
Abraço.
Ótimo texto Cláudia !!!
Fico feliz com suas considerações Márcio!
Tomeje virei sua fã.
Laylah
Laylah seja bem vinda.Nós ficamos sinceramente muito felizes como debate e achamos que ele deve ser público, que as Casas de Axé precisam discutir o tema e achar suas próprias soluções para ele. Mas o que não podemos é ficar calados. Estamos a sua disposição para publicação de textos pertinentes ao tema, esteja a vontade. Grande axé, Tomeje.
Sim o assunto merece atenção e fico feliz por vcs se preocuparem.
Existe uma carência de informações sobre transexualidade e acredito que seja isso que resistência em alguns.
Infelizmente algumas pessoas transexuais que eram adeptas da Umbanda e do Candomblé abstraíram a religião de suas vidas pelo fato de alguns sacerdotes determinarem como errado e ponto final, um assunto que ainda nem é tão esclarecido até mesmo pela ciência.
Cresci acreditando que Orixás são forças benéficas que querem o melhor para seu seguidores e não fazem acepção de pessoas,Orixás não escolhem raça, rico, pobre,sexualidade,nacionalidade, sábio,etc.
E ainda acredito!
Luz na mente e Paz na Alma de todos nós !!!
Márcio de Jagun
Estive lendo o artigo que você escreveu. É muito rico. Retrata a mais pura realidade
que vivemos no axé. Parabéns.
Alva o Pai Marcio está em viagem e bastante atarefado no momento, ms em breve ele virá ao blog para te responder pessoalmente. Grato pela visita, axé, Tomeje.
Concordo totalmente com o que foi dito pelo texto! Axé!
bom… não entendo porque um assunto tão atual.. e que realmente existe, para no meio de um debate… me perco as vezes por não conseguir chegar a conclusão alguma. dificil saber onde os transexuais se encaixam… sei que não existe regra… mas também, não existe esclarecimento sobre o assunto. dificil ter uma vida social feminia, e religiosa uma vida masculina e vice versa… seria contra sua essencia . sua energia.. seu eu. não tem como viver uma religião que não faz bem . (crer que sejam errados) … não vejo que o transexual simplesmente decidiu entrar na religião ou obter um cargo por simpes fato de querer… sim creio, ser encaminhado a um destino pre determinado… enfim… conheço muitas que se perdem por não se encontrarem . axe a todos
Sthefany, bem-vinda. Realmente, este é um assunto tão atual, porém, pouco discutido dentro das Casas de Axé. Precisamos buscar cada dia mais nos informarmos e debatermos essa questão. Axé! Cátia.
Sou transexual, abian… É bastante delicada a convivência e fundamentos em determinados momentos. Seria realmente muito bom, se os iles ase discutissem mais sobre…
Tyler, seja bem-vinda. De fato, é uma questão complexa, pois o Candomblé foi organizado tendo como valores a referência masculino x feminino num momento histórico em que não havia transexual, porém, já havia o homossexual, que sempre foi aceito e respeitado pelas Casas. Pensando desta forma, creio que o Candomblé precisa rever os seus valores, não os seus dogmas, e aceitar que o mundo à sua volta mudou, parar de pensar que é uma ilha e se abrir para as questões mais modernas. Se você não estiver sendo feliz na Casa que frequenta ou estiver sendo discriminado, sinceramente, não deixe as coisas chegarem a um ponto sem retorno, conversa com o responsável e busque ajuda para resolver isso. Axé, Tomeje.
Boa noite
A homossexualidade sempre foi aceita nos terreiros , mas não desreipeitamos os dogmas, os fundamentos, inclusive sou uma homossexual, mas dentro do ase nunca deixei de usar saia, pano da costas e oja. Não sou contra os transsexuais porém temos que ter a consciência e decência em relação a isso. Se a pessoa veio no sexo masculino não vai deixar de ser masculino e vice-versa. A religião afro-brasileira ” já está tão bagunçada, sem rumo,sem ensinamentos,sem referências e o pior um grande comércio de dinheiro, favores e poder. A casa de ase é pra acolher,ajudar e principalmente no espiritual, mas acho que devemos também respeitar tudo aquilo que os mais velhos nos ensinaram e ensinam, os fundamentos trazidos dos nossos ancestrais.
