Transexualidade e Cargo de Santo

Transexualidade e Cargo de Santo

Assunto em voga atualmente, a transexualidade tem sido discutida e veiculada na mídia sob diversas abordagens. Recentemente, foi ao ar em canal aberto de grande visibilidade, uma reportagem sobre uma criança nos EUA que desde muito cedo não aceitava seu sexo de nascimento e dizia aos pais que estava no corpo errado. Diante da afirmação insistente do “menino”, que tinha um irmão gêmeo, os pais resolveram buscar orientação de profissionais da área de saúde. Ficou constatado que era um transexual MtF (do inglês, Male-to-Female, masculino para feminino). A criança passou  a ser tratada como sendo do Gênero feminino, e toda a família passou a ser assistida por um grupo de profissionais para lidar com a situação em sociedade.

Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) transexualidade é a condição considerada como um tipo de transtorno de identidade de gênero. Homens e mulheres transexuais experimentam uma sensação de desconforto com seu sexo anatômico, passando a adotar socialmente o gênero almejado. Existe uma corrente científica que defende à tese de que o sexo é definido previamente no cérebro, uma vez que o sistema neurológico é o primeiro a ser formado em nosso corpo, e posteriormente, é formado o sexo anatômico. O que acontece no caso dos transexuais é uma discrepância entre a formação neurológica do sexo do indivíduo e a formação anatômica. Ou seja, “é a cabeça de uma mulher presa no corpo de um homem” e vice-versa.

O Candomblé é religião que naturalmente acolhe minorias e procura aceitar o indivíduo tal como ele se apresenta, sem a necessidade de “conversão” a determinados juízos de valor ou “ajustamentos sociais” (desde que não agridam a sociedade ou infrinjam a lei, claro!). É, também, uma religião com hierarquia e códigos muito particulares. O egbé (comunidade) do Candomblé tem para cada adepto o seu lugar próprio, ninguém fica aleatório dentro desse amálgama humano. Homens e mulheres tem funções muito bem definidas, pontuadas, não sendo permitido que determinadas funções estabelecidas para homens sejam exercidas por mulheres e vice-versa. Por exemplo: o cargo de ogan, é para homens e o cargo de ekédis para mulheres. Mas, e o transexual no Candomblé? Se ele(a) tiver cargo de santo? Aproveitando o exemplo dado anteriormente de ogan e ekédi, se uma mulher transexual tiver tal cargo? Será ogan ou ekédi? Seu sexo de nascimento é masculino, mas sua identidade (gênero) feminino. O que fazer? Partindo da premissa de que o Candomblé aceita a pessoa com seus sonhos, idiossincrasias, particularidades, neuroses, enfim, na condição que se apresenta, a meu ver, uma mulher transexual deverá ser ekédi. Uma vez que ela se vê desconfortável com seu sexo de nascimento e não se aceita em tal condição. Por que nós (que prezamos o princípio da individuação criado por Jung) iríamos agredí-la com um cargo de santo para homens? Nossos Orixás não tem sexo e compreendem mais do que qualquer ser humano as nossas necessidades. Um cargo de ogan ou ekédi, antes de mais nada, é dado por um Orixá. Creio que essa energia linda que são os Orixás, jamais iriam agredir um indivíduo em um momento tão bonito e importante que é a concessão de um cargo. Os próprios pais da criança citada no início foram em auxílio das necessidades de sua filha, por mais que a situação tivesse lhes causado estranheza. Dentro da sua condição humana de pais, tiveram uma atitude divina, digna. Somos filhos de Orixás, se seres humanos puderam ter uma atitude tão sublime, quanto mais nossos Pais e Mães espirituais!

Axé,          Claudia de Yemojá

Fale Conosco