Seja vem vinda Andressa, sobre esse tema a minha posição/convicçãocontinua a mesma. Hoje saiu uma pesquisa que mostra um aumento dr mais de 100% nos registros de alterações de nomes por pessoas trans. Isso significa que não estamos tratando de sexo ou preferência sexual, mas de um tema bem mais complexo que o direito de ser reconhecido(a) de acordo, não com o seu genero de nascimento, mas o gênero em que a pessoa se reconhece. Isso é um avanço da sociedade. A pouco tempo o Papa Francisco disse que ” não é crime ser homo ou trans”. Um grande avanço para o catolicismo. Porem em muitas áreas da sociedade ainda há preconceito e discriminação, a ponto de o Brasil ser o país que mais mata trans, no mundo. O pensamento social demora muito para mudar e nas religiões de matriz afro não seria diferente. Mas minha certeza contonua a mesma, principalmente por que entendo que são situações bem diferentes entre o homossexual e o transexual. Por isso, penso que, não é adequado querer exigir que uma mulher trans se vista com roupas masculinas e vice versa para ” não ofender” a religião. Tenho como certo que, nessa situaçao, o trans, deve ser acolhido em sua totalidade, incluindo o seu direito de ser respeitado assim como todos os demais membros de uma casa de axé. Na minha experiência de ja ter tido um filho trans na casa. O acolhimento tem muito haver com respeito. Os orixás, me parecem, muito mais modernos do que nos imaginamos. E aceitam seus filhos da forma como esses são. Mas isso não significa mudar dogmas. Algumas questões internas da religião continuam intocadas. Mas essa situação de vestimentas, eu entendo que não muda nem descaracteriza a religiao. Se trata apenas de respeito ao outro. Axé e felicidade e obrigado pela conversa. Tomeje.
Cláudia,
Parabéns pelo texto, penso exatamente como você . Em minha Casa cuido de pessoas de todas as opções sexuais, inclusive, transexuais que, na minha visão, e sem preconceito algum, participam ativamente dentro da hierarquia e cargos dentro de uma casa de candomblé.
Vale ressaltar, que no culto a Nanã em algumas cidades na Nigéria, homens para participar tem que usar roupas femininas em submissão e respeito ao poder feminino, inclusive não há preconceito quanto aos homossexuais. Em Oyó no culto a Xangô, o elegun de Xangô é homem e independe de sua opção sexual.
Adupé, Mo juba.
Fernando D’Osogiyan
Muito obrigado meu irmão, pelo carinho e pela sabedoria. Axé, Tomeje.
Acho q o assunto não evoluiu muito,não vejo movimentação por parte do Candomblé em dissolver esse assunto.
O assunto é atual,mas transgêneros sempre existiram,talvez não tenham tido visibilidade por conta de repressões sociais e religiosas patriarcais.
Sempre procuro na internet textos sobre identidade de gênero e Candomblé e não encontro,sempre paro aqui,rsrs
Sim,muit@s se perdem por não se encontrarem,se no universo religioso o tema não avança,entre pessoas transgêneras o assunto se organiza e fortalece,dificilmente veremos adept@s do Candomblé trans*,de um lado pq os sacerdotes não se abrem ,do outro pq pessoas transgêneras dificilmente aceitarão ter q usar vestes ritualísticas e ter comportamentos divergentes ao gênero com o qual se entendem.
Tenho pesquisado mesmo,vi mais flexibilidade na Umbanda,apesar de algumas superstições sobre gêneros de médiuns e entidades(o Exú incorporado em uma mulher que não aceita suas vestes ou acessórios femininos,por exemplo).No culto a Ifá se a homossexualidade já é tabu,imagina a transgeneralidade!?
Sempre acreditei na inclusão dentro das religiões afro,hj já não tenho tanta certeza,me parece q a organização não aconteceu por gêneros(homem x mulher),mas em heranças judaico-cristã,patriarcais que limitam o ser humano em gêneros,ma maioria das vezes sobrepondo o masculino.Aliás sempre tenho essa duvida:Até onde essa herança judaico-cristã e patriarcal influência o Candomblé?
Enfim,espero por dias melhores,onde gênero e identidade de gênero não dividam pessoas,não afastem pessoas de Olorum!
Bjs Márcio e Tomeje.
Querida Laylah, tenho absoluta certeza que se ficarmos esperando, o Candomblé nunca vai se abrir para este assunto, existem regras, normas e ritos que são, realmente, incompatíveis com o tema, porém, a discussão deve passar muito acima de normas, regras e ritos, ou de incompatibilidades, deve privilegiar a pessoa. Por outro lado, a religião também não pode sofrer alterações que a descaracterize. É uma discussão longa e que eu acho que tem que ser imposta à religião. Se ficarmos esperando a boa vontade, nunca vai acontecer. Estamos dispostos a publicar mais textos seus e levar esse assunto à nossa comunidade religiosa. Realmente não tivemos um debate, mas tivemos muitos acessos ao texto, e isso é importante. Axé, o convite está feito. Tomeje.
Bom dia Tomeje!
Desculpe-me a demora em responder,ando com a vida corrida.
Minha preocupação é que muitas vezes a religião é a única coisa que resta na vida de uma pessoa trans,já que são excluídas do convívio social,profissional e familiar.
Ñ acredito que seja preciso uma “guerra” pra mudar o alicerce do Candomblé,sim a conscientização das pessoas sobre a transgêneridade,posso afirmar de dentro da situação que muitas vezes algumas pessoas se apegam á esse alicerce pra marcar ar conceitos pessoais.Fico triste q o assunto ainda ñ dissolvido e fico feliz por ver algumas pessoas se abrindo e interessadas.
Se houver algum debate conte comigo!
Obrigada!
Laylah, eu continuo esperando seus textos rsrsrsrs Também continuo achando que o caminho é botar o pé na porta e discutir o tema de frente, sem medos e sem pudores. Vamos escrever mais e falar mais? Estamos a sua espera. Asé, Tomeje
Boa noite
Frequento um centro de Umbandonble na cidade de Caldas Novas onde tenho uma Mãe de Santo transexual e todos os filhos da casa à chamam de mãe, Eu mesmo sou homossexual e incorporo Pomba Gira porque duzem que o homem heterossexual não pode incorporar uma entidade feminina nas os homossexuais podem. Tenho muitas perguntas sem respostas sobre esse assunto. Obrigado
Reginaldo seja bem vindo ao blog. Este tema é super interessante e suscita discussões que envolvem o social, o espiritual e os dogmas da religião. Penso que sua Yá é uma guerreira. Parabéns. Sobre o seu assunto em especial. Não existe isso de que só os homossexuais podem incorporar entidades femininas. Poderia listar aqui uma série de heterosexuais que incorporam entidades ou orixa femininos sem problema algum. mande suas dúvidas e até sugestão de temas para textos, serão bem vindas. Asé e felicidade, Baba Tomeje.
Sou uma mulher transexual (designada como do sexo masculino no nascimento, porém desde muito cedo sempre me identifiquei psicossocialmente como mulher), amo intensamente os orixás e guias espirituais assim como amo a umbanda e o candomblé.
Minha vontade de estar numa roda louvando o sagrado é imensa, cultuando nossos lindos orixás. Infelizmente nas casas que passei, não aceitaram jamais que eu entrasse pra casa e fosse respeitada da forma a qual me sinto respeitada. Mesmo antes de jogarem, questionarem aos meus orixás… O que me entristece muito!
Como posso eu ser impedida de cultuar minha crença, minha fé por conta de um cargo? Por conta de uma vestimenta? Fico imensamete triste ao ver pessoas na roda que nem ali queriam estar, que não entendem a grandiosidade do orixá, que estão por obrigação e não por vontade enquanto eu estaria feliz por estar ali, passando meu amor, respeito e devoção ao orixá, mas sou impedida por meros seres humanos por conta de uma simples vestimenta, medo do que irão dizer, achismos sem questionar…
Eu me cuido espiritualmente num grande terreiro aqui de Macaé, interior do Rio de Janeiro. Com muita dificuldade consegui realizar um jogo de búzios na casa (é muito difícil pois é uma casa grande e que não cobra nada, nem mesmo o jogo de búzios). No jogo de búzios tudo foi maravilhoso, meus orixás se mostraram, e nenhum problema, nenhuma quisila por conta de ser quem sou. A vovó que cuida de mim se preocupava do meu orixá não aceitar minha mudança, mudança essa que é apenas externa afim de refletir meu interior. Após o jogo a vovó disse que eu deveria ser eternamente grata aos meus orixás pois os mesmos me aceitam e respeitam porque sabem que sou verdadeiramente mulher de dentro pra fora.
Se os orixás e os guias entendem isso, por que é tão difícil para o ser humano entender? Por que é tão difícil que me permitam cultuar o sagrado se o sagrado me aceita? Por que é tão difícil entender que pra orixá o que importa é o amor, respeito e o zelo que entregamos a eles e não se somos homens ou mulheres, cisgêneros outransgêneros,gay, bi ou hetero, branco ou preto? Por quê?
O que me conforta é que a vovó disse que ainda encontrarei um lugar que quem toma a frente da casa irá me aceitar e me deixará zelar pelo divino. Adoraria encontrar logo esse lugar! Se algum babalorisá ou iyalorisá quiser conversar comigo, entender a questão ou que já entenda e respeite meu e-mail é cf_96@live.com.
Axé a todos!
Caroline seja bem vinda ao blog. Este assunto já debatido por nós no programa Ori e foi um tema que nos emocionou muito por que revela contradições e problemas profundos na nossa religião. Vamos discutir um pouco. Há dogmas e restrições e preceitos na religião que não podem ser mudados, portanto, se vc se predispõe a entrar para esta religião vc deve também se adequar a estes dogmas, preceitos e restrições, mas a religião é viva e precisa compreender que hoje temos questões muito mais complexas que há 200 anos atrás. Vc nasceu homem, correto? Então liturgicamente vc sempre será homem, depois de sua morte no seu axexe será chamado o nome e o sexo pelo qual vc veio ao mundo, isso é dogma. Mas isso influencia alguma coisa no hoje? Não! Em nada! Vc nasceu homem, e se vc fosse ou for ogan isso exigirá certas adaptações e aceitações de ambos os lados, vc não poderia ser confirmada como ekedji, seria confirmada ogan, isso é dogma. Mas na sala no dia a dia vc poderia desempenhar o papel de ekedji até certo limito litúrgico. Vc estaria disposta a isso? Afinal a religião, como eu disse é viva e precisa se adaptar, mas vc também teria que ceder e compreender que não basta amor e fé, é preciso manter a religião, certo? No caso de vc ser rodante, independente do orixa, que diferença existiria em vc ter nascido homem ou mulher e ter se adequado a sua realidade de gênero? Nenhuma. Vc receberia seu orixa da forma, como qualquer outra pessoa. Então eu não compreendo por que o por que das restrições e preconceitos que as casas tem contigo. Não gosto quando falam que vc tem sorte do orixa te aceitar assim ou assado. Orixa aceita e ponto final. Orixa não é punitivo.
Tenho uma irma de santo em Macae, se vc quiser posso te indicar pra jogar com ela se ela me permitir. Asé e felicidades. Baba Tomeje.
Boa noite motumbá!Tenho uma filha iniciada do Ogum,é lésbica,veste baiana tudo direitinho,sempre seguiu o ritmo da casa,agora se diz trans,quer se masculinidade,ok mas agora depois de quase 3 anos de feita não concordo com essa história de ir pra roda de calça e camisu,nada haver falei pra ela que a continuarei a amar no amor do orixá que nada vai mudar só que é uma situação complicada hj ela dentro da casa de axé querer que se aceite essa.mudanca radical o que vc podem compartilhar cmg!Como sabemos é algo novo ,o candomblé acolhe e abraça sempre,mas e os princípios de nossos ancestrais fica como.nâo é preconceito pelo amor do Orixá mas imagina se todo mundo que se acha nessa condição somar de mudar o guarda roupa !!por favor dêem.suas opiniões e obrigado
Alessandra, seja bem vinda. Eu tenho uma posição definida sobre o assunto, já debatemos este tema no programa de rádio com vários entendimentos sobre o assunto. Mas eu pedi que meu Pai Marcio de Jagun nos dê o seu entendimento também, ok? Mas eu vou voltar aqui e vou me posicionar também, ok?? Axé e felicidades. Em breve vou postar o comentário do meu Pai.
Alessandra, conforme prometido, segue a resposta do meu Pai Marcio de Jagun.
Boa tarde, filho! Motúnbá!
Segue minha resposta:
Cara Alessandra, motúnbá!
O Candomblé, como qualquer outra religião, foi organizado com base em protocolos procedimentais e normas. Algumas dessas regras são pautadas em fundamentos filosóficos e outras em códigos morais da sociedade.
Os padrões estruturados na filosofia que alicerça a religião, não são alterados. Contudo, padrões que acompanham o conceito moral são alterados com o tempo.
Entendemos que a religião deve prezar pela inclusão e pelo respeito à individualidade. Penso que este processo de reflexão está sendo gradativamente feito.
Um grande abraço e muito àṣẹ!
Márcio de Jagun
Boa noite, Sou uma Iyá e mulher trans, e fico muito feliz em ver esse tipo de texto.Porque, quando foi feito a consulta la atras para eu saber meus caminhos ,foi dito que estava para ser uma Iya e que deveria ser feito e cuidado com atençao.
Muitos na minha casa ficavam me olhando torto, falando por tras, e ate pensei em parar quando ouvi voce é homem porque esta vestida de mulher? sendo que tomava hormonios desde os meus 17 anos.Mas, em uma festa ,desceu minha Oyá e me chamou…e me abraçou e me fez entender que estava la por ela e nao por uma condiçao que nao me fazia parte, lutei e cheguei hoje estou.
O corpo nao pode ser mais importante que o meu caminho diante dos orixas.
lamento por ver minhas irmas e irmaos trans que passam por essas coisas so para se sentirem em um lar.
Niara, seja bem vinda ao blog. Que bom que a sra chegou ao sua lugar e venceu o preconceito. O candomblé não é preconceituoso, nem pode ser. temos regras e hierarquias que norteiam a religião e devem ser seguidas sempre. Mas a religião é viva e se renova. Há algumas décadas homens não podiam ser iniciados Adoxu. Depois, quando passaram a ser iniciados Adoxu, não podiam ser sacerdotes. Quando foram reconhecidos sacerdotes………… e são sempre mudanças que a princípio causam estranheza mas depois tornam-se normais. Alguns casos muito específicos como Ogans e Ekejis são assuntos tabu e que não são consenso nas Casas Matrizes. Mas a religião é viva e acolhedora sim. Axé e felicidades sempre. Babá Tomeje.
Concordo que o debate deve ser amplo e realista. No continente africano (Nigéria, Benin…) o homoxessualismo é visto como crime e agressão às leis, muitas vezes resultando em pena de morte. Precisamos ir na origem da questão tendo o aspecto mítico-histórico sempre com grande relevância, afinal a Torá, a Biblia ou o Alcorão não vão mudar seus dogmas e regras que descrevem suas histórias milenares porque uma mulher trans ou um homem trans quer ser sacerdote… pois é disso que se trata a questão. Não é ser do camdomblé… é querer ser sacerdote (pai/mãe de santo), porque acolher gays ou homossexuais sempre foi uma prática natural.nos candomblés. Axé para todos.
Yalorixa Cláudia, seja bem vinda ao blog. Sua benção. Esse texto tem muito mais informações do que os olhos podem ler. Ele fala de um movimento crescente por reconhecimento e visibilidade de uma parcela considerável da população que está sendo invisibilizada por varios setores da sociedade e não querem nas além de terem os seus direitos reconhecidos.
Esse tema, na maioria das religiões, ainda gera discussões e incompreensões e preconceitos. Nossa religião já passou por vários momentos difíceis como por e exemplo a questão dos primeiros homens iniciados como adoxo e logo em seguida os primeiros homens com Casa aberta. Naquele momento isso era visto como uma impossibilidade, mas ao longo do tempo esse entendimento foi sendo modificado e hoje é normal e aceito na maioria das casas.
A questão específica do Grand, ainda é muito nova e não há consenso sobre o que pode e que não pode ser aceito. De fato, no caso de Ogans e Ekejis, há alguns impedimentos dogmáticos, concordo, mas no caso de um Yawo, eu não vejo nada que desabone uma pessoa trans de assumir a função sacerdotal. Mas também tenho muito claro que o sexo de nascimento é fundamental para algumas cerimônias importantes e sendo assim, a religião chegue a um consenso sobre o assunto e reconheça e pacifique o tema dos yawos trans, desde que o trans tenha a plena consciência de que a religião não mudará certos dogmas e liturgias que impõe o sexo de nascimento como referência.
Mãezinha, muito obrigado por esse conversa.
Axé e felicidades sempre. Babá Tomeje.
Ok. Não sei utilizar esta linguagem para publicação.